Exclusivo! Hora de Plantar distribui sementes ou grãos de milho?

Amostras do milho distribuído pela SDR foram examinadas por laboratório instalado na UFC, cujo laudo acusou poder de germinação abaixo do exigido pelo Mapa. Mas a SDA tem outro laudo que atesta a qualidade do produto

Legenda: Embalagem das sementes de milho distribuídas pelo programa Hora de Plantar, da SDR do Governo do Ceará
Foto: Egídio Serpa

Exclusivo!! As sementes de milho que o Programa Hora de Plantar, executado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Governo do Estado e que tem como público-alvo os pequenos agricultores da Agricultura Familiar não são sementes, mas grãos. 

É o que revela o resultado da análise de qualidade fisiológica a que foram submetidas amostras das sementes distribuídas pela SDR. A análise, assinada pela doutora Haynna Abud, foi feita pelo laboratório da Image Pesquisas Sementes e Plantas, localizado no Galpão 17 do Padetec, no campus da Universidade Federal do Ceará, no bairro do Pici, em Fortaleza.

Quem encaminhou as amostras das sementes ao laboratório da Image Pesquisas Sementes e Plantas foi a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), que acaba de criar uma Sala Técnica integrada por especialistas em vários setores da agropecuária. 

A especialista em sementes e plantas é a engenheira agrônoma Laianny Morais Maia, que tem mestrado e doutorado em agronomia na linha de pesquisa em fitotecnia, já tendo integrado os quadros de pesquisadores da multinacional Singenta, uma das maiores indústrias de sementes do mundo.

Esta coluna conversou, ontem, pessoalmente com a doutora Layanni Maia, que transmitiu uma informação grave: as sementes de milho do Programa Hora de Plantar alcançaram – no exame laboratorial a que foram submetidas – o índice de germinação médio de 77%, bem inferior aos mais de 94% estabelecidos pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa). 

Esse resultado surpreendeu a doutora Layanni e, também, o presidente da Faec, Amílcar Silveira, pois, segundo ambos, revela uma grande divergência com o que informa a embalagem do produto distribuído pelo Programa Hora de Plantar. 

As amostras encaminhadas pela Faec para o exame da Image Pesquisas Sementes e Plantas são do “Cultivar PR27D28, Lote MAMH 03 Peneira 20 Categoria S-1 Safra 2023/2024 - Peso do Saco 10 KG”. 

A embalagem ainda contém as seguintes informações: “Validade teste de germinação: Dezembro 2024 – Padrões Mínimos - Germinação Mínima 85% - Pureza Mínima 98%”.

Rápida no gatilho, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário disse, em comunicado dirigido à coluna, que as sementes do Programa Hora de Plantar “têm amostras testadas e aprovadas pelo Laboratório de Análise de Sementes de Produção (Lasp), com sede na SDA, em Fortaleza. O Governo do Estado só adquire sementes que passam por rigorosos testes de germinação”.

O comunicado diz ainda que “no lote citado (pelo laboratório do Padetec), o laudo do Lasp indica que os produtos obtiveram um percentual de 97% de germinação e 99,9% de pureza da amostra da semente de milho”.

Está claro que, sobre esta questão, há dois laudos técnicos absolutamente divergentes. Surge a pergunta: qual dos dois laboratórios é o correto?

“O Hora de Plantar é do Governo do Estado, que nele mobiliza R$ 20 milhões de recursos públicos, e isto nos deixou vivamente impressionados. Já tínhamos a informação, fornecida pelos próprios pequenos produtores da Agricultura Familiar, de que a germinação do milho do Hora de Plantar era baixa. Resolvemos, então, recorrer à ciência, e mandamos fazer o exame no laboratório do Padetec, na UFC”, disse o presidente da Faec.

Amílcar Silveira ainda acrescentou:

“O resultado nos surpreendeu negativamente, e mais ainda porque trouxe um detalhe: a existência de fungos nas amostras. Estamos, pois, falando de grãos e não de sementes de milho!”

Esta coluna buscou e obteve, no início da noite de ontem, o posicionamento da SDR, que transmitiu um pormenorizado e didático comunicado, cuja íntegra está vasada nos seguintes termos:

“NOTA SOBRE SEMENTES HORA DE PLANTAR

“A Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) informa que todos os lotes das sementes distribuídas por meio do Programa Hora de Plantar têm amostras testadas e aprovadas pelo Laboratório de Análise de Sementes de Produção (Lasp), com sede da SDA, em Fortaleza. O Governo do Estado só adquire sementes que passam por rigorosos testes de germinação

“O Lasp integra a rede nacional de laboratórios credenciados e segue exigências do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária (Mapa). Por meio da prestação de serviços de análises de sementes para os pequenos, médios e grandes produtores, o Lasp atende à legislação do Ministério da Agricultura.

“No lote citado, o laudo do Lasp indica que os produtos obtiveram um percentual de 97% de germinação e 99,9% de pureza da amostra da semente de milho. 

“Vale salientar que a semente é um produto de extrema sensibilidade. Deve ser mantida sob condições ideais de acondicionamento previstas em legislação, não podendo ser exposto à umidade e à luz intensa antes de ser semeado. O Estado não se responsabiliza pelo uso e manuseio das sementes após a entrega aos produtores.

“Passo a passo das análises

“Único no Ceará e referência no ramo em todo o Nordeste, o Lasp realiza análises de qualidade de sementes de arroz, algodão, feijão caupi, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja e sorgo, boa parte delas distribuídas dentro do projeto Hora de Plantar aos agricultores familiares do Estado. 

“Confira abaixo o passo a passo das análises das sementes:

“A amostra média passa pelo processo de homogeneização, para obtenção das amostras de trabalho caracterizadas como Análise de Pureza e Determinação de outras sementes por número. 

“Na análise de pureza é verificada a presença de material inerte e de outras sementes. O material é devidamente pesado e calculado o percentual de pureza do lote.

“Na determinação de outras sementes por número é verificada e contabilizada a presença de sementes invasoras (nocivas toleradas e nocivas proibidas) no lote.

“O exame de sementes infestadas consiste em retirar (da porção de sementes puras) duas repetições de 100 sementes para colocar na água por 24-48 horas e realizar o corte longitudinal para verificar a presença de inseto adulto, pupa, larva, ovo e orifício de saída de insetos. Dessa forma se obtém o percentual de infestação do lote.

“O teste de germinação consiste em avaliar, em condições ideais, o desempenho do lote em gerar plântulas normais. O teste utiliza 400 sementes e estas podem ser consideradas normais, anormais, sementes mortas, duras ou dormentes. O resultado é dado em percentual.

“37ª edição do Hora de Plantar

“A 37ª edição do Projeto Hora de Plantar Safra 2023/2024 conta com investimento de R$ 26 milhões e deve beneficiar 155 mil agricultores em 182 municípios. Estão sendo fornecidas aos agricultores e agricultoras familiares sementes de feijão caupi (231 toneladas), milho híbrido (2 mil toneladas), milho variedade (500 toneladas), sorgo forrageiro (180 toneladas), algodão (10 toneladas), capim mombaça (3 toneladas), mudas de cajueiro anão (500 mil), aroeira (4.445 mudas), sabiá (39.926 mudas), maniva (5mil m³ – 10 milhões de mudas) e palma (2,5 milhões de raquetes).

“Além do apoio ao projeto Hora de Plantar, a análise da qualidade dos produtos vegetais fortalece as ações para o desenvolvimento da cadeia de produção e comercialização no Ceará. Através da prestação de serviços de análises para os pequenos, médios e grandes produtores, o projeto contribui significativamente no controle de qualidade dos produtos comercializados e na redução da concorrência fraudulenta no mercado. Durante o mês de dezembro de 2023, foram analisadas 120 amostras, representando 1.841,29 toneladas.

“Produtividade

“O Hora de Plantar proporciona incrementos significativos da produtividade agrícola e, consequentemente, no aumento na renda e na segurança alimentar de inúmeros cearenses. O programa é financiado pelo Governo do Ceará, com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) e do Tesouro do Estado.

“A execução e assistência técnica do Hora de Plantar ficam a cargo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), em parceria com as secretarias municipais de Agricultura.”

Veja também