Mais etanol na gasolina aquece demanda por soja e milho

Medida fortalece bioindústria nacional, estimula a produção interna e descentraliza a atriz energética

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 12:56)
Legenda: A produção nacional de milho e soja subirá por causa do aumento da sua mistura com à gasolina
Foto: Fabiane de Paula / SVM

Atenção! A partir do dia 1º de agosto, entrarão em vigor as novas misturas obrigatórias de biocombustíveis no país: o etanol passará para E30 e o biodiesel para B15, ou seja,  elevando de 14% para 15% a proporção de renováveis nos combustíveis fósseis.

A medida, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), tem como objetivo reduzir a dependência do Brasil em relação à importação de combustíveis fósseis, especialmente em um momento de instabilidade no mercado global de energia.

Além de representar um passo estratégico rumo à autossuficiência energética, a mudança terá efeito direto sobre o mercado agrícola, especialmente nas cadeias de milho e soja. No caso do etanol, a expectativa é de uma demanda adicional de até 2 bilhões de litros de etanol anidro ao ano, um impulso que tende a consolidar o milho como principal vetor de crescimento na produção do biocombustível.

Yedda Monteiro, analista de inteligência e estratégia da Biond Agro, avalia que a decisão é mais do que uma diretriz técnica:

“A adoção simultânea do B15 e do E30 é um recado político e econômico claro: o Brasil quer e pode ser protagonista global na transição energética baseada no agro. A cadeia produtiva da soja e do milho será diretamente beneficiada com mais demanda, investimentos e previsibilidade de preços”, afirma.

MILHO

De acordo com dados da Biond Agro, o Brasil poderá antecipar para 2025 o uso de mais de 30 milhões de toneladas de milho na produção de etanol, volume que antes era projetado apenas para 2026. Os estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia e Tocantins serão os principais beneficiados com investimentos de novas instalações de indústrias de etanol de milho.

Além disso, a nova política de renováveis também mira a descentralização da produção energética, com reflexos diretos em regiões do interior ligadas ao agronegócio. A tendência é de que a expansão da bioenergia impulsionará novos polos de produção de etanol e biodiesel fora dos grandes centros, gerando emprego, renda e infraestrutura no campo.

“A alta do biodiesel favorecerá o consumo doméstico de soja, mas ainda enfrentamos desafios, como a forte dependência do mercado externo. O ideal é que o crescimento da bioenergia venha acompanhado de políticas de estímulo ao uso industrial interno da soja”, diz a analista.

Soja  beneficiada 

A ampliação do B14 para o B15 também projeta impactos diretos sobre o processamento da soja no Brasil. Segundo o levantamento da Biond, o país processará cerca de 73 milhões de toneladas do grão ainda em 2025, puxado pela demanda interna por farelo e óleo.

“Esse avanço regulará o mercado, estimulará o esmagamento interno e reduzirá a dependência da exportação como única alternativa. É um passo importante para fortalecer a autonomia energética do país com base no que temos de melhor: o nosso agro”, analisa Yedda.

A decisão do CNPE ocorre em meio ao cenário geopolítico instável no Oriente Médio, região central na oferta global de petróleo. Ao mesmo tempo, reforça o compromisso do Brasil com uma matriz energética mais limpa, diversificada e resiliente.

“A elevação simultânea do E30 e do B15 mostra que o Brasil aposta em combustíveis renováveis não apenas por sustentabilidade, mas como um vetor de segurança energética e desenvolvimento regional”, finaliza Yedda Monteiro.

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