Vinhos do S. Francisco recebem registro de Indicação Geográfica

O registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) nº 2.704 do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) na última terça-feira,1º deste mês.

Legenda: Dos vinhedos do Vale São Francisco estão saindo vinhos tropicais que começam a conquistar o Brasil e o mundo
Foto: Eduardo Andreassi

Para os que, principalmente no Nordeste brasileiro, apreciam o vinho, eis aqui uma boa notícia transmitida pela Embrapa Uva e Vinho e pelo Ministério da Agricultura:

Conhecido pelos vinhos tropicais, o Vale do São Francisco recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP) para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. 

O registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) nº 2.704 do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) na última terça-feira,1º deste mês.  

A área de produção dos vinhos compreende cinco municípios localizados em dois estados do Nordeste: Lagoa Grande, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco; e Casa Nova e Curaçá, na Bahia.

“O reconhecimento oficial da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para vinhos é resultado de um trabalho articulado entre produtores, universidades e instituições públicas de pesquisa. Para a valorização dos produtos típicos de um país é imprescindível essa articulação, sendo que a participação do Estado ocorre no sentido de fomentar o desenvolvimento rural e regional das cadeias de valor”, disse o chefe de Divisão de Projetos de Indicação Geográfica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wellington Gomes.

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Nesta IG em questão, destaca-se a contribuição da Embrapa Uva e Vinho na condução dos estudos técnicos. Junto com outras instituições parceiras, foi elaborado o dossiê que fez parte do pedido de registro junto ao INPI. Por sua vez, o Mapa, através da sua Coordenação de Indicação Geográfica, foi responsável pela emissão do Instrumento Oficial de Delimitação da IG. Esse documento atesta a coerência e conformidade da área territorial da IG para fins do registro.

Para o pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho, esse registro é um evento de interesse mundial pois esta é a primeira região de vinhos tropicais do mundo a reconhecer uma Indicação Geográfica com altos padrões de exigência da produção, assemelhados às IGs dos países da União Europeia. 

Para o Brasil, disse Tonietto, além de ser a primeira região a obter a Indicação Geográfica em zona tropical, sinaliza pelo crescimento da importância dessa zona intertropical na produção de vinhos que tem crescido, inclusive no Brasil central, com uma viticultura diferenciada de mais de um ciclo da videira por ano. Do ponto de vista dos vinhos do Vale do São Francisco, agora eles poderão ampliar sua diferenciação por origem e qualidade, sob a tutela de controle dos produtores. Para os consumidores será uma oportunidade de encontrar vinhos genuínos e típicos da região semiárida. 
 
Segundo o pesquisador, a expectativa é que a IG amplie não somente a visibilidade da região no mercado interno e internacional, como também estimule novos investimentos que irão ampliar a capacidade competitiva da produção. 

“Nos médio e longo prazos, estima-se que o desenvolvimento territorial seja impactado positivamente, fortalecido não somente pela produção vitivinícola, como também pela ampliação do enoturismo e atividades afins, com estímulo a novos investimentos, com alcance sobre a infraestrutura regional”, comemorou Tonietto.

Iniciada em 1960, a atual área delimitada do Vale do São Francisco originou-se com a organização da produção agrícola irrigada da região. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens de beira-rio. As videiras cultivadas na região são ligadas diretamente ao Rio São Francisco e desfrutam de uma região com características únicas no mundo.

Segundo dados da Revista INPI, os atributos físicos do meio geográfico, associados à latitude e ao clima tropical semiárido, ao longo do tempo foram associados a sistemas de produção vitícola particulares. Desta forma, as videiras da região possibilitam colheitas sucessivas ao longo do ano, e tais colheitas múltiplas resultam em vinhos originais.

“Este é um momento histórico e muito esperado pelos vitivinicultores da região, em especial aqueles estabelecidos no Vale do Submédio São Francisco, nos municípios pernambucanos de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, além de Casa Nova e Curaçá, na Bahia”, destaca José Gualberto de Freitas Almeida, presidente do Vinhovasf e da Valexport (Associação dos produtores e exportadores de hortigranjeiros e derivados do Vale do São Francisco). Para ele é a concretização de um sonho. Desde o reconhecimento da Indicação do Vale dos Vinhedos, em 2002, ele queria fazer o mesmo no Vale do São Francisco.

A comercialização dos vinhos tropicais começou na década de 1980, de acordo com documentos encaminhados ao INPI. Atualmente, toda a área delimitada da IP Vale do São Francisco destina-se puramente à produção de videiras destinadas tão somente à elaboração dos vinhos dessa área delimitada no Nordeste brasileiro. A maioria dos produtores elaboram vinhos em vinícolas próprias. Além do comércio dos vinhos produzidos, as diversas vinícolas do Vale do São Francisco ampliaram sua participação em feiras e eventos de vinhos, bem como em eventos de gastronomia, com degustação e distribuição de folheteria.