Missão da Faec nos EUA constata: é caro o custo da mão de obra
Maioria dos trabalhadores na agricultura da Califórnia são mexicanos, que recebem US$ 120 por dia (R$ 600)
No fim de semana que passou, os 25 integrantes da Missão da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) em visita a grandes projetos de irrigação da Califórnia (EUA) conheceram outro aspecto da agricultura norte-americana – o custo da mão de obra.
Eles ficaram sabendo que a maioria dos trabalhadores empregados nas fazendas agrícolas do Oeste dos EUA são mexicanos, que recebem US$ 15 por hora, o equivalente a US$ 120 (R$ 600) por dia – jornada de 8 horas.
O secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Governo do Ceará (SDE), Sílvio Carlos Ribeiro, que é, digamos assim, consultor técnico da missão, disse à coluna que esse é um salário justo para os padrões americanos, pois equivale ao salário mínimo daqui (EUA), e tanto é verdade que os mexicanos continuam a chegar à região, cuja atividade econômica se expande no campo.
Para deixar clara a disparidade, ele citou que no México a diária do trabalhador rural é de US$ 10, “e aqui na Califórnia é de US$ 120”.
Sílvio Carlos Ribeiro não disse, mas fica evidente que essa disparidade é uma das causas da crescente migração de trabalhadores sul-americanos e centro-americanos para os Estados Unidos, o que já virou uma pedra política no sapato de Joe Biden e de Donald Trump.
O presidente da Faec, Amílcar Silveira, lamentou que no interior do Ceará as empresas agropecuárias estejam, neste momento, enfrentando dificuldades para a contratação de mão de obra, uma vez que, por causa dos programas sociais bancados pelo governo federal – que concedem benefícios financeiros às populações rurais, sem contrapartida laboral, proporcionando uma espécie de ociosidade remunerada – “há pouca gente disposta a trabalhar, por exemplo, na colheita da safra deste ano”.
(Há uma proposta feita ao presidente Lula pela Abrafrutas no sentido de que seja permitido que o trabalhador inscrito no Bolsa Família possa acumular esse benefício com o pró-labore periódico, vigente durante a colheita das safras, pago pelas empresas agrícolas. Até agora, porém, o Palácio do Planalto não deu resposta à sugestão).
O secretário Sílvio Carlos Ribeiro chamou atenção para um detalhe: as fazendas agrícolas que produzem morangos na região de Ventura, na Califórnia, estão testando máquinas robotizadas cujas mãos mecânicas, ativadas por sensores de alta sensibilidade, colhem somente as frutas maduras. As que ainda não amadureceram são desprezadas pelos robôs, que as recolherão posteriormente.
“Os mexicanos começam a imaginar o que acontecerá quando essas máquinas de colheita automática começarem a substituir a mão de obra humana”, comentou ele, acrescentando outro detalhe interessante: já são usadas nessas fazendas de produção de frutas máquinas chamadas de “sugadoras de insetos”. Passeando por cima das plantações, elas “chupam” os insetos, evitando que surjam pragas nas áreas cultivadas.
Na região de Ventura, as fazendas agrícolas não dispõem de água da transposição do rio Colorado. A água com a qual os agricultores irrigam suas áreas cultivadas vem do subsolo, extraída de poços profundos por meio de motobombas.
Por isto mesmo, o processo de irrigação é o mais rigoroso possível, estando umbilicalmente atrelado à necessidade de produzir mais com menos água, obedientes às recomendações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
De acordo com o testemunho do secretário Sílvio Carlos Ribeiro, os cearenses da Missão da Faec consideraram “muita cara a mão de obra empregada nas fazendas californianas visitadas. Mas, na opinião deles, “é algo que compensa”, pois, por enquanto, o trabalho humano tem-se mostrado mais eficiente do que a colheita mecânica, robotizada, que apresenta irregularidades ainda não sanadas pelas indústrias que fabricam os robôs.
No sábado, 6, já com a presença do secretário Salmito Filho, que se integrou à missão na véspera, os cearenses passaram o dia em Santa Bárbara, outra rica região da Califórnia. Visitaram vinhedos (o estado da Califórnia é o principal produtor de vinhos dos Estados Unidos e seus produtos têm muita fama no mundo, inclusive na Europa).
À tarde, os cearenses visitaram fazendas que cultivam uvas de mesa e para a produção de vinho. Viram, também, áreas plantadas de amêndoas, incluindo o pistache.
Ontem, domingo, a visita foi à região de Passo Robles e São Luiz Obispo, em cujo condado há várias cidades que produzem uva de mesa e para a produção de vinho. Em Passo Robles, uma área montanhosa próxima ao mar, com altitude favorável à produção de uvas, a Missão da Faec viu como se cultiva a uva e como se produz vinho. Assim como o Napa Valley, região que produz os mais premiados vinhos norte-americanos, o Passo Robles é uma região onde a vinicultura prospera em alta velocidade.
“Todas as áreas cultivadas com uvas de mesa e para vinho são diretamente assistidas por pesquisadores da Universidade da Califórnia”, explicou Sílvio Carlos Ribeiro, o que prova, mais uma vez, a perfeita interação entre a academia – que é privada – e as empresas agrícolas californianas, algo que se repete em toda a geografia dos Estados Unidos.
Os cearenses surpreenderam-se ao visitar, dentro de uma das fazendas vinícolas de Passo Robles, uma estação meteorológica administrada pela Universidade da Califórnia, que orienta o produtor quanto ao melhor momento de plantar, ou de não plantar.
Resumindo: as pesquisas das universidades norte-americanas não enfeitam prateleiras, elas são desenvolvidas para atender às necessidades das empresas privadas na indústria e na agropecuária e em outras áreas da atividade econômica.
Detalhe: hoje, na Califórnia, a produção de uvas é a atividade da fruticultura que lidera o Valor Bruto de Produção; depois, são as amêndoas e, em terceiro lugar, os citrus (laranja, limão, tangerina). É por esta razão que a produção de uva tem todo o apoio da Universidade da Califórnia.
O secretário Salmito Filho gostou do que viu e comentou com o presidente da Faec, Amílcar Silveira, que em algumas regiões do Ceará, que têm solo e clima favoráveis, será possível produzir uva. A Itaueira Agropecuária já produz uva de mesa, sem caroço.
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