Nesta segunda-feira, 8, o presidente Lula recebe no Palácio do Planalto o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que pediu a reunião para resolver, de uma vez por todas, se ele permanece ou não no comando da maior estatal brasileira. Jean Paul, que é um especialista em petróleo e gás, engenheiro dos quadros da empresa, já aposentado, vem desenvolvendo na Petrobras uma gestão técnica, algo que não agrada ao seu hierarca funcional, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nem ao seu hierarca político, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e muito menos ao comando do PT.
Essa trinca quer mudar a diretoria da Petrobras, quer interferir na sua política de preços e quer, como alvo a ser alcançado, melhorar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela redução do preço da gasolina e do diesel.
No Palácio do Planalto, Jean Paul já é tratado como ex-presidente da Petrobras.
Economistas e cientistas políticos estão advertindo que tirar Prates da presidência da estatal será um tiro no pé do governo. Para além dos aspectos da política, deve ser levado em conta que o preço internacional do petróleo do tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres e referenciado pela Petrobras, passou dos US$ 90 por barril, para entrega em junho. Há um mês, esse preço estava abaixo dos US$ 80.
Aconselha o bom senso que a Petrobras terá, assim, de reajustar para cima o preço dos combustíveis no mercado interno brasileiro para equilibrar o seu caixa. Se o fizer, e terá de fazê-lo mais cedo ou mais tarde, ficará pior o que já está ruim: a popularidade do presidente.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina no Brasil está 17% – ou R$ 0,56 – menor do que o do mercado externo. A defasagem do óleo diesel é de R$ 10% – ou R$ 0,36.
Como 14 das 17 refinarias brasileiras são da Petrobras, é ela que dita os preços internos dos combustíveis, causando prejuízo crescente aos importadores e às refinarias particulares. Este é o lado técnico da questão. Mas há o lado político, que se mistura com a posição assumida pelo mercado, claramente a favor da permanência de Jean Paul Prates.
Na sexta-feira, o mercado financeiro foi abalado pela notícia de que Aloizio Mercadante substituiria Jean Paul Prates no comando da Petrobras. O mundo desabou sobre a Bolsa de Valores, onde os papeis da Petrobras derreteram pela manhã.
Assustado com a péssima repercussão da notícia, o Palácio do Planalto anunciou, como moeda de troca, que a Petrobras distribuirá 50% de dividendos extraordinários. As ações valorizaram-se à tarde.
No sábado e no domingo, os profissionais da política – os do Centrão no meio – entraram em campo e parecem haver encontrado uma solução para o problema, mas tudo no condicional: Jean Paul Prates seguiria na presidência da Petrobras e Mercadante iria para a presidência do Conselho de Administração da empresa. Lula decidirá hoje, é o que esperam o mercado e a política.
Erra o governo ao tratar a maior estatal brasileira como uma repartição de segunda categoria, cujos chefes são trocados de acordo com o interesse político da ocasião. Se isto acontecer de novo – repetindo o que se passou no governo Dilma – o governo piorará sua relação com os agentes econômicos e poderá alargar seus índices de impopularidade.
Hoje, no Palácio do Planalto, Lula e Prates deverão fumar o cachimbo da paz, o que poderá significar:
O pagamento de 50% dos dividendos extraordinários oriundos do lucro da Petrobras em 2023 – algo como R$ 21,5 bilhões, boa parte dos quais irá para o Tesouro Nacional, onde a aguarda o ministro Fernando Haddad, que ainda sonha com a meta de zerar o déficit neste ano;
A ida de Aloízio Mercadante para a presidência do Conselho de Administração da empresa, decisão que o mercado já vê como equivocada, mas entendendo que, dos males, é o menor;
Redução dos atuais preços dos combustíveis, o que será visto como uma clara interferência política do governo na gestão da estatal, pois, em vez de redução esses preços terão de ser reajustados diante da subida do preço internacional do petróleo;
Troca de diretores da empresa por pessoas indicadas por partidos políticos da base de apoio do governo.
Esta segunda-feira será, pois, mais um dia em que estarão na berlinda, outra vez, o governo do presidente Lula, a Petrobras, o mercado financeiro e o mundo da política nacional. O jornalismo não se entediará hoje.
AO ZIRALDO: MINHA ETERNA GRATIDÃO
Em 1960, repórter da Rádio Dragão do Mar e colunista do “O Estado”, este repórtr estagiou por seis meses na revista “O Cruzeiro”, a maior da América do Sul na época. Quem organizou esse estágio foi Paulina Kaz, diretora de Difusão Cultural da revista, em cuja redação conheci David Nasser, Luciano Carneiro, Ubiratan de Lemos e Borjalo, criador do “Amigo da Onça”.
E conheci Ziraldo e Gláucio Gil, este um teatrólogo em ascensão. Os dois apiedaram-se do jovem cearense que estava lá para aprender na revista e na escola. O estágio era remunerado por um pró-labore mensal suficiente, apenas, para custear passagem de ônibus da Gávea à rua do Livramento, 2023, endereço de “O Cruzeiro”. Nada sobrava para um prazer fora de casa.
Vendo minha angústia, Ziraldo Alves Pinto e Gláucio Guimarães Gil decidiram socorrer-me, e ambos dividiram entre si, meio a meio, o valor da mensalidade do Colégio Guanabara, no bairro de Botafogo, do qual o acima e abaixo assinado foi aluno ao longo de um semestre.
Ao Ziraldo, que, desde sábado, 6, a chamado de Deus, está a desenhar no Céu, e a Gláucio Gil, que habita desde 1965 as moradas celestes, a eterna gratidão deste colunista.
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