Como o Nordeste pode se beneficiar caso a Gol e Latam comprem aviões da Embraer?

Legenda: Latam e Gol poderiam estar negociando para aquisição de jatos da Embraer
Foto: Renato Bezerra

No fim de junho, surgiram novos rumores sobre a Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, estar em conversas com Latam e Gol para lhes fornecer aeronaves E-Jets 2 (Jatos regionais Embraer) de segunda geração (E2). As informações, segundo a Bloomberg, são do CEO da empresa Francisco Gomes Neto.

“Airbus e Boeing estão focados nos pedidos de aeronaves de fuselagem estreita, com encomendas até o final da década, o que representaria uma oportunidade para a Embraer crescer”, comentou.

Ainda, complementou: “Os Jatos E2 preenchem a lacuna entre aeronaves menores e maiores para companhias aéreas que desejam aumentar a capacidade, em momento de restrições de fornecimento de aeronaves de fuselagem estreita (modelos fabricados por Airbus e Boeing”.

A aeronave poderia impulsionar novas ligações intra-Nordeste, dado que possui excelentes índices de custo por assento justamente em distâncias médias, viagens de aproximadamente 1h30. Tal tempo de viagem é aproximadamente o que se observa entre as capitais mais distantes da região: São Luís e Salvador, por exemplo.

Aliado a isso, a aeronave possui menos assentos, encaixando-se melhor justamente em mercados menores. Fica claro perceber que companhias aéreas como Latam e Gol não têm aeronaves certas para, por exemplo, desenvolver mais a aviação na região Nordeste.

Nordeste pode se beneficiar

Em Fortaleza, por exemplo, dispõe-se muito pouco de Airbus 319 da Latam, menor avião da companhia para 144 assentos. Além disso, o A319 que voa na companhia é bem menos eficiente do que o novo E2.

Assim, há exatamente 1 ano, publicamos o encerramento dos voos entre Fortaleza e Maceió pela Latam para outubro de 2023, trecho entre a maior capital da região e uma capital média como a alagoana. O trecho que operou por quase dois anos foi encerrado com uma média de ocupação pouco maior que 60%, número ruim, segundo métricas tradicionais.

A ligação se dava entre dois dos principais destinos turísticos do Brasil, mas a média de passageiros diários era de 120, baixa, portanto para aeronaves como Airbus 320 e Boeing 737-800, ambos com aproximadamente 180 assentos.

Caso o E2 estivesse nas frotas de Latam e Gol, o índice de ocupação seria superior a 85% (excelente) se considerássemos aeronave com 140 assentos. A Azul, por exemplo, opera com o E2 de 136 assentos.

Ainda, em um mercado que sempre lutou para oferecer mais de uma viagem por dia, como Fortaleza-Natal, o E2 pode permitir maior taxa de assentos preenchidos, permitindo melhores resultados às companhias.

A Gol já chegou a realizar até 3 voos diários no trecho em anos como 2015, porém, hoje, não mais opera a rota, também, porque as taxas de ocupação não eram boas, mesmo operando a rota com o Boeing 737-700 de 144 assentos. 

A Latam também, nos últimos 6 anos, nunca conseguiu lançar uma 2ª frequência diária no trecho. Por estar hoje tão mal servido, dado que praticamente há apenas 1 voo diário na rota, já conversamos sobre como companhias de ônibus têm roubado passageiros para o modal rodoviário com serviços excelentes.

Performance do E2

O consumo de combustível por assento do E2 é de, aproximadamente, 2,5 litros por quilômetro percorrido, apenas 10% a mais do que o excelente A320 Neo. 

Isso mostra que o E2 ainda consome mais que os jatos comerciais médios mais voados do mundo, porém a Embraer tem o avião certo para caber nos mercados secundários, coisa que Boeing e Airbus, não possuem. A Airbus até tem, porém, o A220 (produto transformado da compra do jato C-SERIES da Bombardier) ainda não voa no Brasil.

Perfeita hora para fazer o E2 crescer de mercado no país. Timing melhor parece não ter existido até aqui. No Nordeste, excluindo-se Salvador, Recife e Fortaleza, ainda há pouquíssima oferta de voos diretos entre capitais.

Fora dos maiores centros, apenas São Luís e Teresina ligam-se com voos diretos. Até mesmo Fortaleza e Salvador têm problemas em dispor de mais de 1 voo diário para capitais médias. Em Recife, a Azul mantém várias saídas por dia para diversas capitais da região, justamente porque opera com os E Jets e os turboélices ATR-72.

A Latam descontinuou em abril passado os segundos voos diários entre Fortaleza e Teresina, Fortaleza e Recife, Fortaleza e São Luís. Em Salvador, a Gol só possui mais de um voo por dia, sistematicamente, para Fortaleza e Recife. Com uma aeronave eficiente e menos assentos, mais saídas por dia podem se firmar.

Mais ligações regionais

“O E2 certamente viabilizará mais ligações regionais no Brasil”, decretou o CEO da Embraer à Bloomberg.

A nova onda de especulações da compra do E2 por Latam e Gol cresce em meio à incapacidade das gigantes fabricantes Airbus e Gol de conseguirem entregar mais aeronaves, abrindo campo para que a Embraer ganhe produtividade e consiga suprir esse vazio mundial de produto.

Airbus está lotada de pedidos por anos à frente, enquanto a Boeing luta para continuar entregando suas encomendas em meio a problemas na confiabilidade de aeronaves e de seus sistemas de qualidade. 

Em abril, inclusive, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez votos para que Latam e Gol comprassem aeronaves da Embraer. Poder-se-ia trabalhar numa coordenação interna com bancos de fomentos nacionais para acelerar a diversificação (necessária) de frota para companhias aéreas.

Ademais, quando a coluna conversou com a presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro, ela informou, justamente, que uma das agendas defendidas pela associação é a de que suas associadas tivessem incentivo financeiro para aumentar a frota.

Latam e Gol são associadas da Abear. As companhias aéreas e o Governo Federal estão supostamente juntos no lançamento do atrasado Voa Brasil, programa que incentiva o incremento de brasileiros a usarem o modal aéreo.

O que dizem as companhias aéreas

Sobra aquisição de aeronaves Embraer, a Gol informou que: “A Gol possui um modelo de negócios baseado em frota única, o que traz muita flexibilidade, baixo nível de complexidade e o menor custo do Brasil. Neste ano, até o momento, a Gol já recebeu duas novas aeronaves novas 737 MAX 8 e espera receber ainda em 2024 outras 11 aeronaves. A chegada de novos aviões deste modelo, aliada à recomposição da frota atual, é o foco da Companhia em relação à sua frota. Independente disso, a Gol está sempre avaliando frotas alternativas que possam trazer eficiência e aumentar a oferta da nossa malha”.

Já a Latam informou que não comentará sobre o assunto.

Dificuldade para receber mais aeronaves

Em um caso recente em que a Latam aparecera como candidata a receber aeronaves da Gol, que enfrenta processo de recuperação judicial, o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, confidenciou a uma fonte do setor aéreo: “Olha, não é que nós quiséssemos os aviões da Gol. Nós queríamos aviões”.

O comentário aclara objetivamente o desafio/oportunidade que tem sido receber mais aeronaves para as companhias aéreas de todo o mundo.

A Embraer pode ser parte a aumentar a perenidade de entrega de aeronaves, assumindo mais protagonismo: algo que o mercado espera.

As ações da Embraer subiram fortemente em 2024 após o mercado financeiro ter eleito a empresa como Top Pick (escolha maior) do setor aeroespacial. O ganho de valor das ações teve o maior crescimento do índice da B3, o Ibovespa.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.