Polêmica entre usina de dessalinização e cabos submarinos tem o agravante do embate político

Discutida desde 2017, a usina está licitada e tem previsão de início de obras em 2024

Legenda: A polêmica, do ponto de vista técnico, parece ter pouca importância, mas as implicações políticas devem complicar a solução
Foto: Divulgação

No último dia 14 de agosto deste ano, esta coluna alertou que a usina de dessalinização a ser instalada na Praia do Futuro, em Fortaleza, tinha potencial para trazer um novo capítulo de disputas políticas. Além dos aliados do prefeito Sarto (PDT) e do governador Elmano (PT), porém, o caso está ganhando força com a mobilização de empresas de tecnologia por causa dos cabos submarinos que operam na mesma região.

No início desta semana, um evento promovido por uma entidade que congrega empresas de tecnologia, a Telcomp, e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mobilizou, de maneira surpreendente, pelo menos cinco deputados federais do Estado: Danilo Forte, Fernanda Pessoa e Moses Rodrigues (União), André Figueiredo (PDT) e Yuri do Paredão (Sem partido).

Porém, causou mais espanto ainda a presença do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que fez uma passagem relâmpago por Fortaleza para fazer um discurso comum, sem aprofundamento técnico no tema e, muito superficialmente, sem querer parecer contrário, fazer um contraponto à construção da usina de dessalinização.

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A reclamação das entidades de tecnologia é que a usina possa trazer riscos aos cabos submarinos já instalados na região. Fortaleza é, atualmente, o segundo maior hub do tipo no mundo.

"Qualquer situação que gere impacto deve ser profundamente discutida, analisada e avaliada para que busquemos construir juntos, por meio do diálogo, o melhor caminho para a preservação desse hub internacional que é Fortaleza”, disse genericamente o ministro.

A questão, que parece ter um pano de fundo técnico, na verdade só será solucionada por meio da política. De um lado, há um hub tecnológico que interessa muito à cidade e ao Brasil devido à conectividade. Do outro, há uma obra de garantia hídrica para atender 720 mil pessoas, segundo cálculos da Cagece. 

“Do meu ponto de vista, qual o risco de quebrar um cabo estando a 500 metros de distância? Zero. E no continente? Menos ainda. Nós estamos a 52 anos fazendo obras em todo o lugar e nunca quebramos um cabo de fibra ótica”, declara o presidente da Cagece, Neuri Freitas.

Segundo ele, a usina de dessalinização vem sendo discutida desde 2017 com entes públicos e privados para ouvir a todos os interessados. Os estudos, diz ele, chegaram à conclusão de que a Praia do Futuro era o local mais apropriado.

No meio de todo esse debate, há questões políticas que envolvem os embates entre o governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza. Essa polêmica, pode anotar, terá ainda muitos capítulos.

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