A não ser que tenha havido mudança de planos de ontem à noite para hoje, algo comum nos governos federal e estadual, está previsto para este 19 de dezembro uma série de eventos que tornarão histórica esta data para os recursos hídricos e para a economia do Ceará.
Acontecerá o seguinte: o ministro da Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ao lado do governador Elmano de Freitas, assinará a ordem de serviço do Lote 3 do Trecho I do Cinturão das Águas (CAC) e o contrato para a execução das obras de construção do Ramal do Salgado – dois empreendimentos da área de recursos hídricos que, quando concluídos, transformarão profundamente a paisagem do sertão cearense, principalmente a da agricultura e a da pecuária.
O CAC (Cinturão das Águas do Ceará), idealizado e iniciado em 2013 pelo então governador Cid Gomes, é um projeto de longa execução, tendo em vista a carência de recursos dos governos federal e estadual; o Ramal do Salgado, por sua vez, tem várias virtudes, a primeira e mais visível das quais é abreviar a viagem das águas do Rio São Francisco até o açude Castanhão pela redução de 150 quilômetros do seu percurso.
Os dois investimentos – que consumirão, até sua conclusão, cerca de R$ 3 bilhões – darão ao estado do Ceará uma condição ímpar no que diz respeito à sua capacidade de reservação hídrica. Hoje, os açudes públicos cearenses têm capacidade de armazenar 18 bilhões de metros cúbicos de água, mais de duas vezes do que é acumulado na Baía da Guanabara. Mas para que essa capacidade seja alcançada é necessária a chuva, que às vezes vem, às vezes falta. A previsão para 2024 é de mais um ano sem chuva.
Assim, para a questão da oferta hídrica do Ceará só há uma saída definitiva – a que oferece o Projeto São Francisco de Integração de Bacias, cujas águas, na barragem de acumulação de Jati, no Sul do estado, são desviadas – uma parte para o CAC, que leva ao Castanhão, outra para o Canal Norte do mesmo projeto, que vai no rumo da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Com a próxima construção do Ramal do Salgado, as águas do São Francisco ganharão um caminho mais curto até alcançarem o açude Castanhão, e sem prejuízo para o CAC, que cumprirá suas múltiplas finalidades, entre as quais a de abastecer a população de várias cidades do interior cearense.
Da programação do ministro Waldez Góes e do governador Elmano de Freitas faz parte, também, uma visita às obras da Ferrovia Transnordestina, cuja concessionária e executora dos serviços – a Transnordestina Logística S/A (TLSA) – acaba de ganhar um reforço de quase R$ 1 bilhão da Sudene.
O CEO da TLSA, Tufi Daher Filho, recepcionará o ministro e o governador, aos quais dará informações sobre o estágio atual da obra, que se arrasta há quase 15 anos, já tendo consumido uma montanha de dinheiro próxima dos R$ 10 bilhões, devendo consumir outro tanto até ficar pronta. Quando? Não há resposta hoje para esta pergunta.
Trata-se de outro empreendimento essencial para a economia do Ceará e do Nordeste. Ela ligará o Sudeste do Piauí ao porto do Pecém, no Ceará. A TLSA desistiu, por inviabilidade financeira, de executar o trecho pernambucano da ferrovia, que levaria ao porto de Suape. Mas o presidente Lula, pernambucano da gema (nasceu em Caetés), já garantiu que seu governo fará essa obra com recursos do Orçamento da União, para o que senadores e deputados daquele estado apresentarão emendas nesse sentido.
O Ceará tem uma estrada de ferro operada pela mesma TLSA, mas sua via permanente (trilhos e dormentes), de bitola métrica, está em petição de miséria. É por essa obsoleta ferrovia que são transportados para o Piauí e o Maranhão – em viagem que leva quase dois dias – o que esses estados importam pelo porto cearense do Pecém, inclusive combustíveis.
Há, pois, digamos assim, um ar de celebração no governo e no empresariado do Ceará com o evento de hoje, que ocupará a agenda do ministro Waldez Góes e do governador Elmano de Freitas das 12 às 19 horas. O ministro desembarcará ao meio-dia no Aeroporto de Juazeiro do Norte procedente de Brasília, para onde retornará sete horas depois.