Diabetes gestacional: Quando o cuidado começa antes da gravidez

O que muda com as novas diretrizes da OMS.

Escrito por
Eliziane Correia producaodiario@svm.com.br
Legenda: O diabetes gestacional pode assustar, mas não precisa ser motivo de pânico.
Foto: Thanakorn.P/Shutterstock.

Há temas na maternidade que despertam dúvidas, inseguranças e, muitas vezes, até medo. O diabetes gestacional é um deles. A boa notícia é que novas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) acabam de ser atualizadas e elas chegam para acolher, orientar e, acima de tudo, proteger a saúde da mulher e do bebê.

Para entender melhor o que muda na prática, conversei com a ginecologista e especialista em medicina reprodutiva Lilian Sério, que trouxe uma visão clara e humana sobre o assunto. E é com essa sensibilidade que compartilho aqui o que aprendi.

O olhar mais atento: cuidado individual, cuidado real

Doutora Lilian começa lembrando que cada gestação é única, e é justamente isso que as novas diretrizes reforçam. Segundo ela, “antes, tentávamos descobrir o diabetes gestacional apenas no início da gravidez ou só por volta do quinto ou sexto mês. Agora, a ideia é olhar para cada mulher individualmente”.

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Esse olhar individualizado considera fatores que muitas vezes passam despercebidos no dia a dia:

  • ganho de peso acima do esperado;
  • histórico familiar de diabetes;
  • idade acima de 35 anos;
  • gestações anteriores com diabetes;
  • começar a gestação já com sobrepeso.

“Se essa mulher já chega ao consultório com algum desses fatores, precisamos acompanhar a glicemia dela durante toda a gestação, e não esperar até o meio da gravidez”, explica a médica.

O corpo fala

A especialista reforça algo que muitas vezes não ouvimos com frequência: o cuidado não começa com o teste positivo, e sim antes dele. “Muitas mulheres engravidam já com pré-diabetes e não sabem. Isso acontece porque não houve um preparo pré-concepcional. Por isso, cuidar antes de engravidar faz toda diferença”, afirma.

E esse cuidado envolve mudanças simples, mas poderosas:

  • alimentação equilibrada, evitando excessos de açúcar e ultraprocessados;
  • controle de peso;
  • prática regular de atividade física;
  • exames de rotina;
  • atenção à saúde mental e ao bem-estar.

“A mulher precisa se cuidar antes de gestar - a gravidez inclui o antes, o durante e o depois.”

Quando o diagnóstico chega: e agora?

O diabetes gestacional pode assustar, mas não precisa ser motivo de pânico.

A médica acolhe essa preocupação e explica: “Em 80% dos casos, conseguimos controlar apenas com dieta e atividade física. Não significa que toda mulher vai precisar de medicamento. E quando precisa, tanto a insulina quanto a metformina são seguras.”

O tratamento envolve controle da glicemia em casa; acompanhamento nutricional; consultas frequentes; ultrassons para avaliar o crescimento do bebê e orientação de uma equipe multidisciplinar. Hoje, esse trabalho não é mais só da obstetra. “Nutricionista, endocrinologista e até educador físico fazem parte do cuidado”, lembra a médica.

E os riscos? Falar deles também é cuidado

Sem intervenção adequada, o diabetes gestacional pode trazer riscos como parto prematuro, pré-eclâmpsia e alterações no crescimento do bebê. Mas a informação alivia e protege. “Quando descobrimos cedo, conseguimos reduzir muito os riscos para a mãe e para o bebê.”

A especialista também explica que bebês de mães com diabetes gestacional não nascem diabéticos, mas podem apresentar hipoglicemia nas primeiras horas de vida. Por isso, o cuidado neonatal imediato é tão importante.

“Hipoglicemia é a queda do nível de açúcar no sangue para um nível perigosamente baixo, geralmente abaixo de 70mg/dL”

E no pós-parto? A atenção continua

“Um mês e meio depois, a mãe precisa repetir os exames para saber se o diabetes foi apenas gestacional ou se ela desenvolveu diabetes mesmo. E o bebê também precisa de acompanhamento nutricional, porque existe uma tendência maior ao sobrepeso no futuro.”

O diabetes gestacional não define a gestação e muito menos a maternidade. Ele é apenas um sinal de que o corpo precisa de atenção, e de que a mulher merece suporte, acolhimento e informação de qualidade. Como disse a própria Lilian Sério, “descobrir cedo significa cuidar melhor. E quando cuidamos da mãe, cuidamos do bebê também.”

Que esse seja o norte: informação que acolhe, cuidado que transforma e uma gestação guiada pela saúde, pela consciência e pela tranquilidade possível.