Os recados políticos de Cid Gomes na coletiva de defesa de Júnior Mano
Senador fez críticas políticas a aliados em mensagens cifradas e explícitas
A coletiva convocada pelo senador Cid Gomes (PSB), nesta quarta-feira (16), teve um roteiro formal: a defesa do deputado Júnior Mano (PL) nas investigações que envolvem o uso de emendas parlamentares. Mas, como é próprio do estilo de Cid, o encontro com jornalistas foi bem além disso.
O senador cearense transformou a ocasião em uma declaração com mensagens cifradas, e por vezes explícitas, para aliados e adversários, mirando diretamente o xadrez político de 2026. E, para os mais atentos, até a eleição de 2030.
O não abandono de aliados
Ao resgatar o princípio da presunção de inocência, elemento básico no discurso jurídico, Cid falou, na prática, de política. O senador tem no histórico o fato de não abandonar aliados no meio da tempestade, mesmo diante de investigações de alto impacto. Foi assim em outros momentos e voltou a ser agora.
Apesar de ressaltar que “não tem compromisso com erro de ninguém”, Cid fez questão de reiterar apoio político ao nome de Júnior Mano para a disputa pelo Senado. O gesto, além de simbólico, tem efeitos práticos: fortalece o aliado em meio à crise e impõe um recado para quem pretende tomar o espaço.
A operação da Polícia Federal, que jogou luz nacional sobre o caso, gerou ruído de que Júnior Mano estaria fora da disputa de 2026. Ao manter o apoio, Cid sinaliza que vai sustentar a indicação até o limite possível.
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Os recados para o alto comando governamental
Mais do que defender Mano, Cid usou a coletiva para puxar o peso político da investigação para si. Ao classificar a operação como fruto de “um milhão de interesses”, insinuou que os ataques têm como alvo sua própria liderança dentro do grupo governamental. E declarou que vai resistir.
"Eu não vou morrer fácil, não. Quem quiser me ver morto vai ter que suar muito porque eu não morro fácil. Não morro mesmo. Vou lutar até o último dia da minha vida", disparou o senador. A fala fprega um aviso aos que já articulam a formação da chapa majoritária de 2026, sem considerar os interesses do seu grupo.
Cid quer fazer valer a indicação, mesmo que não seja ele o candidato
Cid também revelou irritação com aliados que, ao defender seu nome para o Senado, enxergam Júnior Mano como um corpo estranho no jogo. “Uma outra banda (dos aliados) quer que eu seja candidato, numa ilusão de que eu não tenho. E, portanto, para essa outra banda não interessa que o Júnior Mano esteja em boas condições”, declarou.
Nos bastidores, o recado teve endereço certo: os setores do grupo que querem Cid na chapa, mas querem descartar Mano.
Gilmar Mendes no centro da disputa cearense
O senador também ampliou o debate ao âmbito nacional, ao citar o relator do caso no Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Segundo Cid, há vínculo político entre o ministro e atores da cena local. Ele se refere ao presidente estadual dos Republicanos, Chiquinho Feitosa, que também disputa a indicação ao Senado pelo grupo governista.
Na avaliação de Cid, a ligação familiar entre Gilmar e Chiquinho, são cunhados, deveria motivar o impedimento do ministro no caso. "Todo mundo identifica uma ligação do ministro Gilmar Mendes aqui com a política do Ceará. Isso, a meu juízo, recomendaria que ele passasse para outro ministro o processo. Era o que eu faria", disse.
As declarações do senador geraram mais, pelo menos, "um milhão" de interpretações nos bastidores.