Maranguape ocupa as manchetes nacionais como símbolo da violência

Bucólico município cearense registrou 87 mortes violentas em 2024, o que revela a falência das políticas públicas

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
(Atualizado às 13:36)
Legenda: Liderança no triste ranking de violência é uma mancha na história da pacata cidade cearense
Foto: Aprece

Conhecida nacionalmente por ser a terra natal do humorista Chico Anysio, cidade de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, foi alçada aos holofotes da mídia nacional não por seus talentos ou belezas naturais, mas por liderar um triste ranking: é o município com mais de 100 mil habitantes mais violento do Brasil.  

Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública e apontam uma taxa alarmante de 79,9 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes em 2024, um número incompatível com a imagem de cidade pacata e bucólica que ainda povoa o imaginário dos cearenses. 

O dado escancara falhas estruturais na segurança pública, mas também na gestão do próprio município. Em uma cidade onde 87 pessoas perderam a vida de forma violenta em um ano, é impossível dissociar a tragédia da ausência de políticas públicas consistentes para conter o avanço do crime, sobretudo no que diz respeito à geração de emprego e renda, à oferta de atividades culturais e ao lazer para a juventude.

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A disputa entre facções criminosas que se alastram e são consideradas a causa do caos em Maranguape não encontra resistência institucional suficiente, nem no campo da repressão, nem da prevenção.

Prefeitura reage aos números

A Prefeitura, sob comando de Átila Câmara (PSB), diz ter adotado medidas reativas, como a criação de uma Secretaria Municipal de Segurança e a implementação de programas sociais. O prefeito foi às redes sociais, inclusive, para contestar os dados e relativizar a estatística.

No entanto, os números que colocaram a cidade no topo do ranking refletem anos de negligência e falta de políticas públicas eficientes. A violência em Maranguape não nasceu ontem, e os investimentos anunciados até aqui ainda parecem insuficientes diante da magnitude do problema. 

O crescimento da criminalidade organizada na cidade acaba favorecido pela falta de oportunidades, juventude desassistida e ausência de poder público nas áreas mais vulneráveis. Enquanto isso, uma população sofre, e Maranguape, que já deveria estar estampando manchetes pelos bons exemplos, virou vitrine de um fracasso coletivo.  

É hora de compensar o papel do município, que não pode mais se limitar a terceirizar a culpa. Segurança também faz com escola, emprego e dignidade. E nisso, a responsabilidade é de todos.