H2V: Empresas cearenses devem buscar logo nichos na cadeia produtiva

Famoso engenheiro chama de desinformado e alienado quem desconfia do Hub do H2V do Pecém e convoca os "empresários inteligentes" a buscarem logo seu lugar nessa revolução

Legenda: Os empresários cearenses devem identificar logo em que nicho da cadeia produtiva do H2V eles podem ser inseridos
Foto: EDP / Divulgação

“Desconfiança? Só se for de empresários e acadêmicos alienados e desinformados” – foi assim que, num misto de revolta e surpresa, reagiu um famoso engenheiro cearense que acompanha de perto todo o processo de implementação do projeto do futuro Hub do Hidrogênio Verde do Pecém. 

Ontem, esta coluna disse, com base no que ouviu nos últimos três meses de empresários e cientistascearenses, que há uma desconfiança de que o H2V a ser produzido no Ceará será para exclusiva exportação, sem agregar valor aqui. 

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Falando pausada e tranquilamente, o engenheiro – que pediu o anonimato – explicou, didaticamente: 

“O Ceará já é hoje, e o será amanhã, produtor e exportador de energias renováveis. São essas energias – solar fotovoltaica eólica onshore e offshore – que tornarão verde o Hidrogênio a ser produzido pelas empresas que se instalarão no Hub do Pecém.” 

Ele explicou mais:  

“Está chegando aqui uma grande cadeia produtiva do Hidrogênio da qual participarão o Ceará e suas empresas da indústria, dos serviços e até da agropecuária. Para isso, porém, serão necessários empresários que, em vez de reclamarem e de esperarem pelo governo, deveriam correr para descobrir de que nicho dessa cadeia eles poderão participar”, explicou o engenheiro.

De acordo com ele, ao contrário do que esta coluna publicou ontem com base em fontes acadêmicas e empresariais do Ceará, não são apenas os EUA e a Europa que lideram a frente mundial pelo Hidrogênio Verde. Adiante dos europeus e dos norte-americanos, já estão hoje a China e a Índia, que aceleram projetos e providências para trocar sua cuja matriz energética – baseada no carvão mineral e no petróleo – por energias limpas.  

“Chineses e indianos serão os maiores compradores mundiais do H2V. Os EUA produzirão seu próprio Hidrogênio, mas a Europa o importará dos quatro cantos do mundo”, afirmou ele. E foi em frente:

“Ao contrário do que se diz, está começando uma guerra mundial. De um lado, o petróleo e o gás, cujas reservas durarão pelo menos mais oito décadas, no mínimo; do outro lado, o Hidrogênio Verde, que, a partir de 2030 ou 2033, disputará o mercado consumidor do planeta. O Brasil está bem-posicionado para essa guerra, pois tem grandes reservas de petróleo na camada pré-sal e ainda dispõe de sol e vento para produzir energia solar e eólica em terra firme, sendo que a eólica poderá ser também gerada dentro do mar, desde que o Parlamento brasileiro aprove o marco regulatório da energia offshore”, expôs o engenheiro.

Ainda segundo a mesma fonte, o Ceará é “um caso especial à parte, pois já produz energia limpa a baixo custo e com ela garante o abastecimento da indústria, do comércio, do serviço, das cidades e das residências do estado, não havendo, pois, sentido algum em investir na produção de Hidrogênio Verde, de custo altíssimo e de tecnologia ainda em desenvolvimento”. 

O engenheiro pormenorizou:

“Assim, o correto será, como já está sendo, atrair grandes empresas estrangeiras e nacionais para o Hub do H2V do Pecém. Empresas cearenses dirigidas por empresários inteligentes – e nós os temos – devem logo identificar onde podem investir para, por exemplo, produzir peças e equipamentos para as indústrias que fabricam naceles e turbinas eólicas, e a Aeris, instalada no Pecém, é uma delas; a multinacional dinamarquesa Vestas, com fábrica de turbinas em Aquiraz, é outra”.

Ele respirou e continuou falando: 

“Vamos, sim, exportar Hidrogênio Verde, em forma de amônia, para a Europa, para a China, para a Índia, para a Austrália, para quem o quiser. Nós não precisamos investir em energia limpa, pois já a temos e a teremos em abundância e até exportamos e seguiremos exportando seu grande excedente. 

“O de que precisamos é aproveitar a necessidade de produzir mais energia solar e eólica para garantir a operação das unidades industriais que produzirão H2V no Hub do Pecém. E mais do que isso: nossas empresas precisam, com urgência, de entrar em campo para jogar o jogo da competência. 

“Isto quer dizer que os empresários cearenses inteligentes, dispostos aos grandes desafios, têm agora a chance de tornar-se protagonistas de uma revolução tecnológica mundial. Temos na Fiec um Observatório da Indústria com alguns trilhões de dados à disposição dos investidores. Que tal usá-lo para prospectar oportunidades de negócios na área do Hidrogênio Verde aqui mesmo no Ceará?”
Voltaremos ao assunto.