Após assumir comando do PDT no Ceará, Cid Gomes parece estar ainda mais isolado

Atualmente, Cid tenta reconstruir um grupo que se desfez na eleição do ano passado. Os últimos passos, porém, deixaram mais dúvidas do que certeza

Foto: Kid Júnior

Na reta final da pré-campanha eleitoral de 2014, em sua sucessão, o então governador Cid Gomes (na época, filiado ao PROS) deu um nó na cabeça de boa parte dos líderes do seu amplo arco de aliança ao promover Camilo Santana (PT) como candidato ao governo do Estado. A indicação de um nome que estava fora dos holofotes naquele momento desagradou a uma parte dos aliados, mas ninguém ousava questionar as articulações políticas e as decisões do então governador. 

A tendência, naquele momento, era que o candidato fosse indicado pelo PROS, partido do governador, mas a jogada política de Cid acabou levando um petista ao comando do Estado.

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A estratégia só ficou clara depois: o maior adversário do grupo governista naquele momento era Eunício Oliveira (MDB), um aliado histórico do presidente Lula. Só um petista candidato ao governo faria o então ex-presidente não reforçar o palanque de Eunício, até então favorito ao comando do Executivo. 

A jogada era arriscada. Camilo era deputado estadual, mas até então desconhecido da maior parte da população cearense. A estratégia, entretanto, deu certo. Camilo acabou eleito ao governo do Estado. 

A digressão é apenas para relembrar o tamanho do poder e da força política que Cid exercia frente a um amplo arco de alianças com lideranças de diversas regiões e perfis.  

Pois bem, o tempo passou. As peças se moveram e, agora, Cid Gomes, presidente estadual do PDT, tenta resgatar a coesão do grupo político após a hecatombe de 2022, quando a aparente tranquilidade no grupo político deu lugar a um racha difícil de ser revertido. 

O senador está no olho do furacão de uma disputa que envolve família, política e interesses individuais. Não se põe em xeque, pelo menos por enquanto, a capacidade de articulação e de liderança de Cid. Entretanto, os fatos mostram que ele está diante, provavelmente, do seu maior desafio político, cujo desfecho é difícil de ser positivo. 

Após se afastar do processo de definição do candidato do PDT ao governo do Estado no ano passado, por discordar do rompimento entre PT e PDT que a indicação de Roberto Cláudio iria impor, Cid deixou os liderados do PDT jogados à própria sorte. 

Ao fim, o resultado das urnas mostrou que a tese do senador, de não romper a aliança com o PT, estava certa. Entretanto, o fato de ele ter se afastado do processo acabou deixando sequelas que ele, agora, tenta tratar. 

Passado o período mais traumático, Cid encorajou pedetistas a manterem a aproximação com o PT de Elmano e Camilo Santana e se apresentou para disputar o diretório estadual pedetista. O desfecho da articulação, porém, parece não ter sido o esperado. 

Além da oposição de membros do diretório do PDT em Fortaleza – ainda reflexo da eleição passada -, o senador desagradou o grupo pedetista mais ligado ao governo do Estado e ao presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão. 

Embora tenha alcançado o objetivo de chegar ao comando do PDT no estado, Cid Gomes parece ter ficado isolado, ao sacramentar um acordo com o deputado federal André Figueiredo, presidente estadual do PDT, que se licenciou do cargo para passar o comando ao correligionário. 

Nos bastidores, fontes desta coluna que são próximas do senador reconhecem que o distanciamento do irmão Ciro Gomes, um dos efeitos da eleição passada, incomoda profundamente o parlamentar. O entrevero pessoal também tem peso político. 

Só o tempo dirá que tipo de liderança Cid vai exercer no grupo político nos próximos anos, mas o que está certo é que a chance de não alcançar o objetivo é bem considerável. 

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