Ontem, a Bolsa de Valores teve um dia de queda, mas uma queda leve, de 0,59%, fechando o dia aos 112.517 pontos. O dólar recuou de novo e fechou cotado a R$ 5,10, uma cotação que não se registrava havia alguns meses.
A queda da Bolsa B3 foi motivada pelo derretimento das ações da rede de lojas Americanas, em cujas contas apareceram, surpreendente e inesperadamente, um rombo de R$ 20 bilhões, cujas causas começam a ser apuradas.
A mídia já começa a chamar o caso da Americanas de escândalo. E é mesmo, porque nem a vigilância de uma das maiores empresas mundiais de auditoria foi capaz de detectar o que também está sendo chamado de inconsistências contábeis.
As ações da Americanas só começaram ser negociadas durante a tarde de ontem, e caíram logo 75%, fechando o pregão com perdas de 77,33%.
Mas não foram só as ações da Americanas que caíram. As dos grandes bancos, também, As ações do Bradesco caíram 2,34%; as do Itaú recuaram 1,40%; e as do Santander, 3,08%. São os grandes bancos que estão tomando o prejuízo causado pelo rombo da Americanas.
De acordo com as informações que circulam no mercado, os bancos fizeram adiantamento aos fornecedores da Americanas, e agora amargam o prejuízo, que deverá ser amenizado porque, entre os controladores da empresa estão três dos homens mais ricos do país – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que são os donos da Ambev.
Além do escândalo da Americanas, contribuiu também para a queda da Bolsa no dia de ontem a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que falou sobre o ajuste fiscal que o governo do presidente Lula pretende fazer para reduzir ao mínimo possível – ou mesmo transformar em superávit – o déficit do Orçamento da União para este exercício de 2023.
Haddad centrou sua fala na necessidade de o governo controlar suas deficitárias contas por meio do aumento de receitas. Ele quase não abordou a questão do corte de gastos. O mercado reagiu negativamente, aprofundando a queda da Bolsa, que já estava sendo pressionada pelo rombo da Americanas, revelado na noite da última quarta-feira.
As medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda reestimam as receitas, que serão elevadas em R$ 36,4 bilhões; apontam para ações de receitas permanentes, que também serão incrementadas em R$ 83,28 bilhões; preveem outras ações de receitas extraordinárias no valor de até R$ 73 bilhões; e uma redução de despesas da ordem de R$ 50 bilhões. Resumindo: o leão da Receita Federal vem aí para morder ainda mais o bolso do brasileiro, que já não aguenta pagar tanto imposto.
De acordo com Fernando Haddad, essas medidas podem reverter o déficit de R$ 231 bilhões do Orçamento deste ano para um superávit de R$ 11 bilhões. O mercado não deu muito crédito a essas previsões, pelo menos no dia de ontem.
E logo surgiu a pergunta: como o governo pretende obter receitas extraordinárias de R$ 73 bilhões sem a venda de seus ativos, ou seja, sem a privatização de algumas de suas empresas?
Bem, o ministro Haddad está apostando na reversão de medidas adotadas pelo governo anterior, do presidente Bolsonaro, que concedeu isenção tributária a alguns setores da economia, o que já está sendo anulado pelo atual governo. Essas isenções ou reduções tributárias chegam a R$ 150 bilhões, de acordo com Haddad. Só aí o governo Lula tem a chance de recuperar boa parte de suas receitas neste ano.
O ministro da Fazenda disse que sua equipe está monitorando, diariamente, e pelos próximos 90 dias, as receitas e as despesas do governo, tentando aproxima-las ao objetivo de reduzir o déficit. O incremento dessas receitas, segundo explicou o ministro Fernando Haddad, dar-se-á pela “melhor qualidade dos cálculos”.
Entre as medidas para incrementar as receitas, Haddad citou a reoneração parcial dos combustíveis, que a partir de março terão de volta a cobrança do Pis/Cofins, o que, naturalmente, causará novo aumento do preço da gasolina.