No Pecém, problema agora é a oferta de gás

Sem um grande cliente consumidor do seu gás, a Petrobras está desestimulada a reabrir seu Terminal de Gás Natural Liquefeito, que foi desativado por falta de demanda.

Legenda: Vista do Porto do Pecém, que está sem o Terminal de GNL da Petrobras, que o desativou por falta de demanda
Foto: Carlos Marlon

Duas usinas termelétricas movidas a gás – a Termofortaleza, que pertence à Eneva, e a Termoceará, um ativo da Petrobras, ambas localizadas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, estão desativadas por falta de... gás natural. Essas duas unidades geradoras, que funcionavam em caso de necessidade do Operador Nacional do Sistema (ONS), estão agora inoperantes, e este é um problema. Mas há outro. 

Sem a Usina Termelétrica Portocém, cujo contrato de 1,6 GW, oriundo do leilão de energia de dezembro de 2021, foi transferido para a norte-americana New Fortress Energy que o produzirá em suas unidades de Barcarena, no Pará, e de Terminal de Gás Sul, em Santa Catarina, a pergunta que surge é: como ficará o abastecimento de gás para indústrias do Pecém, tendo em vista que a Petrobras também fechou o seu Terminal de Gás Natural Liquefeito, cuja operação – iniciada em 2008 – era feita em navios especiais atracados no píer de graneis líquidos do Porto do Pecém?

A gigantesca UTE da Portocém viabilizaria um investimento da Petrobras não só na consolidação, mas na ampliação do seu Terminal de GNL no Pecém. Agora, há dúvidas a respeito do que fará a Petrobras com o seu terminal. Sem um grande cliente consumidor do seu gás, a estatal está desestimulada a reabrir o terminal cearense. 

A propósito: ontem, esta coluna recebeu da assessoria da Portocém a seguinte nota:

“O Projeto Portocem, controlado pela Ceiba Energy, foi um dos vencedores do leilão de capacidade de 2021, conquistando um Contrato de Reserva de Capacidade de Potência (CRCAP) de 1.572 MW. A Ceiba investiu significativa quantidade de recursos financeiros no estado do Ceará, contando com o suporte e credibilidade do Governo do Estado, Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE), Companhia de Gás do Ceará (Cegás) e Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

“O projeto, ainda em fase inicial de implantação, enfrentou desafios com a guerra da Ucrânia, que gerou perturbações relevantes no mercado de gás natural liquefeito (GNL) e de Floating Storage and Regasification Unit (FSRU), em português, Unidade de Armazenamento e Regaseificação Flutuante.

“Infelizmente, diante da ausência de uma solução viável de fornecimento de GNL que pudesse atender por completo a demanda do projeto e a consequente impossibilidade de obtenção de financiamento, informamos que o CRCAP foi negociado com outra contraparte e será atendido por esta em um outro local e por meio de outras instalações geradoras. 

 “A Ceiba Energy mantém os diretos das licenças no Ceará, apta a manter-se presente no estado, endossando seu compromisso contínuo de buscar ativamente oportunidades que permitam otimizar e desenvolver as instalações existentes de gás natural e buscando transformar o Porto do Pecém em um importante hub de gás natural. 

“A companhia agradece a parceria, empenho, perseverança, competência e dedicação do Governo do Estado do Ceará, todos os seus secretários e executivos em todas suas esferas de atuação, assim como a Prefeitura de Caucaia, São Gonçalo do Amarante e toda a equipe do CIPP. 

“Estes profissionais e instituições fizeram a diferença no enfrentamento dos desafios iniciais de desenvolvimento deste projeto. Contamos com esta parceria nos próximos passos que serão dados, rumo ao novo projeto.”

Resumindo: a Portocém e sua controladora, a Ceiba Energy, mantém seu compromisso de instalar uma unidade geradora de energia termelétrica movida a gás e mais do que isto: tem o sonho de fazer do Pecém um Hub de Gás Natural. Como e quando isso se fará? – é a pergunta para a qual não há resposta agora. 

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