Indústriais cearenses reclamam: falta mão de obra qualificada

Na metalurgia, faltam soldadores. Há carência de operadores de caminhões do tipo "Munck" e, também, de "máquinas CNC". Mas Senai e Sesi já qualificam pessoal para o H2V e energias renováveis

Legenda: Alguns setores da atividade industrial no Ceará reclamam da falta de mão de obra especializada
Foto: Kid Júnior / SVM

Duas notícias! A primeira é muito boa: a taxa de desemprego no Brasil no trimestre encerrado no mês de junho passado foi de 6,9%, o nível mais baixo para o período desde 2014. Agora, a segunda notícia, que é muito ruim: faltam profissionais qualificados para ocupar as vagas de emprego mais requintado em diferentes ramos da atividade industrial no Ceará. 

A fonte desta informação são empresários da indústria que, integrando uma rede social, trocam mensagens sobre diferentes assuntos, entre os quais o da carência de mão de obra de qualidade para suas empresas. 

Um grande industrial da metalurgia contou à coluna que sua empresa está procurando, há duas semanas, sem sucesso, um operador de “caminhão do tipo Munck”. A mesma fonte revelou que um colega seu, do mesmo setor metalúrgico, busca – até agora sem êxito – dois operadores “de máquinas CNC”, um equipamento todo computadorizado que só alguém qualificado pode operar. 

Um empresário filiado ao Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) confirmou informação que esta coluna divulgou há três meses: a idade média do pedreiro da construção civil é hoje de 53 anos. 

“Isto quer dizer que o jovem não quer mais ‘pegar no pesado’, preferindo ser blogueiro, e isto tem deletéria consequência no setor produtivo e, também, no mercado de trabalho, onde faltam, por exemplo, soldadores e até operadores de empilhadeiras”, disse o construtor.

Os três industriais com os quais esta coluna conversou revelaram praticamente os mesmos problemas para a contratação de mão de obra qualificada. 

“Faltam profissionais qualificados, e este é um problema que vai agravar-se à medida em que a indústria, o comércio, o serviço e a agropecuária modernizam sua atividade, utilizando tecnologia digitalizada”, advertiu o empresário da metalurgia, que ontem mostrava sinal de desespero porque “faz quase 15 dias que eu procuro alguém qualificado para operar o novo equipamento da minha fábrica. Os que existem estão muito bem empregados”, contou ele.

Outro industrial da mesma área metalúrgica elogiou o esforço que a Fiec, por meio do Senai e do Sesi, vem empreendendo no sentido de qualificar a mão de obra que será utilizada pelas empresas que produzirão o hidrogênio verde no futuro hub do Pecém e, também, pelas que se dedicam à geração de energias renováveis – eólica e solar fotovoltaica – no Ceará.
 
Os cursos abertos pelo Senai-Ceará e em franco desenvolvimento no seu Centro de Referência para a Transição Energética localizado na Barra do Ceará têm 100% de frequência, e quem os frequenta são, em sua maioria, estudantes universitários que enxergam neles a oportunidade de se qualificar para o novo e exigente mercado de trabalho. O Centro é equipado com o que a tecnologia tem de mais moderno, razão pela qual seus cursos têm procura crescente e permanente. 

“Quando as indústrias do H2V chegarem aqui, encontrarão à sua disposição profissionais treinados para as novas tarefas, e esta será uma vantagem comparativa que beneficiará o Ceará e, mais ainda, os cearenses que se qualificarem para o desafio de trabalhar na chamada Indústria 4.0. Estamos, na verdade, nos antecipando às solicitações de mão de obra que as empresas do H2V certamente farão quando suas indústrias começarem a ser instaladas no Pecém”, como explicou Paulo André Holanda, diretor regional do Senai-Ceará e superintendente do Sesi-Ceará.

Paulo André não esqueceu de louvar o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, que, em 2021, fez de sua entidade parceira de primeira hora do Projeto do Hub do H2V no Pecém, aliando-se ao governo do Estado no esforço de tornar o Ceará um polo industrial mundial voltado para a produção do hidrogênio verde.

“Ricardo Cavalcante, um visionário, logo entendeu que uma indústria tão sofisticada como a do H2V necessitará de mão de obra altamente qualificada. E da teoria à prática foi um pulo. Hoje, o Senai e o Sesi estão juntos formando e qualificando o pessoal que integrará o quadro técnico de colaboradores das empresas nacionais e estrangeiras que se instalarão no Hiub do Pecém”, concluiu Holanda.

A propósito, nos próximos dias 12 e 13, no Centro de Eventos do Ceará, será realizado o Fiec Summit Hidrogênio Verde 2024, que reunirá aqui os representantes do universo do H2V – empresas, empresários, autoridades governamentais, pesquisadores acadêmicos, especialistas nacionais e estrangeiros, que debaterão sobre o estágio atual das tecnologias e dos investimentos para a produção do H2V no Brasil e no mundo.

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