Lula lá, Elmano cá. A expectativa empresarial sobre os novos governos

Na cena federal, Lula promete romper o teto de gastos, o mercado reage e é desdenhado. Na cena estadual, Elmano Freitas já sabe que as demandas dos cearenses se sofisticaram.

Legenda: Alckmin, Camilo, Lula e Elmano juntos no último dia 7em São Paulo. Assumirão no dia 1º de janeiro de 2023.
Foto: Divulgação

Há várias expectativas estimulando emoções no empresariado cearense em torno do ministério do futuro governo do eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, também, a respeito do secretariado do igualmente eleito governador do Ceará, Elmano Freitas. 

Nas eleições de outubro passado, deu Lula lá e Elmano cá, a dobradinha com a qual sonharam os petistas. Esta coluna não quer especular sobre quem será secretário ou presidente de empresas estatais cearenses, posto que se trata de decisão exclusiva do eleito, que tomará posse do Palácio da Abolição, sede do Poder Executivo, no dia 1º de janeiro, no mesmo dia em que Lula se apossará da Presidência da República, no Palácio do Planalto. 

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O que se torna importante e relevante, neste momento, é ressaltar o fato de que as demandas do Ceará e dos cearenses se sofisticaram. Elas não são mais as de outrora – um asfalto aqui, uma areninha ali, um calçamento acolá, uma Delegacia de Polícia mais adiante.

O que hoje está na lista das prioridades da população são a educação informatizada e profissionalizante de tempo integral, a banda larga de alta velocidade, a tecnologia 5G na área rural, a mesma tecnologia capaz de permitir uma cirurgia robotizada por vídeo conferência, o Hub do Hidrogênio Verde, o fim das termelétricas e de seu carvão mineral poluente, a multiplicação dos parques de geração de energia limpa e renovável solar fotovoltaica e eólica onshore e offshore, enfim, tudo o que puder causar o chamado desenvolvimento sustentável. 
 
Depois do nariz de cera acima, voltemos nossos olhares para o que se passa agora na cena federal e, destacadamente, na estadual. 

Na primeira, sobressai o conjunto de declarações que, quinta-feira, 10, pronunciou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, reiterando seu compromisso de priorizar a população mais pobre, os desassistidos, e de menosprezar o chamado mercado e de, além disso, romper o teto de gastos para permitir que o mais carente possa alimentar-se três vezes ao dia. 

Pelo que disse e repetiu, Lula não tem qualquer preocupação com o déficit do orçamento, com o rombo nas contas públicas e com o equilíbrio fiscal. Hoje, de acordo com ele, o que importa é o equilíbrio social. Então, gastar é preciso. E este discurso assusta o mercado, que já reagiu, mostrando suas garras. Mas o presidente eleito já desdenhou o mercado.
 
Foquemos, porém, o cenário estadual cearense. Aqui, também, o primeiro compromisso do governador eleito será com a população mais pobre. Haverá uma reforma administrativa, com a criação de novas secretarias, o que aumentará os gastos, mas sem pôr em risco o equilíbrio fiscal que vem desde 1987. Elmano Freitas sabe disto e, bem orientado pela governadora Izolda Cela, pelo ex-governador Camilo Santana e pelo coordenador da equipe de transição, Eudoro Santana, trabalhará no sentido de que as contas se mantenham como estão, equilibradas – e o contribuinte agradecerá. 

O tamanho da máquina estadual, que hoje é enxuto, poderá ser ampliado, de acordo com o que no mesmo sentido vier a fazer o governo Lula. Já se sabe que a Esplanada dos Ministérios ganhará novas pastas, como a do Planejamento, a da Indústria, a do Desenvolvimento Agrário e a dos povos originais (os indígenas), os quais poderão ganhar do STF uma decisão que lhes garantirá nova política de demarcação de terras, o que ampliará suas áreas de domínio, não só na Amazônia, mas aqui no Nordeste, com o Ceará incluído.
 
O Governo do Ceará já tem uma Secretaria de Desenvolvimento Agrário, que cuida com muita atenção da Agricultura Familiar. O governador Elmano Freitas tem graves desafios à frente, um dos quais diz respeito à agropecuária empresarial, que, sendo atividade empregadora intensiva de mão de obra, principalmente na fruticultura, teme invasão de terras e, consequentemente, um conflito perigoso com os invasores. 

Ninguém deseja que isso aconteça, mas já aconteceu na Chapada do Apodi, onde pessoas estranhas à agropecuária invadiram, ocuparam e mantêm ocupada até hoje uma boa área do Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi – o Dirja.
 
O que esta coluna apurou dá conta de que, ao redor de Elmano Freitas, há um grupo de pessoas com experiência na política e na gestão pública capaz de contribuir, com sua experiência, para uma boa convivência entre os diferentes segmentos da sociedade durante os próximos quatro ou oito anos do novo governo.