Lições da pandemia: Ceará precisa de um 'cluster' de saúde

Mestra em Gestão Estratégica, a cearense Cibele Gaspar sugere que o Ceará parta na frente e passe a produzir o que, nesta pandemia, está importando. Para isso, será preciso dar vida ao Plano Ceará Veloz, que prevê um cluster de saúde aqui.

Legenda: Materiais hospitalares hoje importados precisam de ser produzir no Brasil, e no Ceará, também.
Foto: Diário do Nordeste / AFP

Nova Economia da Saúde! O texto a seguir, elaborado para esta coluna por Cibele Gaspar, mestra em Gestão Estratégia e Administração Financeira, levanta a questão de o Brasil – o Ceará no meio – passar a produzir o que, nesta pandemia, o sistema nacional de saúde tem importado do exterior.

Para isso, por exemplo, entre outras coisas, será necessário tornar realidade o capítulo do Plano Ceará Veloz que prevê um cluster de saúde neste Estado.

Leia o que escreveu Cibele Gaspar:

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“Estudos realizados pela Price Waterhouse Company em 2021 consideram que a pandemia do Covid-19 não está apenas mudando um aspecto do sistema de saúde mundial, como uma nova descoberta ou abordagem à saúde pública; a crise está “editando o DNA” dos sistemas de saúde em todo o mundo, acelerando o que se poderia chamar de Nova Economia da Saúde (New Health Economy).

“Alguns pontos de inflexão nesse cenário são aceleradores chave de mudança e têm impacto nas cadeias produtivas de saúde de todo o mundo.  A virtualização da saúde, a inteligência artificial, as plataformas digitais, a necessidade de cadeias de suprimentos resilientes e distribuídas global e localmente, um novo olhar sobre a importância dos determinantes de saúde, a importância da acessibilidade e democratização dos serviços de saúde e, entre todos estes, a única certeza é de que tudo continuará mudando velozmente no ritmo do vírus e das inovações tecnológicas. 

“Cada um desses aceleradores sinaliza para desafios e oportunidades na cadeia produtiva de saúde que podem ser incorporados com sucesso à saúde do Ceará e do Brasil, se bem entendidos e aproveitados. 

“A resiliência da cadeia de suprimentos em saúde foi duramente testada com a pandemia. Percebe-se a clara necessidade de seu fortalecimento, por meio da colaboração, desconcentração e transparência. 

“O que experimentamos na primeira, na segunda e agora na terceira ondas da pandemia no Brasil demonstrou a necessidade de se estabelecer níveis de produção nacional mínimos de insumos para a saúde, de forma a reduzir a elevada dependência de fornecimento externo, fator crítico experimentado com bastante sofrimento pela sociedade brasileira em 2020 e 2021.  

“Faltaram insumos básicos como EPIS, testes, oxigênio, material de laboratório, material de uso hospitalar e de pesquisa clínica, e tivemos extrema carência de pessoas e de qualificação.  Hoje ainda faltam medicamentos para combater sintomas gripais em todo o País.

“Durante a pandemia de Covid 19, a fragilidade no tocante ao acesso democrático à saúde pela população global foi constatada como uma das principais causas das grandes perdas associadas ao vírus.

“Outro aspecto relevante do cenário que se projeta para a nova Economia da Saúde é a expectativa de que os determinantes sociais da saúde passarão para a porta da frente dos cuidados de saúde.  

“A pandemia de Covid 19 acendeu o sinal de alerta em relação à priorização da saúde mental, comumente relegada a segundo plano nas ações governamentais. Também desnudou o quanto as carências em moradia, emprego e renda interferem na qualidade de vida e, consequentemente, afetam a saúde. A visão das ciências da vida realmente precisa de ser ampliada, do suporte aos serviços do paciente para o bem-estar.

“O complexo industrial e de serviços da saúde caracteriza-se por um alto dinamismo industrial, elevado grau de inovação e interesse social marcante, portanto deve ser considerado como um elemento central para a concepção de políticas industriais e tecnológicas articuladas com a política de saúde. 

“Mesmo assim, até agora não se vislumbram propostas, planos ou políticas de convergência nacional, com espectro de curto ou médio prazo, que respondam às lacunas expostas, de modo que os brasileiros não venham a sentir na pele as mesmas deficiências. O círculo vicioso de dependência de produção externa se mantém, o que só potencializa riscos de novas crises sanitárias

“Tal cenário reforça a necessidade de se organizar uma ambiência de negócios em saúde, com efetiva participação dos setores empresariais, sociedade, academia, governo e ecossistema de inovação, para construir as bases de uma cadeia produtiva de saúde vigorosa, que possa atender às necessidades da população de forma sistêmica e auxiliar a economia a tornar-se resiliente a eventuais novas crises. 

“Faz-se necessário integrar ações de geração de renda, emprego e desenvolvimento com medidas que estimulem o investimento, financiamento e a organização da cadeia produtiva da Saúde, incorporando novas tecnologias e disseminando conhecimento, como forma de enfrentamento à atual e eventuais emergências sanitárias futuras, mas principalmente estabelecendo as bases para a concretização de um projeto de desenvolvimento socioeconômico de largo alcance. E, fundamentalmente, envolvendo as comunidades nesse processo, de forma a democratizar as oportunidades de melhoria de condições de vida e bem-estar da população.

“O Estado do Ceará tem as potencialidades e a oportunidade de fortalecer esse segmento econômico, considerando o ambiente de negócios e seu sistema de atração de investimentos. 

“O cluster de saúde é um dos segmentos prioritários do seu programa Ceará Veloz, que também prevê o estímulo ao desenvolvimento dos Distritos de Inovação em Saúde em Porangabussu e Eusébio.  Da mesma forma que foi e continua sendo referência nacional em ações de combate à pandemia, o Ceará pode e deve tornar-se referência em ações estruturantes para o cluster de saúde em todo o Brasil.