De olho em dividendos, mercado precifica mudança na Petrobras

Ações da estatal sobem na Bolsa, mas o governo precisa resolver logo se tira ou mantém Jean Paul Prates na presidência da empresa

Legenda: Maior empresa do país, a Petrobras vive uma crise que precisa de solução rápida do governo
Foto: Petrobras / Divulgação

Pelo resultado do pregão de ontem da Bolsa Brasileira B3, que subiu 1,63%, aos 128.857 pontos, o mercado financeiro já precificou a provável substituição do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por alguém cujo nome será anunciado, talvez ainda nesta semana, pelo Palácio do Planalto. A escolha do novo comandante da maior estatal brasileira será feita pelo presidente Lula. 

Por que o mercado já aceita a saída de Jean Paul da Petrobras? Resposta simples: porque a Petrobras, no melhor modo morde-e-assopra,  distribuirá um monte Everest de dividendos extraordinários, algo como R$ 23 bilhões ou R$ 45 bilhões, dependendo do percentual a ser distribuído – 100% ou 50%.
 
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer que sejam distribuídos 100% dos dividendos extraordinários, com o que o governo da União poria a mão em R$ 13,7 bilhões, ajudando no plano de zerar o déficit orçamentário deste ano, tarefa que parece impossível. 

Tanto isto é verdade que já se fala em Brasília que o ministério da Fazenda proporá mudança no orçamento: em vez de déficit zero, um déficit de até 0,8% do PIB neste ano. Em 2025, esse déficit seria reduzido para 0,5%. Só em 2026, um ano de eleição do presidente da República e de governadores, chegaria ao sonhado déficit zero. Você acredita nisso?

A distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras é a moeda de troca que o governo oferecerá aos acionistas da empresa pela possível substituição de Jean Paul Prates. Mas tudo ainda é especulação, inclusive as notícias de que Aloízio Mercadante, hoje presidente do BNDES, iria para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras. 

Apesar de tanta notícia ruim sobre a Petrobras, as ações da estatal subiram ontem na Bolsa de Valores B3. E subiram bem: 1,39%, encerrando o dia valendo R$ 38,63. Houve um momento do pregão em que os papeis da Petrobras chegaram a valer R$ 39,06. 

Hoje, a mídia está revelando que a crise na Petrobras tem uma causa: a profunda divergência pessoal entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da estatal, Jean Paul Prates. O site de uma rede de tevê publica nesta terça-feira longas respostas a acusações contra Prates, provavelmente originadas do ministério de Minas e Energia. 

O presidente da Petrobras dá respostas detalhadas sobre cada questionamento do que o site chama de “dossiê”, e em cada uma delas Jean Paul Prates posiciona-se e posiciona a empresa em relação a diversos temas, incluindo a política de refino, a política de preços e o plano estratégico que prevê a exploração de petróleo na faixa equatorial.

Resumindo: o governo, leia-se o presidente Lula, está permitindo que vá longe demais essa pendenga que causa uma crise de confiança na maior empresa estatal brasileira.

Lula já deveria ter resolvido a questão: ou substituindo Jean Paul Prates ou demitindo o seu ministro de Minas e Energia ou provocando as pazes entre ambos.

Expor a Petrobras a esse vexame é péssimo para a imagem da empresa, é ruim para a imagem do Brasil e pior ainda para a imagem do governo aqui e no exterior.

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