Na Festa da Indústria cearense, o Grito do Nordeste e dos nordestinos

Na entrega da Medalha e da Ordem do Mérito Industrial, o presidente da Fiec e da Associação Nordeste Forte, Ricardo Cavalcante, disse que a Reforma Tributária tem de respeitar as diferenças regionais

Legenda: CarlosPrado, Regina Dias Branco, Ricardo Cavalcante, José Carlos Pontes e Cândido Albuquerque, na Festa da Indústria
Foto: LC Moreira

Com pompa e circunstância! Foi assim que aconteceu ontem, quinta-feira, 18, à noite, no Buffet La Maison, a festa do Dia da Indústria promovida pela Federação das Indústrias do Ceará para a entrega da Medalha do Mérito Industrial da Fiec aos empresários José Carlos Pontes e Maria Regina Saraiva Dias Branco e ao reitor da UFC, Cândido Albuquerque, e da Medalha do Mérito Industrial da CNI ao agroindustrial Carlos Prado. 

Compareceram mais de 1 mil convidados, todos recepcionados pelo presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, e por diretores da entidade. 

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O governador Elmano de Freitas e o ex-governador Ciro Gomes prestigiaram o evento, que teve também a presença de deputados federais e estaduais e de representantes do Poder Judiciário. 

No palco, sentaram-se lado a lado o prefeito José Sarto e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Evandro Leitão. Os dois não se cumprimentaram, e isto teve e tem a ver com a eleição municipal de 2023.

Houve quatro discursos. O primeiro foi do anfitrião, Ricardo Cavalcante, que, ouvido em silêncio, começou no modo politicamente correto, ao dar “boa noite a todos e a todas”. 

Na sua fala, ele fez questão de posicionar a Fiec diante das questões nacionais da economia. E afirmou: 

“Seguimos sujeitos a uma carga tributária que oprime e desmotiva o empreendedor a seguir acreditando no quanto é capaz de crescer. Vivemos um cenário de juros altos, que compromete a saúde financeira das empresas em geral. Os juros reais que se praticam hoje no Brasil, são insustentáveis. Para que o país possa crescer de forma consistente, precisamos ir além das questões políticas, promover um debate socioeconômico que possibilite a geração de regras claras, compatíveis com o desenvolvimento que queremos.”

Ricardo Cavalcante repetiu o que vem dizendo há meses: o país precisa de uma reforma tributária que respeite as diferenças regionais. E emendou:

“Se pensarmos na redistribuição federativa, dois aspectos precisam ser considerados: um deles é o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que adota o princípio do destino. Segundo estimativas do Ipea, como o Ceará consome mais do que vende, teria um acréscimo de R$ 2 bilhões em sua arrecadação anual. Outro é o Fundo de Desenvolvimento Regional, instrumento que deverá aportar cerca de R$ 40 bilhões para as regiões menos desenvolvidas, garantindo, até 2032, recursos essenciais para a competitividade das empresas que possuem incentivos fiscais do ICMS.”

O presidente da Fiec fez  “um agradecimento especial ao governador Elmano de Freitas, que, sensível às nossas reivindicações, extinguiu o Fundo Estadual de Sustentabilidade Fiscal, mantendo os benefícios fiscais anteriormente acordados com as empresas”.

Empenhado no esforço de tornar realidade o projeto do Hub do H2V no Pecém, Ricardo Cavalcante inundou o auditório com as seguintes informações:

“Para se ter uma ideia da dimensão das mudanças que estão por vir, basta olhar os números divulgados pelo Governo do Estado. Temos atualmente 100 empreendimentos operando na geração de energia eólica, e outras 72 usinas que estão em desenvolvimento. Na modalidade offshore, 22 parques estão em processo de licenciamento ambiental. 

“Na matriz solar, o estado conta com 31 parques em operação e mais 332 em fase de implantação. Na área do Hidrogênio Verde, já contamos com 29 protocolos assinados para a chegada de empresas, com investimentos superiores a US$ 30 bilhões e criação de mais de 100 mil empregos. Tais números apontam de forma inequívoca para um novo Ceará, um estado repleto de oportunidades para todos aqueles que resolvam investir suas energias na oferta de produtos e serviços sintonizados com as transformações em curso no mundo.”

Depois de Ricardo Cavalcante, foi a vez de Carlos Prado. Do alto dos seus 82 anos e com a experiência de quem fundou e fez prosperar a Ceará Máquinas Agrícolas (Cemag) e a Itaueira Agropecuária, dois portentos da agroindústria cearense, ele contou a um só tempo sua história, a de sua família e a de suas empresas, lembrando que a Cemag completará, no dia 13 de agosto, 50 anos de exitosa atividade.

Recordou que há 45 anos frequenta os corredores e os ambientes da Fiec, tornando-se assíduo desde 1992, quando se elegeu presidente da entidade seu amigo Fernando Cirino Gurgel. 

Hoje – ele disse – a Fiec está a serviço do desenvolvimento do Ceará, graças à decisão do seu presidente, Ricardo Cavalcante, que desde fevereiro de 2021 mergulhou no esforço de tornar o Ceará um ator mundial na produção do Hidrogênio Verde.

Prado disse que o recente ato de assinatura do acordo que cria o Corredor do Hidrogênio Verde ligando os portos do Pecém e de Roterdã, com a presença do primeiro-ministro holandês Mark Rutte e do governador Elmano de Freitas, foi “um passo concreto que colocou o Ceará como um dos potenciais líderes mundiais na produção do Hidrogênio Verde”.  

Em seguida, falou o reitor Cândido Albuquerque, fazendo-o em nome dos homenageados com a Medalha do Mérito Industrial. Mestre do Direito, ele resumiu a vida empresarial de José Carlos Pontes e de Maria Regina Saraiva Dias Branco, enaltecendo as virtudes de cada um deles. 

Sobre Regina Dias Branco, o reitor disse que ela “tem o sangue do empreendedorismo correndo nas veias”, citando o avô, o português Manoel Dias Branco, que fundou a Padaria Imperial, semente da gigantesca árvore cultivada por seu inesquecível pai, Ivens Dias Branco, hoje transformada num complexo de moinhos de trigo e fábricas de massas e biscoitos espalhados por vários estados brasileiros, de cujo mercado nacional é a líder absoluta.

Cândido Albuquerque encerrou assim suas referências a Regina Dias Branco: “Regina tem deixado sua marca de empreendedora responsável e cuidadosa, mas destemida e visionária, no que se assemelha aos seus antepassados”.

Ao falar sobre José Carlos Pontes, o reitor da UFC foi feliz, ao referir-se, também, à sociedade que ele celebrou em 1974, ainda nos tempos de estudante, com seu amigo e colega da Faculdade de Engenharia, Erivaldo Arrais, com o qual fundou uma empresa construtora que hoje é um conglomerado empresarial com atuação nacional em diferentes áreas da atividade econômica.

“Há cerca de meio século, o grupo tem uma presença forte e constante em projetos estratégicos para a infraestrutura do Estado do Ceará, da Região Nordeste e do Brasil. Idealista e corajoso, no portfólio do Grupo Marquise podemos citar o Porto do Pecém, a ferrovia Transnordestina, além da primeira usina de biometano do Nordeste”, disse Cândido Albuquerque.

Mais adiante, o reitor não frustrou a expectativa do gigantesco auditório e abordou temas nacionais. Ele disse: 

“Na busca pelo desenvolvimento socialmente justo, a sociedade não aceita artifícios que coloquem em linha de colisão os objetivos do Estado e os da sociedade civil. Empreendedores e Estado precisam andar juntos, pois, como afirmou Margaret Thatcher em 1979, ‘não há alternativa ao livre mercado’ como forma de estimular a inovação e o crescimento”.

Depois, o reitor citou o pensador norte-americano contemporâneo Thomas Sowell, para quem “os princípios liberais são compatíveis com a busca da justiça social, desde que essa busca não implique no sacrifício da liberdade individual”.  

E completou, afirmando: “Sem liberdade, não há justiça social”. 
 
Cândido Albuquerque acentuou:  

“Não mais podemos viver sob o signo da divisão, principalmente daquela promovida por visões reacionárias e intolerantes, ainda que proclamadas artificialmente como mensageiras do amor. Precisamos do diálogo franco, tolerante e respeitoso, âmbito no qual não se pode aceitar o discurso do ódio, ainda que disfarçado, como se tornou comum no Brasil. 

E deu notícias do que sua gestão na UFC fez e está fazendo:

“A nossa UFC, que em 65 anos de existência tinha apenas uma patente, nos últimos quatro anos conquistou, definitivamente, mais 41 patentes, e vamos deixar mais de 450 pedidos de patentes depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), resultante do esforço dos nossos cientistas e da prioridade conferida pela atual administração superior”.
 
Finalizando a cerimônia, o governador Elmano de Freitas discursou de improviso e, para começar, deu destaque à presença do ex-governador Ciro, “que muito serviço prestou e tem prestado ao nosso Ceará”. 

O governador referiu-se elogiosamente a cada um dos homenageados – José Carlos Pontes, Regina Dias Branco, Cândido Albuquerque e Carlos Prado, destacando a contribuição que eles têm dado ao desenvolvimento social e econômico do estado.

Ele disse que o país passará por um grande debate em torno da Reforma Tributária, esperando que ela estabeleça regras que permitam a redução das desigualdades regionais. E disse que não há nenhuma chance de o país crescer sem a participação do setor produtivo, e terminou dando um “viva a Fiec, vivam os industriais”.