Antes de deixar o governo do Estado no último dia 2 de abril, o ex-governador Camilo Santana comandou uma estratégia de fortalecimento do seu partido, o PT, que resultou na filiação de ao menos 12 prefeitos, três deputados estaduais e outras lideranças que não têm mandato, mas saem com certa força para a disputa nas urnas. O movimento de Camilo, atípico para o petismo, pegou alguns aliados de surpresa e fortaleceu a legenda para o embate nas urnas.
Desde que assumiu o governo do Estado, em 2015, Santana enfrentou momentos de dificuldade internamente por conta das dissidências dentro do PT em relação à ampla aliança que sustentava o governo liderado por ele. Camilo era visto por alguns correligionários como sendo mais próximo dos irmãos Ferreira Gomes do que do próprio partido.
Principalmente na Capital, os maiores grupos petistas são rompidos com o PDT desde a eleição do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio.
A liderança com mais visibilidade neste contexto é a ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins. Tanto que, mesmo com a aliança estadual, o partido teve Luizianne como candidata em 2016, contra Roberto Cláudio, e em 2020, contra José Sarto, mesmo com o governador tendo tentado fazer articulações.
Start na estratégia
Pois bem, perto de encerrar seu mandato com popularidade em alta, Camilo resolveu agir para fortalecer o seu grupo político. O primeiro movimento foi a filiação de 12 prefeitos de diversos partidos ao PT. Assinaram ficha de filiação ao partido, na oportunidade, gestores do PDT, PL, MDB e Republicanos, por exemplo.
O movimento fez com que o número de gestores municipais do partido desse um salto de 17 para 29 membros no Ceará, o segundo maior número de prefeitos, atrás apenas do PDT.
Posteriormente, a ação do ex-governador foi na Assembleia Legislativa. Até então com quatro deputados eleitos, o partido saltou para 7 membros, com as filiações de Júlio César Filho, Augusta Brito e Nizo Costa.
Membros do partido acreditam que, devido ao fortalecimento da legenda e à chegada de novos filiados, o PT poderá eleger até nove deputados estaduais no próximo ano.
Além de políticos com mandato, algumas lideranças se filiaram ao PT após articulação de Camilo Santana. Uma delas foi a advogada Juliana Lucena, pré-candidata a deputada estadual. Ela é filha do prefeito de Limoeiro do Norte, José Maria Lucena.
Um grupo interno no partido, mesmo em minoria, ensaiou uma articulação de candidatura própria ao governo do Estado, em uma sinalização de rompimento com o PDT, o maior partido da base aliada de Camilo Santana na Assembleia. O ex-governador, porém, se mostrou irredutível à possibilidade que ainda é citada nos bastidores.
O movimento, entretanto, começou a arrefecer após o ex-presidente Lula, comandante nacional do petismo, não dar nenhum incentivo à possibilidade, passando a responsabilidade pela montagem da estratégia petista local a Camilo Santana. Por mais de uma vez, o ex-presidente atribuiu esta tarefa ao ex-gestor.
Pouco depois, os movimentos pró-candidatura própria se converteram em uma simpatia ao nome de Izolda Cela, uma das pré-candidatas do PDT.
Antes de deixar o cargo, portanto, Camilo atuou para moldar o PT mais ao seu estilo.