Grito das Mulheres do Agro Cearense fechou a Pecnordeste 2023

Empresárias e executivas contaram para um auditório superlotado como enfrentaram e venceram os desafios de um ambiente machista. BNB fecha financiamentos para agropecuaristas do Ceará

Legenda: Superlotado ficou o auditório durante as palestras do I Encontro de Mulheres do Agro Cearense, na Pecnordeste 2023
Foto: Egídio Serpa

Um final apoteótico foi o da Pecnordeste 2023, encerrada sábado, 17, no Centro de Eventos do Ceará, com o grito do 1º Encontro das Mulheres do Agro cearense. Ficou explícito que elas estão a caminho de assumir a liderança e o protagonismo do setor, tantos são as áreas em que atuam. 

O auditório número oito do segundo mezanino do Pavilhão Oeste do Centro de Eventos foi pequeno para comportar o público feminino que acorreu às palestras técnicas, todas pronunciadas por mulheres que exercem posições de comando no serviço público e na inciativa privada.

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Alguns minutos antes, o Corpo de Bombeiros teve de intervir para organizar não só a fila de acesso ao auditório, mas também para impedir a sua superlotação. 

Resultado: mais de 200 mulheres ficaram do lado de fora, mas foram direcionadas para o auditório número dois do segundo mezanino, onde outra mulher, Candice Rangel, criadora de bovinos e equinos de alta linha na região do Cariri, coordenava as palestras e os debates em torno da Bovinocultura no Ceará.

Cristiane Martinazzo, que lidera as ações sociais da Sítio Barreiras – maior produtora de bananas do Nordeste, com fazenda de produção em Missão Velha, no Sul do Ceará – abriu a programação do Encontro de Mulheres do Agro Cearense, fornecendo detalhes do que desenvolve na área social a empresa fundada e liderada por seu marido, o bananicultor Fábio Régis.

Ela revelou que, mantida pela empresa, há no Sítio Barreiras uma escola, que também é creche, que atende a crianças de zero a sete anos de idade, todas filhos de seus funcionários. 

É essa escola que a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) pretende replicar em vários municípios do estado, para o que avançou em entendimentos com suas respectivas prefeituras.

Após Martinazzo, falou a superintendente do Banco do Nordeste no Ceará, Eliane Brasil, que expôs as linhas de crédito que tem o BNB para as diferentes áreas da atividade econômica na região nordestina.

Falou em seguida a empresária Ani Sanders, superintendente do Grupo Progresso, maior produtor de soja do vizinho estado do Piauí, contando como é, num ambiente machista, comandar uma empresa voltada para a produção de alimentos. 

“No começo senti algum preconceito, mas hoje os homens já se acostumaram com a minha concorrência”, disse ela.

Aline Teixeira, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, expôs o que sua empresa – referência mundial na área da pesquisa agrícola – fez e faz para manter o agro brasileiro entre os maiores produtores mundiais de alimentos. Ela falou com tanta propriedade e conhecimento, que foi aplaudida de pé pelo auditório 100% feminino.

Por sua vez, Rebeca Oliveira, vice-presidente financeira da Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, não só arrancou aplausos, mas provocou lágrimas no auditório ao contar detalhes de sua vida.
 
Ela, cearense do Crato, revelou que – depois de trabalhar em grandes empresas multinacionais de navegação no Brasil e no exterior, um ambiente predominante machista – é a primeira mulher a assumir uma diretoria no Complexo do Pecém.

Rebeca contou que, ainda quando era diretora Comercial do Porto do Pecém, recepcionou “um ônibus cheio de produtores rurais”, aos quais explicou que é ali, no terminal portuário, que é exportado, em navios, todo o esforço de quem produz no campo, “e vocês podem ter orgulho disto”. 

Rebeca Oliveira também disse que, hoje, a empresa que administra o Porto do Pecém “é uma facilitadora” que procura reduzir ao mínimo “os problemas dos produtores”. 

Ela se referiu, ainda, à Ferrovia Transnordestina, uma obra que, quando concluída “mudará para melhor a economia cearense, pois interligará as áreas produtoras de grãos do Piauí ao Porto do Pecém”.

Silvana Novais, técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Minas Gerais, também emocionou o auditório, contando como conseguiu organizar as mulheres do agro mineiro em um movimento que hoje ganhou, nacionalmente, força popular e política. 

Ela disse que é necessário renovar o sistema sindical brasileiro para que mais mulheres e mais jovens assumam posições de liderança. E, sob aplausos, conclamou as mulheres cearenses a enfileirar-se “no nosso movimento, que está crescendo em todo o país”.

No final do 1º Encontro das Mulheres do Agro Cearense, Ana Vládia Silva, analista de Desenvolvimento do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), fez uma exposição sobre o que é o movimento cooperativista e deu números que revelam seu crescimento nos diferentes setores da economia. No final, conclamou “as mulheres do Ceará a construírem, juntas, o movimento cooperativista”. 

Enquanto nos auditórios do primeiro e do segundo mezaninos aconteciam as palestras técnicas, no piso térreo do Pavilhão Oeste do Centro de Eventos, onde se localizou a área de exposição da Pecnordeste 2023, faziam-se negócios.

Foi revelado que só o estande do Banco do Nordeste – com uma equipe de nove gerentes e 23 agentes de desenvolvimento integrantes de sua Superintendência no Ceará – fechou   contratos de financiamento no valor de R$ 10,3 milhões, com mais R$ 20,2 milhões em prospecção de negócios.

“É uma marca recorde!”, disse, com ar de felicidade, Eliane Brasil, superintendente do BNB no estado do Ceará, que também comemorou a celebração de uma parceria do banco com a Faec, cujo objetivo “é promover a competitividade, a inovação, a sustentabilidade e a ampliação do atendimento aos produtores rurais cearenses, de acordo com as diretrizes do Agroamigo, um programa voltado para o setor”, como ela explicou, parabenizando a sua equipe pelos bons resultados obtidos na feira.