Produtores rurais unem-se contra roubo de gado e taxa da Cogerh
Cresce a ação de bandidos nas fazendas de pecuária do Ceará, ao mesmo tempo em que fiscais da Cogerh cobram pelo uso de água salobra. Há casos de Peste Suína Clássica no Norte do estado
Ontem, na hora do almoço, num restaurante de carnes no bairro Seis Bocas, 60 produtores rurais de todos os tamanhos reuniram-se para debater alguns dos seus problemas, o primeiro dos quais é antigo, assustador, crescente e, aparentemente, sem solução à vista: a violência nas fazendas da agropecuária.
Prova: o aumento em progressão geométrica dos casos de roubo de gado bovino, caprino e ovino.
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O último desses casos aconteceu no interior do município de Sobral, onde homens armados invadiram uma propriedade, dominaram seu capataz e o obrigaram a tanger cerca de 40 bois até um ponto geográfico onde liberaram o refém, que, de volta à casa, procurou a Polícia, que prendeu os suspeitos e recuperou a manada.
Em municípios da Região Metropolitana de Fortaleza – como Pacajus, Chorozinho, Horizonte e Maranguape – e nos do Sertão Central, como Ibaretama – o roubo de cabeças de gado virou rotina, de acordo com o que disseram à coluna fazendeiros que participaram ontem de mais um Eproce – sigla do Encontro de Produtores Rurais do Ceará, uma entidade informal, que se junta bimensalmente para conversar, sem qualquer registro em ata, sobre o que interessa a quem produz e trabalha no campo.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), Amílcar Holanda, presente ao almoço, acolheu as informações e comprometeu-se a leva-las, mais uma vez, ao conhecimento das autoridades da Segurança Pública do governo do Estado.
Outro tema da pauta do Eproce de ontem foi a ação de fiscais da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), que estão a percorrer estabelecimentos rurais, principalmente no Médio e Baixo Jaguaribe, pressionando seus proprietários a pagar uma taxa pelo uso da água do subsolo.
Naquela região, essa água salobra é extraída do subterrâneo por meio de poços de média profundidade e de motobombas que a despejam em tanques de terra nos quais se faz a criação de camarão, uma atividade em franco desenvolvimento em Jaguaruana, Jaguaribara, Jaguaretama, São João do Jaguaribe e Morada Nova.
São antigos agricultores que se transformaram em carcinicultores atraídos pelo rápido ciclo de criação do camarão e, mais destacadamente, pelo excelente retorno que o negócio proporciona.
A Cogerh, baseada em Lei recente, está cobrando pelo uso da água, mesmo que ela seja extraída de um poço que o próprio dono da terra perfurou às suas expensas. Se, em vez de poço, a propriedade dispuser de um açude, a taxa de outorga será cobrada da mesma maneira.
Ao que parece, esta é, para os governos federal e estadual, uma temporada arrecadatória que promete ser longa.
Após a apresentação do problema, emergiu o encaminhamento da solução: segunda-feira, 3 de abril, o presidente da Faec, Amílcar Silveira, e o empresário Cristiano Maia, maior produtor de camarão do país e presidente da Camarão BR, entidade que congrega os maiores carcinicultores brasileiros, reunir-se-ão com o secretário de Recursos Hídricos, Marcos Robério Ribeiro Monteiro, ao qual está vinculada a Cogerh e a quem a questão será apresentada e por meio de quem uma solução será tentada.
Na reunião do Eproce surgiu uma terceira questão: a falta de barreiras físicas da Adagri que evitem – pelas rodovias que vão e vêm do vizinho Piauí – a entrada de suínos procedentes de lá, onde há focos da Peste Suína Clássica.
Todos os casos dessa peste registrados no Ceará o foram na Região Norte cearense e em animais procedentes do Piauí. O assunto será encaminhado pela Faec à Adagri.
Perto do fim do almoço, alguém citou Rui Barbosa para dizer que “quem não luta pelos seus direitos não é digno deles” e para cutucar o auditório com vara curta: “Temos de estar sempre unidos, pois a união faz a força”. Ganhou aplausos.
O empresário Jorge Parente, ex-presidente do CIC e da Fiec e sócio e membro do Conselho de Administração da Alvoar – empresa surgida no ano passado da fusão da cearense Betânia Lácteos com a mineira Embaré Lacticínios – foi convidado a usar a palavra.
Ele não se fez de rogado. Pegou o microfone e disse com todas as letras:
“A agropecuária do Ceará hoje tem um líder que se chama Amílcar Silveira, presidente da Faec. E é um líder sabe liderar, que assume posições corajosas e inéditas de defesa do setor, e por isto mesmo tem o respeito dos produtores rurais e, também, das autoridades do governo do estado e dos seus pares da CNA”.
Jorge Parente – que considerou muito importante a realização da grande assembleia-geral dos produtores rurais do Ceará no próximo dia 6 de maio, em Quixeramobim, convocada pela Faec – foi aplaudido.