Gigante por natureza, florão da América, deitado eternamente em berço esplêndido, o Brasil pode ser chamado, nas próximas semanas, a testar se é verdadeiro o que está escrito na letra do seu Hino Nacional, segundo o qual um brasileiro não fugirá à luta e nem temerá a própria morte, se um dia se erguer a clava forte da Justiça.
Mas o que está a erguer-se neste momento é a grave ameaça de um conflito armado na América Latrina, causado pela decisão do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, de invadir seu vizinho do Leste, a Guiana, que tem dois terços do seu território sobre um oceano de petróleo.
Com popularidade em baixa, tendo promovido no domingo passado, 3, um plebiscito sobre a questão – do qual a maioria do povo venezuelano se ausentou – Maduro, versão piorada de Hugo Chávez, busca um inimigo externo para posar de herói nacional.
O plano bélico e político do ditador bolivariano, para ter êxito, necessitará da ajuda do governo brasileiro.
Para invadir, como já anunciou que o fará, o território guianense e apoderar-se de dois terços de sua geografia que constituem a denominada região de Essequibo, o Exército da Venezuela terá de transitar pelo solo do Brasil, mais exatamente do Estado de Roraima. Isto, porém, só se fará se o presidente da República o autorizar e se o Congresso Nacional o referendar, algo quase impossível de acontecer, tendo em vista as circunstâncias em que o caso vem se desenrolando.
A América Latina e o Caribe foram, até agora, território tranquilo, pacífico, com as turbulências políticas e econômicas próprias das nações democráticas, nas quais governo e oposição trocam de posições a cada periódica eleição.
Na Venezuela – que 30 anos atrás era o mais rico e desenvolvido país latino-americano – tudo mudou com a chegada de um oficial do Exército que tentou, sem êxito, um golpe de estado para depor o presidente Carlos Perez, em pleno desempenho do seu mandato.
Em 1998, o coronel Hugo Chávez, o golpista, elegeu-se presidente da República. Em 2002, uma frustrada tentativa de golpe contra ele tornou-o política e popularmente mais forte, levando-o a controlar o Parlamento, o Judiciário e a mídia, impondo uma nova Constituição ao país, a mesma que elege e reelege Nicolás Maduro, que assumiu o poder com a morte de Chávez, do qual era o vice.
Hoje, a Venezuela é um país aniquilado, mas com um poder de fogo que assusta seus vizinhos, como o Brasil, que, para evitar uma invasão de Roraima por soldados de Maduro, está enviando para o Marco BV8 – na fronteira dos dois países – 20 tanques blindados e 160 homens fardados.
Na pandemia da Covid 19, centenas de milhares de venezuelanos fugiram de seu país e refugiaram-se na Colômbia e no Brasil. Essa fuga prossegue.
Na região do Essequibo, nome do principal rio da Guiana, a gigante norte-americana Exxon Oil extrai e exporta petróleo e gás, graças à concessão que recebeu do governo guianense. Os royalties pagos pela Exxon fizeram a economia da Guiana crescer 60% em 2022; esse crescimento é estimado em 30% neste ano.
Maduro, vendo subir sua rejeição e com inveja do vizinho e importunado pelas sanções econômicas que até recentemente os EUA lhe impuseram, olhou para o crescimento da aparentemente indefesa Guiana (uma ex-colônia inglesa) e decidiu ocupá-la. E, com o apoio do seu subordinado Parlamento, anunciou a criação do Estado da Guiana Essequiba, sob governo venezuelano. É isto o que está no papel.
Todavia, o que na realidade acontecerá não se sabe ainda. São muitas as implicações políticas, e a diplomacia terá de ser engenhosa para buscar uma solução que evite a ação bélica, algo que preocupa bastante o governo de Brasília e, também, o de Bogotá. Uma cerveja ou duas não serão suficientes para solucionar as ameaças de uso da força pelo ditador Nicolás Maduro, que tem, pelo menos em tese, a simpatia da China, da Rússia, de Cuba e da Coreia do Norte.
O governo da Guiana ainda não conta, mas poderá vir a contar com o apoio militar dos EUA, cujo governo costuma agir em qualquer lugar do mundo para defender o interesse de suas empresas, máxime as do setor petrolífero.
Há uma grande dúvida: de que lado ficará o Brasil diante da possibilidade de uma invasão da Guiana pela Venezuela? Não há, hoje, ainda, resposta para esta pergunta