Fiec Summit: da desconfiança em 2007 para a boa realidade de hoje

Foi a iniciativa do cearense Lauro Fiúza Júnior, há 16 anos, que mudou o rumo da matriz energética brasileira. Ele levou uma Missão Empresarial à Espanha onde a geração eólica acontecia. E o governo brasileiro apostou nas renováveis. Falta, agora, apostar no H2V

Legenda: Falta o governo brasileiro regular a geração da energia eólica offshore (dentro do mar) e a produção do Hidrogênio Verde, diz Lauro Fiúza Júnior
Foto: Shutterstock

Encerrou-se ontem o II Fiec Summit Hidrogênio Verde, o principal evento brasileiro ligado à cadeia produtiva do H2V. No final da tarde, realizou-se o penúltimo painel de sua programação técnica, que tratou da Geração Eólica Offshore e ao longo do qual uma figura se destacou – a do empresário Lauro Fiúza Júnior, o ousado desbravador dessa matriz energética no Ceará e no Brasil. 

Foi ele quem, em 2007, apostando na viabilidade das energias renováveis, organizou uma missão empresarial que, integrada também pelo então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, viajou à Espanha para conhecer o que o governo e os empresários espanhóis já haviam feito, estavam fazendo e iriam fazer para gerar energia pela força dos ventos.

Foi essa viagem de uma semana, acompanhada por esta coluna, que mudou o rumo da matriz energética brasileira. O ministro Lobão, que foi a Madri 100% descrente da viabilidade da geração eólica, retornou 100% ciente de que isso não só era possível, como também teria de ser implementado imediatamente. 

E logo o governo criou um programa de incentivos para os projetos de geração da energia eólica, que se multiplicaram – e o Ceará emergiu como líder desse esforço.

Ontem, antes de falar para o lotado auditório do II Fiec Summit, Lauro Fiúza conversou com a coluna para abordar, do ponto de vista do empresariado brasileiro, o atual cenário mundial de transição energética. 

Aos 77 anos, em pleno vigor físico e intelectual, tendo construído uma exitosa vida empresarial que o levou a comandar uma das grandes corporações do setor – a Servtec Energia, com sede em São Paulo – Lauro Fiúza declarou-se entusiasmado e, ao mesmo tempo, preocupado. 

O entusiasmo é produto do imenso potencial do Brasil e, principalmente, do pedaço do litoral nordestino que vai do Rio Grande do Norte ao Maranhão, “propício para a geração de energia eólica offshore”. A preocupação tem raiz no atraso do governo, que ainda não fez o que lhe cabe – aprovar a regulação da geração offshore e a produção do Hidrogênio Verde, algo que os Estados Unidos, a Europa e o Chile, por exemplo, já fizeram.

“Multinacionais de grande porte já encaminharam pedidos de outorga ao governo brasileiro para a implantação de projetos de geração offshore. O mundo todo olha com lentes de lupa para o Brasil, focando o seu gigantesco potencial de sol, vento e mar. O governo, porém, parece não dar importância ao que os grandes países consideram prioridade”, comentou Lauro Fiúza.

Ele revelou sua preocupação em relação ao Brasil com uma informação estatística: em 2021, entraram em operação no mundo 25 GW gerados em parques eólicos instalados e em operação dentro do mar. Desse total, 21 GW foram gerados pela China. “Estamos falando de investimentos em torno de US$ 400 bilhões”, recordou.

Mas produzir energia dentro do mar ainda é muito caro, e deve ser levado em conta que, no caso brasileiro, há muito espaço em terra firme para os projetos eólicos – lembrou a coluna. Lauro Fiúza, porém, argumentou:

“Esse é um discurso de lobista das eólicas onshore. Em 2007, quando fomos à Espanha, a eólica era a mais cara das energias renováveis. Sua tecnologia, porém, avançou — e segue avançando – e o seu custo de implantação e operação é hoje semelhante ao da energia hidráulica. Isto vale, também, para a energia solar, que já foi caríssima há 10 anos. Toda mudança tecnológica gera temor, que logo se dissipa quando os custos desabam”, explicou, mas logo retomando a palavra:.
 
“É o caso de agora, quando o futuro próximo sinaliza que será a energia eólica offshore que garantirá os grandes investimentos na produção do Hidrogênio Verde. Ela hoje custa muito caro, mas as novas tecnologias, produto de pesquisas que se desenvolvem nos países mais ricos, logo a tornarão competitiva. Se começarmos agora a implantar os parques eólicos dentro do mar brasileiro, em nove anos teremos várias Itaipus em funcionamento no nosso litoral”, assegurou Lauro Fiúza Júnior.

E como está o Ceará nesse cenário? Ele respondeu:

“O potencial de geração de energias renováveis do Ceará é excepcional para a produção do Hidrogênio Verde. Estamos numa faixa do litoral nordestino – que vai do Rio Grande do Norte até o Maranhão – onde os ventos são fortes, constantes e estáveis, como os do Rio Grande do Sul. O Brasil – o Ceará no meio – vai usar energia renovável para produzir amônia, que é a matéria-prima para a fabricação de fertilizantes, um insumo que, e modo absurdo, importamos da Ucrânia e da Rússia, o que não faz sentido”, concluiu. 

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