Dentre os setores da agropecuária cearense que mais crescem, dois se destacam de maneiras opostas: a carcinicultura, que voa no modo supersônico, e a tilapicultura, que, depois de quebrar recordes de velocidade, enfrenta problemas que a impedem de decolar novamente, mesmo sendo o Ceará o maior mercado consumidor brasileiro de tilápia.
Ontem, o bom e o mau dessas atividades foram apresentados ao secretário da Pesca e Aquicultura do Governo do Estado, o jovem deputado estadual e fisioterapeuta Oriel Nunes Filho, que se reuniu por um par de horas com um grupo de 20 empresários da agricultura, pecuária e agroindústria.
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O secretário ouviu com atenção o que lhe disse Gentil Newton Evaristo Linhares, dono da Bomar, empresa agroindustrial que produz e também compra, beneficia e comercializa camarão e tilápia, vendendo seus produtos para vários estados nordestinos.
Gentil Linhares deve ter deixado o titular da Secretaria de Pesca ainda mais preocupado com o punhado de problemas que terá de resolver. Sem embargo, Oriel Nunes assegurou que quer, durante sua gestão, “estimular a tilapicultura em todo o Ceará”.
Mas não será fácil. Esta coluna pode informar que o orçamento da Secretaria da Pesca é muito raquítico para encarar os desafios. Ele ouviu o que Linhares falou. E, resumidamente, foi o seguinte:
O Ceará, havia 10 anos, era o maior produtor de tilápia do país, com 2.500 toneladas mensais. Agora, essa produção não passa de 800 toneladas/mês. Adiante do Ceará estão hoje a Bahia, o Paraná, o Mato Grosso, as Minas Gerais e até o vizinho Piauí.
Linhares cita o exemplo de sua própria empresa, que, nos tempos em que os açudes cearenses estavam cheios, chegou a produzir 300 toneladas mensais de tilápia. Agora, essa produção não passa das 80 toneladas/mês.
A culpada foi a prolongada estiagem que castigou o Ceará ao longo da década passada. Os grandes e médios açudes não recarregaram em volume suficiente para sustentar aquela grande produção.
Mas o Ceará e os cearenses continuam sendo os maiores consumidores brasileiros de tilápia, o que quer dizer o seguinte: quando o Castanhão, o Orós, o Banabuiú e o Araras forem recarregados pelas chuvas invernais, o Ceará voltará a liderar a tilapicultura nacional.
Um empresário sugeriu, durante a reunião, que o governo do Estado, por meio de uma Parceria Público Privada, instale uma indústria de beneficiamento de tilápia.
Mas outro logo lembrou que, na gestão Cid Gomes, foi construída, em Jaibara, no Norte do Estado, uma moderna e cara unidade industrial para o beneficiamento de tilápia. Todavia, inacreditavelmente, por falta de uso e de vigilância, tudo o que havia dentro da indústria foi roubado, a começar pelo telhado. E tudo aconteceu à revelia da Polícia.
Hoje, em Jaibara, agem facções do crime organizado – foi o que disseram outros empresários durante a reunião com o secretário Oriel Nunes Filho.
No final da conversa, ouviu-se a seguinte conclusão: instalar uma nova unidade industrial de processamento de tilápia é algo inviável. Primeiro, porque é cara: só a descascadora, fabricada nos Estados Unidos, custa US$ 900 mil (cerca de R$ 5 milhões). Segundo, “porque, hoje, é impossível concorrer com a tilápia produzida e colocada aqui pelos produtores do Paraná”, como disse Gentil Linhares.
Com a experiência de quem está na área há vários anos, sendo o maior criador de camarão do país e tendo, como prefeito de Jaguaribara no começo dos anos 2000, o empresário Cristiano Maia, amigo do secretário Oriel Nunes, sugeriu que a tilápia, no sertão cearense, deve ser cultivada em tanque-rede no espelho d’água dos pequenos, médios e grandes açudes.
“Produzir tilápia em tanque escavado exige muito boa gestão da água e o bom uso dos nutrientes, para o que é necessária a presença constante de um técnico, de um engenheiro de pesca”, aconselhou Maia, que desejou sucesso ao secretário.
Ao longo da boa conversa, surgiram várias informações. Como esta, por exemplo: hoje, o mercado público de Carlito Pamplona, em Fortaleza, é o local onde mais se vende tilápia no Ceará. É lá, também, que são expostas e comercializadas as tilápias paranaenses, mineiras e baianas. E o preço? – alguém perguntou.
“É muito mais barato do que nos supermercados”, foi a resposta que se ouviu.