Loucura no mercado financeiro: dólar sobe a R$ 6,27 e Bolsa desaba

São várias as razões internas e externas dessa loucura. O mercado desconfia da capacidade do governo de administrar a economia. O Congresso ajuda a aumentar os gastos com suas últimas decisões.

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(Atualizado às 05:55)
Legenda: O dólar disparou, ontem, e fechou o dia cotado a R$ 6,27, um recorde histórico. O mercado desconfia do pacote fiscal do governo.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Deu a louca ontem no mercado financeiro brasileiro. O dólar foi de novo para as alturas e fechou a R$ 6,27, um recorde histórico. A Bolsa de Valores, por sua vez, despencou, encerrando o seu pregão com queda de 3,15%.  

Parece que temos uma tempestade perfeita: taxa de juros Selic no patamar de 12,25% ao ano, dólar chegando perto dos R$ 3,30, Índice Bovespa recuando para 120.771 pontos e o silêncio do governo sobre medidas fiscais concretas. Tudo isto somado intensifica as incertezas no mercado.

Para completar essa tempestade, há, também, 1) a desconfiança dos investidores na capacidade do governo de gerenciar a economia do país, que segue instável, 2) declarações infelizes do presidente Lula e do ministro Fernando Haddad, cada um dizendo coisas diferentes, 3) o fortalecimento da moeda norte-americana, o que se dá em todo o mundo, aumentando a pressão no câmbio, 4) a irresponsabilidade do Parlamento brasileiro, que, em vez de contribuir para a redução das despesas governamentais, está fazendo exatamente o contrário, elevando-as com suas decisões, e 5) o cenário da economia dos EUA, onde o dólar se fortalece antes da chegada do governo de Donald Trump.

Os analistas do mercado estão dizendo que, apesar das taxas de juros em patamares historicamente elevados, a incerteza continua dominando o cenário doméstico brasileiro. Os investidores, em vez de aproveitar as altas taxas de juros brasileiras, estão buscando ativos mais seguros, e um deles são os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. E esta é uma das razões da desvalorização do real e da valorização do dólar.

Os investidores de todos os tamanhos – principalmente os da classe média, que têm alguma poupança – já estão saindo do mercado de ações e procurando a renda fixa, aproveitando o rendimento do IPCA (inflação de 5%) mais 8% de juros. Ou seja, os ativos brasileiros continuarão perdendo valor. Péssima notícia para a indústria, principalmente para a construção civil porque ficará difícil obter financiamento para a compra da casa própria com juros tão elevados.

Pelo mesmo motivo, comprar a prestação nas lojas já está mais caro, e quem sofre com isto é o mercado varejista, incluindo o de eletroeletrônico, o de automóveis e o de confecções.

E como desgraça pouca é bobagem, para aumentar as incertezas vem aí a troca de comando no Banco Central, cuja presidência passará a ser ocupada pelo economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, que disse, na segunda-feira passada, que os juros vão baixar, dando a entender que o governo interferirá na política monetária, uma tarefa exclusiva da Autoridade Monetária.

Galípolo tomará posse do comando do Banco Central juntamente com mais três diretores indicados por Lula, que passa a ter maioria no colegiado. Isto põe mais pimenta na sopa da especulação.

Hoje, quinta-feira, 19, será mais um dia nervoso no mercado financeiro, que estará de olho, também, nas decisões do Congresso Nacional, onde segue tramitando o pacote de corte de gastos do governo, que já foi em parte desidratado.

Ontem, o governo não conseguiu maioria na Câmara dos Deputados para aprovar uma parte do pacote fiscal. A votação foi transferida para hoje por decisão do presidente da Casa, Artur Lira.

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