Aftosa: com rebanho imunizado, pecuaristas recusam vacinação
Apoiados pela Faec, cujo presidente "nunca viu" um caso da doença, os criadores de gado bovino e bubalino estão contra a Adagri, que quer fazer neste ano nova campanha de vacinação no Ceará. Adagri posiciona-se.
Revoltados com o que consideram descaso da Agência de Defesa da Agropecuária (Adagri) – que deixou de cumprir algumas das mais de 50 exigências feitas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para promover o Ceará de região livre da febre aftosa “com vacinação” para região livre “sem vacinação”, pecuaristas cearenses, entre os quais criadores campeões de gado leiteiro e de corte – bovino e bubalino – ameaçam não mais vacinar seus rebanhos.
Um dos três maiores produtores de leite bovino do Ceará disse segunda-feira, 11, em reunião com empresários do setor, que tem 50 anos de atividade na pecuária “e nunca vi um caso de febre aftosa”.
Este colunista, porém, pode assegurar, por testemunho próprio, que será bom que ele nunca veja uma rês atacada por essa doença, pois é algo triste, trágico e horrível de ser visto.
Retomemos a questão. Neste momento, 95% do rebanho bovino e bubalino (búfalos) do Ceará estão, há quase cinco anos, imunizados contra a febre aftosa, graças a uma intensa campanha de vacinação promovida pelo governo do Estado, incentivada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e com maciça adesão dos criadores.
Havia a grande e estimulante expectativa de que, neste 2024, o Ceará ganharia o status de região livre da aftosa sem vacinação. Mas isto não aconteceu nem acontecerá, porque a Adagri, como está dito acima, deixou de fazer “o dever de casa” estabelecido pelo Mapa. É uma enorme frustração para quem já contava como certo o fim das despesas com a imunização anual do seu rebanho. Esse custo, infelizmente, continuará fazendo parte da planilha de despesas do pecuarista.
Para o presidente da Federação da Agricultura (Faec), Amílcar Silveira, o Ceará “está há mais de cinco anos sem um caso de febre aftosa”, acrescentando: “Já estamos com o rebanho imunizado e já deveríamos ter mudado de status, mas, infelizmente, é difícil e complicada a burocracia estatal”, explicou ele, engrossando o coro dos pecuaristas que lamentam a falta de providências rotineiras por parte da Adagri.
O ex-secretário de Agricultura Irrigada e hoje consultor empresarial do setor agropecuária, Carlos Matos manifestou-se também a respeito do assunto. Ele disse:
“Em 2003, o Ceará tinha apenas 20% de cobertura vacinal. Em dois anos, elevamos para 80% e criamos a Adagri para, de forma estruturada, cuidar da sanidade animal e vegetal do estado do Ceará, com o grande objetivo de torná-lo livre de febre aftosa, que poderia impedir o trânsito de animais com outros estados e também ser usado contra a exportação de nossos produtos, já que havia uma tendência de os compradores internacionais usarem isso como barreira sanitária.”
Criador de vacas e bois em suas fazendas localizadas na região do Jaguaribe, o empresário Cristiano Maia sentencia com a autoridade de quem sabe do que está falando:
“Não há mais a doença da febre aftosa no nosso estado. Todo o rebanho bovino e bubalino cearense está vacinado contra a doença, e o Ministério da Agricultura e Pecuária sabe disso. Infelizmente, por negligência de um organismo público, estamos ameaçados de continuar penando, ou seja, vacinando mais uma vez os nossos rebanhos, e isto custa dinheiro, isto aumenta nossos custos”, disse Cristiano Maia, manifestando no tom da voz e no semblante do rosto uma nota de visível revolta.
Luiz Girão, fundador da Betânia Lácteos (hoje Alvoar Lácteos) e um dos três maiores produtores cearenses de leite de vaca, é mais um que pede espaço para reclamar contra a falta de providência de um organismo estatal que, “provavelmente sem verba”, atrasou a adoção das medidas recomendadas pelo Ministério da Agricultura.
Dono da Fazenda Flor da Serra, na Chapada do Apodi, onde seu rebanho bovino de matrizes de alta linhagem produz 30 mil litros/dia de leite, Luiz Girão concorda também com a opinião dos seus colegas pecuaristas, segundo a qual não existe mais febre aftosa no Ceará.
“As campanhas de vacinação dos últimos anos alcançaram seu objetivo, imunizando a totalidade dos nossos rebanhos, que já estão livres há muito tempo da febre aftosa. Então, por que repetir a vacinação em 2024, onerando os custos dos pecuaristas, que já são altos?”, argumentou Girão.
Esta coluna ouviu o presidente da Adagri-Ceará, Elmo Aguiar, que, mesmo em férias, transmitiu as seguintes informações a respeito da questão:
“A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) vem trabalhando para que o Ceará alcance, junto ao Ministério da Agropecuária e Pecuária (Mapa), o status de Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. Para isso, uma série de pré-requisitos – como o de manter os níveis vacinais contra a doença acima de 90% -- vêm sendo seguidos.
“A Adagri lembra que, na segunda etapa de vacinação contra Febre Aftosa em 2023, o Ceará bateu um novo recorde tanto na vacinação de bovinos e búfalos, como no número de propriedades com animais vacinados.
“Foram vacinados 94,97% do rebanho e o número de propriedades alcançadas chegou a 92,11%. Outras ações previstas e que estão em andamento são a renovação da frota de veículos da Agência, com 14 novos automóveis entregues em janeiro deste ano pelo Governo do Ceará; o pleno funcionamento das barreiras por 24 horas; a ampliação do quadro de profissionais da Adagri e a alimentação do Fundo de Emergência de Agropecuária privado, criado em 2008, e que será administrado pelo setor produtivo, através da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
“A Adagri reforça que todos os pré-requisitos serão concluídos em tempo hábil, para que na segunda etapa da Campanha de Vacinação de 2024, que será realizada em novembro, o Ceará possa pleitear a mudança de status junto ao Mapa.”
Esta coluna pode adiantar que a disposição dos grandes e médios pecuaristas é de não vacinar seus rebanhos, sob o argumento de que eles já estão imunizados, o que significa que a doença da febre aftosa está debelada, devendo a Adagri requisitar do Mapa o up grade, considerando o Ceará zona livre de febre aftosa sem vacinação.
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