Opinião, análise e conclusão de uma conversa de empresários cearenses da indústria e da agropecuária, testemunhada ontem por esta coluna:
Se quiser, mais uma vez, ser reeleito em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de virar as costas para maus assessores, deixar de ouvir o que diz a alta cúpula do seu partido, o PT, e passar a trabalhar com o único objetivo de frear a inflação que tenta escapulir do controle da Autoridade Monetária.
A economia é que dará, outra vez, as cartas do baralho eleitoral daqui a dois anos. Como acaba de acontecer nos EUA.
Para ajudar o Banco Central, que é a Autoridade Monetária, a domar a alta dos preços e trazê-los de novo para o caminho da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) – integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC – o governo Lula 3 terá de adotar duras medidas, a primeira das quais será um drástico corte de suas despesas.
Um pacote com medidas na área fiscal está prometido há mais de dois meses e seu anúncio foi mais uma vez adiado, agora para a próxima semana, depois da reunião do G20, no Rio de Janeiro, para a qual chegarão domingo o ainda presidente dos EUA, Joe Biden, e o poderoso presidente da China, Xi Jiping, considerado o maior estadista do mundo nos dias de hoje.
Foquemos no que opinaram os empresários em relação ao próximo ano eleitoral, o de 2026: Para estancar a crescente inflação, Lula e seu governo terão de mostrar, na prática, vontade de enfrentar, durante um ano, até dezembro de 2025, uma temporada de popularidade baixa. Será o preço a pagar, nesse período, pelo controle dos preços e pela correção da política fiscal. Mas o prêmio virá em seguida será saboreado ao longo de 2026 com seguinte cenário: inflação em baixa, contas públicas equilibradas, taxa de juros em declive, PIB em aclive, déficit zerado e mais dinheiro para investimentos, isto é, mais empregos.
A dúvida é quanto ao câmbio, que dependerá das decisões que vierem a ser tomadas pelo eleito presidente dos EUA, Donald Trump. Ele está prometendo um pacote de medidas tão severas – entre as quais a de taxar em até 60% os produtos “made in China” e em 20% os “made in Brazil”, por exemplo – que os melhores consultores em economia e geopolítica desconfiam de sua viabilidade.
Trump promete, ainda, deportar, durante o seu governo, milhões de imigrantes ilegais. Se Trump deportar só 1 milhão em três anos já terá obtido uma vitória. É impossível, em quatro anos, como ele promete, mandar de volta a seus países de origem 11 milhões de pessoas que, ilegalmente, trabalham nos EUA. Em nenhum país há uma logística de transporte que permita o cumprimento dessa promessa.
Na vizinha Argentina, a duríssima política de austeridade e de radicais mudanças implementadas pelo presidente Xavier Milei começam a dar resultados. Sua popularidade, que despencou nos últimos nove meses, está subindo como resultado de todo o sacrifício que foi e segue sendo imposto à sociedade argentina.
Acontecerá o mesmo aqui. Se, nos próximos 12 meses, Lula e sua equipe abraçarem o difícil desafio de recolocar o trem do governo nos trilhos do ajuste fiscal, exigido para a superação das atuais dificuldades, terão eles o aplauso popular como consequência. A história está cheia de exemplos, e o da Argentina é só mais um.
Todavia, não será fácil, e o próprio presidente Lula tem certeza disto. Afinal, para esse sonhado ajuste das contas públicas, será preciso que, também, os poderes Legislativo e Judiciário prestem a sua inestimável colaboração, cortando seus gastos.
Não é possível entender como desembargadores de alguns Tribunais de Justiça estaduais recebam, por mês, mais de R$ 100 mil, entre vencimentos, gratificações e outros penduricalhos. É zombar, é fazer pouco, é desrespeitar o contribuinte, seja ele de pequeno, médio ou grande porte.
Igualmente não tem cabimento o que faz o Legislativo – leia-se o Congresso Nacional – que inventou um tal de orçamento secreto, por meio do qual o dinheiro do OGU, a nossa Lei de Meios, é liberado sem qualquer transparência, graças às famosas Emendas Parlamentares. Ora, não podem ser mesmo transparentes procedimentos que acontecem sob rigoroso sigilo, ou seja, distantes do olhar da sociedade. É na Câmara dos Deputados que o povo está representado. Pois foi essa mesma casa legislativa que criou o orçamento secreto, espécie de ralo pelo qual se escoa, misteriosamente, um pedaço grande das dotações orçamentárias.
Os empresários personagem deste texto reconhecem que Lula é um fenômeno de massa que os acadêmicos ainda não estudaram em profundidade. Ele é, digamos assim, o guia de uma banda do eleitorado brasileiro, que hoje está preocupada com os preços crescentes do pãozinho, do leite, do café, da carne, do livro escolar, da gasolina e do óleo diesel – e isto tem nome: inflação.
Para manter-se por mais 4 anos como luzeiro desse eleitorado, o presidente Lula terá de vencer os desafios acima descritos, e isto deve começar hoje. Amanhã, poderá ser tarde demais.
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