Aproximamo-nos do fim deste incrível ano de 2023, ao longo do qual aconteceu de tudo, até a explosão de mais uma guerra – a mesma que, há 5 mil anos, divide palestinos e judeus.
No front interno brasileiro, há uma guerra que também não tem fim – a do contribuinte contra a elite política do país, que, impune, segue cometendo atrocidades contra a população e, principalmente, contra os que trabalham e produzem, obrigados a sustentar uma máquina pública ineficiente e reconhecidamente corrupta.
Dispondo de recursos naturais como nenhuma outra nação tem, sendo dona da melhor agropecuária do planeta, produzindo cada vez mais alimentos com menos terra e menos água graças à sua alta tecnologia, contando com uma elite empresarial sofisticada e com uma inteligência acadêmica que, seguindo os passos da Embrapa, começa a produzir pesquisas voltadas à indústria e ao setor primário da atividade econômica, o Brasil já deveria estar no Top Five das potências mundiais.
Infelizmente, estamos entre os piores quando se trata do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH). Não temos um só Prêmio Nobel. Mas, em contrapartida, temos dois dos mais caros poderes Legislativos e Judiciários do mundo ocidental. Tudo o que é público no Brasi, principalmente seus prédios e palácios, é nababesco. Enquanto a educação, a saúde e a segurança pública mostram lamentáveis e franciscanas estatísticas nacionais e regionais, as mordomias dos agentes do serviço público são ampliadas com a complacência de quem as deveria proibir.
Mas tudo isto pode ser mudado. Há uma chance neste momento de virar esse jogo, e a oportunidade surge no bojo da proposta da Reforma Tributária, por meio da qual o Parlamento bicameral – se nele baixar o espírito do interesse público – decidirá se o Brasil será moderno e disposto a pelejar com as economias chinesa e norte-americana ou se seguirá palmilhando a mesma trilha pela qual caminham a Venezuela e a Argentina.
Atentem: desde janeiro, quando tomou posse, até a semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como uma voz solitária pregando no deserto, vinha defendendo a meta do déficit zero no exercício de 2024. O presidente Lula, ele mesmo, disse na sexta-feira que será “muito difícil” cumprir essa meta.
Lula não só desautorizou o chefe de sua equipe econômica, como mandou um recado ao mercado: seu governo seguirá gastando mais do que arrecada.
Ontem, tentando corrigir o que dissera o presidente, com quem se reuniu pela manhã, o ministro da Fazenda chamou uma entrevista coletiva, durante a qual afirmou que não existe “nenhum descompromisso” do presidente Lula com a questão fiscal. E reafirmou que ele, Fernando Haddad, segue mantendo seu esforço no sentido de que o déficit seja zerado no próximo exercício financeiro. Mas não disse que o governo está comprometido com essa meta.
A entrevista nem havia terminado, e a Bolsa de Valores começou a cair. O mercado não gostou do que ouviu do ministro Haddad.
Na percepção do mercado, Lula prefere a opção que tomou a Argentina. Uma opção errada, pois gastar mais do que arrecada significa ampliar o déficit, aumentar a dívida, subir os juros, desvalorizar a moeda, trazer de volta a inflação, tonificar o desemprego, dar injeção de desesperança na veia do já sofrido povo brasileiro.
Nosso vizinho do Sul – com inflação passando dos 140% ao ano, com moeda valendo nada, sem dólares para garantir suas importações, com o povo sem esperança – é o perfeito exemplo do que acontece com governos populistas.
Os argentinos, pelo que mostram as pesquisas, elegerão presidente, no próximo dia 26, seu atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, que dirige o caos econômico do seu país. Pode parecer infame o trocadilho, mas os argentinos parecem gostar do “massaquismo”, irmão gêmeo do masoquismo.
Os brasileiros que pagamos impostos restamos presos à armadilha instalada pelo que a política tem de pior. Esta crise fiscal, que é grave neste 2023, vai piorar em 2024 se 1) o governo não reduzir seus gastos; 2) o Congresso não diminuir ao mínimo possível as isenções e os incentivos fiscais, que tiram dos investimentos algo como R$ 350 bilhões por ano; 3) o Parlamento continuar aprovando pautas-bomba contra o Tesouro Nacional; e 4) se o STF não parar de julgar contra o público e a favor do privado.
Precisam de juízo os líderes da política brasileira. Lembremo-nos que é por meio dos arranjos institucionais – que a política faz ou deixa de fazer – que as boas e as más coisas acontecem numa democracia.
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