Taxa Selic: Comunicado do Copom frustra o mercado e irrita o governo

Taxa básica de juros foi mantida em 13,75%, e não houve sinal de que cairá a partir de agosto. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pede a demissão de toda a diretoria do Banco Central

Legenda: A inflação, para o Copom, segue em alta. Além disso, hpá incertezas quanto ao arcabouço fiscal. Por isto, taxa Selic não baixa
Foto: Fabiane de Paula / Diário do Nordeste

Esta será uma quinta-feira agitada no mercado financeiro brasileiro, principalmente na Bolsa de Valores B3, na política e na área empresarial. É que ontem, surpreendentemente, o Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central decidiu, por unanimidade dos seus nove integrantes, manter em 13,75% a taxa básica de juros Selic, que está nesse patamar desde agosto de 2022. 

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Mas não somente isto: o Copom, ao contrário do que todos imaginavam, decidiu, também, sinalizar, no comunicado que distribuiu após sua reunião de quarta-feira, 21, que poderá manter por mais tempo essa taxa. Ou seja,foi reduzida  a expectativa de que, em sua próxima reunião no início de agosto, o Copom começaria um ciclo de reduções.

Eis o que diz um trecho do comunicado: “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia”.

E acrescenta: “O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação.”

Pelo que se depreende da leitura do comunicado, extrai-se a conclusão de que o Copom segue preocupado com os chamados fatores de risco, entre os quais a persistência de pressão de preços globais; as incertezas sobre o desenho final do arcabouço fiscal, que, aprovado ontem pelo Senado Federal, terá de voltar à Câmara dos Deputados para nova votação, pois o texto original foi modificado; e uma perspectiva de inflação mais duradoura.

O Banco Central projeta uma inflação de 5% para este ano e de 3,5% em 2024. A meta de inflação para 2023 é de 3%, mas o Conselho Monetário Nacional, integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central, poderá aumentar essa meta em sua próxima reunião. É o que pretende o governo.

Logo após a publicação do comunicado do Copom, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann disse pelo Twitter que toda a diretoria do Banco Central, a começar pelo seu presidente Roberto Campos Neto, deve ser demitida, pois trabalha contra o país e sabota a sua economia.

Mas os diretores do Banco Central têm mandato. O de Campos Neto só terminará no fim do próximo ano.

Hoje, o pregão da Bolsa B3 repercutirá, com certeza, a decisão do Copom. Ontem, a Bolsa superou os 120 mil pontos e fechou em alta de 0,67%, aos 120.420 pontos, algo que não acontecia desde abril de 2022. O dólar encerrou o dia na estabilidade, cotado a R$ 4,77. 

As ações da Petrobras valorizaram-se mais de 4% por causa da decisão do banco Goldman Sachs, que recomendou a compra dos papeis da estatal. Antes, os bancos Morgan Stanley e JPMorgan já haviam feito a mesma recomendação.

A propósito: as ações ordinárias da Petrobras, com direito a voto, acumulam, neste ano de 2023, alta de 48%; as preferenciais registram ganhos de 54%. Em janeiro, uma ação ordinária da Petrobras valia R$ 22; hoje, ela vale R$ 35,68; e a preferencial saiu de R$ 19 para R$ 31.