Ontem foi um dia muito bom para quem exporta, mas muito ruim para quem importa: o dólar disparou, mais uma vez, e ultrapassou a barreira dos R$ 5,50, fechando o dia cotado na marca dos R$ 5,51. Há um mês, a moeda norte-americana passeava entre R$ 4,90 e R$ 5.
Aconteceu e segue acontecendo o seguinte: os juros nos Estados Unidos mantêm-se elevados e, por isto mesmo, os investidores estão saindo dos países emergentes, como o Brasil, e preferindo as aplicações lastreadas pelos títulos do Tesouro norte-americano. Isto faz o dólar subir aqui e no resto do mundo.
Mas há uma causa interna, e uma delas são as declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem, outra vez, deu entrevista em que voltou a declarar que vai perseguir o equilíbrio das contas públicas pelo aumento da receita e não pela redução das despesas do governo.
Esta coluna repete: o governo pode resolver o déficit orçamentário pela redução ou extinção das renúncias fiscais. Mas isto será comprar briga com todo o Congresso Nacional e com os fortes grupos de interesse localizados, principalmente, no setor industrial.
O mercado e os economistas não gostaram do que ouviram do presidente Lula, e o dólar subiu para alegria dos exportadores e tristeza dos importadores.
Durante o dia de ontem, o dólar chegou a ser negociado a R$ 5,26, mas no final do dia ele recuou e fechou valendo R$ 5,21.
O presidente Lula parece remar contra a maré do seu próprio governo. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, vêm dizendo, nos últimos dias, que os gastos do governo serão reduzidos e que isso se fará, também, pela via do corte das isenções e incentivos fiscais, e era esta promessa que animava o mercado. Mas as declarações do presidente Lula, na entrevista que concedeu ao site do uol, jogaram um balde de água fria nos investidores.
Além disso, Lula ainda voltou a criticar a política monetária que é administrada pelo Banco Central. E levantou dúvidas sobre a nomeação do sucessor do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerrará no dia 31 de dezembro deste ano.
Na entrevista, Lula elogiou o economista Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC, cotado para o cargo, dizendo que ele é muito preparado, mas adiantou que este assunto não está hoje na sua agenda.
Mas a Bolsa de Valores fechou o dia de ontem em leve alta de 0,25%, e isto se deu por conta do IPCA-15, que é a prévia da inflação oficial brasileira para este mês de junho: ele veio com 0,39%, bem menos do que o 0,45 esperado pelo mercado e do 0,44% do mês anterior de maio, e isto serviu de alívio.
Também ajudou a aliviar o mercado a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ontem estabeleceu que, a partir de agora, a meta de inflação será contínua. Por decisão do CMN, a meta segue sendo de 3%, com variação de um e meio por cento para cima ou para baixo.