Tem muita importância a primeira viagem que, desde ontem, o presidente Lula empreende ao exterior depois assumir a chefia do governo. É da tradição da política diplomática brasileira priorizar as relações com o governo e o povo da Argentina, onde está Lula. O país vizinho é o principal parceiro comercial do Brasil no continente latino-americano.
Mas terá importância maior – do ponto de vista econômico – o encontro de Lula com o seu colega do Uruguai, Luís Lacalle Pou, marcado para quarta-feira, 25, em Montevidéu. Por quê? Porque o governo uruguaio iniciou negociações com o da China para a celebração de um acordo unilateral de Livre Comércio, que, na opinião do novo chanceler brasileiro Mauro Vieira, poderá inviabilizar o Mercosul.
O Mercosul é um tratado aduaneiro que, com uma Tarifa Externa Comum (TEC), permite a livre troca de mercadorias entre os seus signatários – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Na conversa com o uruguaio Lacalle, o presidente Lula tentará dissuadi-lo de prosseguir com a ideia do acordo com a China, algo que já fez o governo do Chile – que está fora do Mercosul.
Os uruguaios devem ter percebido que o Mercosul produz mais espuma do que ações concretas — é só reparar no acordo celebrado com a União Europeia para o livre comércio de produtos agrícolas entre as duas partes: ele está paralisado há quatro anos.
O governo do Uruguai, cuja economia agropecuária vai muito bem, quer dinamizar seu comércio com o mundo, e um acordo de Livre Comércio com a China será um passo ousado e correto nessa direção.
Este é um tema muito atual que tem tudo a ver com a crescente presença chinesa no comércio mundial.
Atentem: os Estados Unidos estão, neste momento, promovendo um enorme esforço de atração, para a sua própria geografia, de setores de tecnologia muito sensíveis à sua indústria e à própria segurança nacional, como o da produção de chips e semicondutores, hoje concentrada em poucas áreas do planeta, sendo Taiwan a principal delas.
O governo do presidente Joe Biden quer ter em sua própria casa – ou na casa de aliados, como o Reino Unido e a Alemanha – essa indústria tecnológica.
Taiwan é uma ilha de 36 mil km² -- um pouco maior do que a do estado de Alagoas, que tem 27,8 mil Km². Foi para lá que fugiram, em 1949, as tropas do generalíssimo Chian kai-shek, derrotadas e expulsas da China continental pelo Exército do Povo liderado por Mao Tsé Tung.
Há mais de 70 anos, o governo chinês reivindica o poder sobre Taiwan – um território protegido pelos EUA – e agora o presidente Xi Xiping vem dizendo e repetindo que, até 2049, quando a revolução comunista chinesa celebrará 100 anos, a ilha e seus habitantes voltarão a fazer parte da China.
Isto quer dizer que, a qualquer momento, Xijiping ordenará a invasão de Taiwan, assumindo todo o controle de sua economia e de sua administração política.
Quer dizer, também, que o centro de alta tecnologia em que se transformou Taiwan deixará de ser fornecedor de chips e semicondutores aos Estados Unidos e seus aliados para dedicar-se ao suprimento das necessidades da já sofisticada indústria chinesa.
Os norte-americanos – cientes de que isso acontecerá e, prevenindo-se – já cuidam de transferir para lugar seguro a produção da tecnologia taiwanesa que lhes interessa.
Voltando ao tema de abertura desta coluna: a viagem que Lula faz nesta semana aos dois países do Cone Sul é a primeira, mas a segunda, para os Estados Unidos, já está programada para o próximo dia 10 de fevereiro.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil – o primeiro é a China, com a qual há uma balança comercial superavitária a favor do lado brasileiro, razão por que a visita de estado a Washington tem alta relevância.
O Brasil, em qualquer circunstância, é visto e tratado como dono de uma das 10 maiores economias do mundo. E isto não é pouca coisa.