Venezuela x Guiana: de que lado está o Brasil?

Por enquanto, não há resposta. Para invadir seu vizinho, as tropas do ditador Nicolás Maduro terão de passar pelo território brasileiro, na geografia de Roraima. Uma cerveja ou duas não serão suficientes para barrar o ímpeto belicista do venezuelano

Legenda: Nicolás Maduro (foto), o ditador venezuelano, exibe o novo mapa do seu pais, já com a inclusão da região de Essequibo, que ele ameaça invadir
Foto: ZURIMAR CAMPOS / Venezuelan Presidency / AFP
Gigante por natureza, florão da América, deitado eternamente em berço esplêndido, o Brasil pode ser chamado, nas próximas semanas, a testar se é verdadeiro o que está escrito na letra do seu Hino Nacional, segundo o qual um brasileiro não fugirá à luta e nem temerá a própria morte, se um dia se erguer a clava forte da Justiça. 
 
Mas o que está a erguer-se neste momento é a grave ameaça de um conflito armado na América Latrina, causado pela decisão do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, de invadir seu vizinho do Leste, a Guiana, que tem dois terços do seu território sobre um oceano de petróleo. 
 
Com popularidade em baixa, tendo promovido no domingo passado, 3, um plebiscito sobre a questão – do qual a maioria do povo venezuelano se ausentou – Maduro, versão piorada de Hugo Chávez, busca um inimigo externo para posar de herói nacional.
 
O plano bélico e político do ditador bolivariano, para ter êxito, necessitará da ajuda do governo brasileiro. 
 
Para invadir, como já anunciou que o fará, o território guianense e apoderar-se de dois terços de sua geografia que constituem a denominada região de Essequibo, o Exército da Venezuela terá de transitar pelo solo do Brasil, mais exatamente do Estado de Roraima. Isto, porém, só se fará se o presidente da República o autorizar e se o Congresso Nacional o referendar, algo quase impossível de acontecer, tendo em vista as circunstâncias em que o caso vem se desenrolando.
 
A América Latina e o Caribe foram, até agora, território tranquilo, pacífico, com as turbulências políticas e econômicas próprias das nações democráticas, nas quais governo e oposição trocam de posições a cada periódica eleição. 
 
Na Venezuela – que 30 anos atrás era o mais rico e desenvolvido país latino-americano – tudo mudou com a chegada de um oficial do Exército que tentou, sem êxito, um golpe de estado para depor o presidente Carlos Perez, em pleno desempenho do seu mandato. 
 
Em 1998, o coronel Hugo Chávez, o golpista, elegeu-se presidente da República. Em 2002, uma frustrada tentativa de golpe contra ele tornou-o política e popularmente mais forte, levando-o a controlar o Parlamento, o Judiciário e a mídia, impondo uma nova Constituição ao país, a mesma que elege e reelege Nicolás Maduro, que assumiu o poder com a morte de Chávez, do qual era o vice. 
 
Hoje, a Venezuela é um país aniquilado, mas com um poder de fogo que assusta seus vizinhos, como o Brasil, que, para evitar uma invasão de Roraima por soldados de Maduro, está enviando para o Marco BV8 – na fronteira dos dois países – 20 tanques blindados e 160 homens fardados. 
 
Na pandemia da Covid 19, centenas de milhares de venezuelanos fugiram de seu país e refugiaram-se na Colômbia e no Brasil. Essa fuga prossegue.
 
Na região do Essequibo, nome do principal rio da Guiana, a gigante norte-americana Exxon Oil extrai e exporta petróleo e gás, graças à concessão que recebeu do governo guianense. Os royalties pagos pela Exxon fizeram a economia da Guiana crescer 60% em 2022; esse crescimento é estimado em 30% neste ano. 
 
Maduro, vendo subir sua rejeição e com inveja do vizinho e importunado pelas sanções econômicas que até recentemente os EUA lhe impuseram, olhou para o crescimento da aparentemente indefesa Guiana (uma ex-colônia inglesa) e decidiu ocupá-la. E, com o apoio do seu subordinado Parlamento, anunciou a criação do Estado da Guiana Essequiba, sob governo venezuelano. É isto o que está no papel.
 
Todavia, o que na realidade acontecerá não se sabe ainda. São muitas as implicações políticas, e a diplomacia terá de ser engenhosa para buscar uma solução que evite a ação bélica, algo que preocupa bastante o governo de Brasília e, também, o de Bogotá. Uma cerveja ou duas não serão suficientes para solucionar as ameaças de uso da força pelo ditador Nicolás Maduro, que tem, pelo menos em tese, a simpatia da China, da Rússia, de Cuba e da Coreia do Norte. 
 
O governo da Guiana ainda não conta, mas poderá vir a contar com o apoio militar dos EUA, cujo governo costuma agir em qualquer lugar do mundo para defender o interesse de suas empresas, máxime as do setor petrolífero. 
 
Há uma grande dúvida: de que lado ficará o Brasil diante da possibilidade de uma invasão da Guiana pela Venezuela? Não há, hoje, ainda, resposta para esta pergunta
 

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