Os ventos das ruas apontam o caminho da cultura!

Os territórios produzem ciência, tecnologia e informação que agregam valor à política pública

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Legenda: Artistas, coletivos e jovens reunidos na Barraca Foi Sol, na Praia da Leste Oeste, protagonizando encontro para discutir propostas para a juventude e a Cultura no último período eleitoral em Fortaleza
Foto: Álee Rosa

As eleições municipais trouxeram à tona a urgência da construção de relação de escuta e troca entre os mais diversos territórios desta cidade. O resultado do pleito, em que uma parcela considerável das periferias associa-se a uma campanha conservadora, diz muito sobre o distanciamento dos governos progressistas com sua base. De forma angustiante, as urnas gritaram para esses gestores “olhem para cá!”. 

O fortalecimento de uma política pública depende, sobretudo, da sua capacidade de articulação entre os mais distintos interesses. A cultura está nos bailes e nos suntuosos palcos, nas exposições de curadores renomados e no artesão que expõe sua arte nas calçadas, nas salas de cinemas portadas de alta tecnologia e na tela arranjada de um cineclube que acontece entre as vias.

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A cultura, feito o vento, acontece e se ajusta de maneira insubordinada à conjuntura. Rasga os formatos, atravessa os sistemas e segue seu rumo. Por vezes , de forma tímida e frágil, corre feito brisa. Se impulsionada, vira tempestade, estouro, explosão. Feito o vento “Aracati”, corre em alta velocidade, espalha a poeira, faz girar os cataventos, balança e refresca a cidade. Sem vento, tudo vira bafo e quentura. 

A gestão governamental domina os sistemas e dispositivos gerenciais, canais de construção de redes institucionais, estratégias de articulação política intersetorial e interinstitucional, métodos de formulação de cultura organizacional, plataformas de gerenciamento financeiro, administrativo e legislativo.

Os planos de gestão bem sucedidos no campo da gestão pública proporcionam uma ampliação de repertório capaz de garantir a execução de uma política cultural. Se fortalecido, esse campo avança. Se estagnado, a política se asfixia. O abraço entre os avanços institucionais atingidos até aqui pelas políticas culturais municipais junto às técnicas e aos saberes desenvolvidos pelos territórios é uma das soluções criativas para evitar a paralisação da cena artística. A cidade é o lugar do dissenso e não há êxito numa gestão sem a percepção e a consideração dessas diferenças em qualquer construção coletiva. 

Para além do exercício institucional, quando se pensar em política de formação, é preciso ponderar os métodos de formulação e condução do plano pedagógico, presentes, por exemplo, nas experiências da biblioteca comunitária Livro Livre (Curió), do coletivo Nóis de Teatro (Grande Bom Jardim) e do estúdio Cia de Dança 085, que reúnem integrantes de diversas periferias. Quando se pensar em política de difusão, considerar as estratégias de formação de plateia e curadoria do Projeto SoulLest (Pirambu) e Cine Pivete (Moura Brasil).

Quando se pensar em política museológica, é relevante refletir sobre o processo de articulação e criação do Acervo Mucuripe (Grande Mucuripe). Quando se pensa em políticas de Artes Visuais, vale atentar para o movimento de redes estabelecidas pelo Projeto Farol Encantado (Vicente Pinzon). Quando se pensar nas Políticas de Comunicação, é importante valorizar a ordem e a lógica de transmissão de conteúdo dos canais de Léo Suricate (Jangurussu) e JPreto (Parque Veras). Quando se pensar em política de gestão, ter em conta os parâmetros de coordenação dos projetos conduzidos pelo Instituto Pensando Bem (Vila Velha). 

Os territórios produzem ciência, tecnologia e informação que agregam valor à política pública. Considerar novas racionalidades e novas solidariedades é conceder abertura para o campo social contribuir para uma nova ordem. Reconhecer essas expertises e estabelecer intercâmbios, evita que Fortaleza seja dominada pelo mormaço do atraso. Tal calor impede a operação de uma política cultural que valoriza o ambiente democrátivo.

Para nos afastar de uma política que não se comunica, não agrega e que não considera em sua centralidade as potencialidades desta cidade, que nem Belchior, canto: “vida, vento, vela, leva-me daqui”. Que os bons ventos da democracia, da comunhão e do progresso consagrem, a cada dia, o espírito desta Fortaleza criativa. Com Ruas e Governos sintonizados,  todo vento vira vida.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.