O gesto e o jogo: os sinais por trás da foto do comando governista com Cid Gomes no Abolição

Demonstração de alinhamento acaba sendo recado para a oposição, mas também para aliados, num momento de antecipação do debate eleitoral

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
(Atualizado às 12:22)
Legenda: Imagem divulgada na noite de sábado agitou os bastidores e gerou especulações sobre possíveis acordos para 2026
Foto: Reprodução/ Redes Sociais

A foto do encontro reservado, realizado no último sábado (7), no Palácio da Abolição, foi praticamente o único conteúdo divulgado de uma reunião cheia de simbolismo político. Estavam o governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana, o senador Cid Gomes, o prefeito Evandro Leitão e o secretário da Casa Civil Chagas Vieira, nomes que integram o núcleo duro do poder estadual.  

A legenda falava em “ações e projetos para o Ceará”. Mas, nos bastidores, a imagem tinha o objetivo de passar outra mensagem: o grupo segue unido em torno da reeleição de Elmano e Cid está alinhado ao comando. 

A presença do senador do PSB foi a sinalização central da foto. Ele e Camilo Santana são amigos, mas a relação já viveu tempos melhores. Desde o fim do ano passado, algumas divergências foram tornadas públicas principalmente durante o processo de escolha do presidente da Assembleia Legislativa. Cid se insurgiu contra a indicação ao posto de Fernando Santana, muito próximo de Camilo. O episódio rendeu diálogos ríspidos entre os dois.  

Naquele momento, Cid também se indispôs com o governador Elmano. E, no fim das contas, a Presidência ficou com Romeu Aldigueri, que não era indicado do senador, mas seu correligionário. 

Mais recentemente, entretanto, Cid retomou diálogos e, publicamente, já reafirmou seu apoio à reeleição do governador petista em 2026. Eis que parece ser esta a certeza que se tira da foto: o nome do gestor à reeleição.  

Por que divulgar a imagem?

Mas por que havia a necessidade de o comando governista passar essa mensagem de união e integração de Cid? Por dois motivos principais: o primeiro é uma resposta à oposição que ocupou o noticiário político nas últimas semanas, com a presença de Bolsonaro e a integração oficial de Roberto Cláudio. A segunda, naturalmente, é a adesão de Ciro Gomes, irmão de Cid, à oposição. Mesmo rompidos, as aparições de Ciro junto ao bolsonarismo levantaram dúvidas nos bastidores sobre a posição de Cid. Ele mesmo tratou de tentar desfazer as suspeitas.

A montagem da chapa governista para 2026, sem sombra de dúvidas, vai passar pelo humor da relação entre Cid e Camilo, até para considerar as nuances que o cenário nacional possa vir a oferecer para facilitar ou dificultar a articulação local.  

Se a reeleição do governador é ponto pacífico, a montagem da chapa, entretanto, está longe disso. Camilo e Elmano querem Cid candidato à reeleição. Ele resiste. A insistência do senador pelo nome de Júnior Mano ainda é tratada com cautela pelos aliados, mas acaba entrando na lista de pendências que se arrastarão até o próximo ano.