Preço dos combustíveis: a Petrobras desmente o ministro

Titular do MME anunciou que a Petrobras mudará sua política de preços. Diante da imediata queda de suas ações, a empresa divulgou nota desmentindo o que dissera o ministro Alexandre Silveira

Legenda: A Petrobras assegura que qualquer alteração na sua política de preços levará em conta o preço internacional do petróleo
Foto: Germano Ribeiro e Rafaela Duarte / Diário do Nordeste

Ontem, mais uma vez, o governo bateu cabeça. Logo pela manhã, falando à Globo News, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que a Petrobras mudará sua política de preços dos combustíveis. 

Ele afirmou, entre outras coisas, o seguinte: “Nós vamos exigir, como controladores da Petrobras, que ela respeite o povo brasileiro. Que ela cumpra o que está na Lei das Estatais, na Constituição Federal, que é criar um colchão de amortecimento nessas crises internacionais de preço dos combustíveis”.

Foi o bastante para, imediatamente depois, desabarem as ações da estatal na Bolsa de Valores. Os papeis da Petrobras chegaram a cair 4%.

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Diante do prejuízo causado pelas declarações do ministro, a Petrobras teve de correr para explicar ao mercado, em nota oficial, que continuará mantendo preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, mas também evitando repassar as “volatilidades externas” nem a taxa de câmbio provocada por “eventos conjunturais”.

Na nota, a Petrobras também revela que não recebeu qualquer sugestão do ministério de Minas e Emergia para alterar sua atual política de preços, acentuando que, quando – e se – isso acontecer comunicará ao mercado e conduzirá o assunto de acordo com as diretrizes de governança interna da empresa.

A nota da Petrobras afirma:

““A companhia reitera que ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios, em razão do contínuo monitoramento dos mercados, o que compreende, dentre outros procedimentos, a análise diária do comportamento de nossos preços relativamente às cotações internacionais, o seu market share, dentre outras variáveis”.

A divulgação da nota acalmou o mercado, e os papeis da Petrobras recuperaram-se, mas o fato ligou o desconfiômetro dos investidores, que estão preocupados com o que poderá acontecer agora, quando os preços internacionais do petróleo estão em alta por causa da decisão da Opep de reduzir a sua produção em 1,66 milhões de barris por dia. 

Essa decisão fez saltar o preço do petróleo do tipo Brent, importado pela Petrobras, de UDS$ 79, na sexta-feira da semana passada, para UDS$ 85 no dia de ontem. Se essa alta prosseguir, a Petrobras terá de aumentar o preço dos combustíveis. 

Só nesta semana, o preço internacional do petróleo subiu 6%.

Deve ser lembrado que as refinarias da Petrobras não têm tecnologia para processar o petróleo extraído da camada pé-sal, razão pela qual a empresa importa óleo do exterior. O petróleo produzido no Brasil é exportado, inclusive para a China.

O bate-cabeça do governo levou a Bolsa de Valores B3 a fechar em baixa, mais uma vez. No pregão de ontem, essa queda foi de 0,88%, aos 100.977 pontos. O dólar caiu 0,64%, fechando o dia cotado a R$ 5,049.

Mas não foi só a Petrobras que causou a queda da Bolsa. Outras commodities, como o minério de ferro, o cobre e o nível também colaboraram, pois tiveram seus preços reduzidos na China, e isto levou à desvalorização das ações das empresas do setor, como a CSN, a Vale e a Gerdau.

Ontem, foi divulgado uma prévia do índice de emprego nos Estados Unidos, e o número veio abaixo do que esperava o mercado: foram criadas 145 mil novas vagas de trabalho, bem menos do que as 200 mil das previsões do mercado. Isto ajudou a ampliar o medo de uma recessão econômica mundial. Nos Estados Unidos, essa percepção está crescendo.