População de capivaras cresce e ameaça o agro no Ceará

Em Acarape, os gigantes roedores destruíram a plantação de cana de um produtor rural; em Maranguape, agricultores estão deixando de plantar milho, feijão, sorgo e cana de açúcar e até capim para o seu gado leiteiro:

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(Atualizado às 07:45)
Legenda: As capivaras destroem as culturas de cana de açúcar em Acarape e as de sorgo, milho e capim, em Maranguape.
Foto: Kílvia Muniz / SVM

Surgiu, com nome e sobrenome, um sério e grave problema na zona rural de alguns municípios do Ceará: a crescente população de capivara, um roedor herbívoro, que vive em grupo e que, em uma fazenda no município de Acarape, atacou e destruiu o canavial que seu proprietário utilizaria para moer sua produção e, em seguida, produzir cachaça artesanal.

“Neste ano, não vai ter cachaça, porque as capivaras destruíram toda a nossa plantação de cana. Como eu tenho muita cachaça estocada, não me fará falta neste ano, e para o próximo eu espero produzir, pelo menos, as sementes para plantar cana, de novo, a partir de janeiro”, disse um modesto agricultor em áudio gravado e divulgado em uma rede social exclusivamente integrada por agricultores como ele.

No mesmo áudio, esse agricultor – que se autodeclara “produtor rural com CNPJ, assistido e acompanhado pelo Sebrae-CE, participante da Pecnordeste, certificado pelo Ministério da Agricultura e gerador de emprego e renda em Acarape” –  diz que está otimista em relação a 2025.

“Estamos agora empenhados em recuperar cercas e em fazer improviso para barrar a entrada das capivaras na fazenda e para ver se conseguimos plantar alguma coisa em 2025. Tem pedaço de cerca aqui (na fazenda) que já está com quase 20 fios de arame, impedindo as capivaras de passar nesse local, mas elas passam em outro. Temos estacas de 30 em 30 centímetros, e a gente vai aprendendo a conviver com elas”.

Outro pequeno agricultor com fazenda de produção no sertão de Maranguape, revela que, por causa da invasão das capivaras, seus colegas produtores rurais “estão deixando de plantar milho, feijão, sorgo e cana de açúcar e até capim para a alimentação do seu gado leiteiro”. Ele expõe sua lamentação e, também, o seu protesto, que surge em tom de denúncia:

“Nas fazendas que possuem açudes aqui na zona rural de Maranguape, a presença de capivaras se multiplica. Mas o que mais nos preocupa é o que diz a Lei sobre o assunto. Prestem atenção: se você matar uma capivara, cometerá um crime ambiental, além de um crime penal, pois o ato revelará que você possui uma arma de fogo.

“Este é um problema, mas há outro do mesmo tamanho e da mesma gravidade: se as facções do crime organizado tomarem conhecimento de que você possui arma em sua fazenda, ou seja, em sua propriedade, elas vão, invadem, roubam e podem até matar você, se você reagir.

É o exemplo perfeito daquele ditado que diz: se correr o bicho pega, se fica, o bicho come”.

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