Congresso não quer imposto sobre exportação do petróleo

Reação dos parlamentares e posição do presidente da Câmara os Deputados, Artur Lira, contra críticas de Lula ao Banco Central ajudaram alta da Bolsa. No governo, Haddad de um lado, Hoffman do outro

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:02)
Legenda: Parlamentares de vários partidos já rejeitam MP que cria Imposto de Exportação para petróleo brasileiro
Foto: Agência Senado
Esta página é patrocinada por:

Ontem, a Bolsa de Valores B3 operou e fechou no azul, com alta de 0,80%, aos 104.700 pontos. O dólar, por sua vez, caiu 0,58% e fechou o dia cotado a R$ 5,16.
 
A performance positiva da Bolsa brasileira foi estimulada pelas notícias que chegaram de Brasília, onde o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que que o arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos, está pronto e será apresentado nos próximos dias ao presidente Lula e encaminhado ao Congresso Nacional. 

Veja também

Também contribuiu para o pregão da B3 a posição assumida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, que confirmou a posição da maioria do Parlamento contrária à cobrança do Imposto de Exportação do petróleo produzido no Brasil. Lira também criticou as falas do presidente Lula contra o Banco Central.

Contribuíram ainda para o resultado de ontem da Bolsa as informações contidas no Boletim Focus, do Banco Central, segundo as quais a perspectiva de inflação para este ano ficou estável em 5,9%, ao mesmo tempo em que a previsão do PIB brasileiro, que na semana passada era de 0,84%, subiu para 0,85%. Tudo isso aliviou o mercado financeiro no dia de ontem.

O grande destaque do pregão de ontem da Bolsa de Valores foram as ações da Azul, que subiram 37,9%, e da Gol, que avançaram 23,78%. As duas empresas aéreas alegraram o mercado ao anunciar que reestruturam suas dívidas com os seus credores, que são as companhias locadoras de aviões.

Também subiram as ações dos grandes Bancos. Os papeis do Itaú e do Banco do Brasil valorizaram-se 2,27%, enquanto os do Bradesco subiram 3,34%. 

Essas altas foram causadas pelo anúncio de que ficou pronto o programa Desenrola, criado pelo Ministério da Fazenda para ajudar pessoas endividadas a limparem seu nome no SPC e no Serasa. Para isso, o governo reservou uma verba extra de R$ 10 bilhões. 

O Desenrola contribuirá para a queda da inadimplência e, se tudo der certo, ajudará a incrementar o consumo das famílias. Mas ele só será lançado depois que for implantado o programa que o administrará junto aos bancos, o que levará algum tempo, ainda. 

Falando aos jornalistas, o ministro Fernando Haddad disse que esse programa é complexo, pois envolve credores privados, ou seja, a rede bancária.

Mas no pregão de ontem da Bolsa tiveram mau resultado as ações das empresas exportadoras de minério de ferro. É que o preço do mineral caiu no mercado mundial, fruto da nova meta de crescimento do PIB da China, fixado em 5% para este ano, índice muito aquém do estimado pelo mercado. As ações da Vale – maior exportadora de minério para os chineses – recuaram 3,53, enquanto as da CSN caíram 3,84%.

A Movida, uma das maiores locadoras de automóveis do país, publicou ontem seu balanço financeiro de 2022, que veio com um lucro raquítico de apenas R$ 17,8 milhões, ou seja, 93,6% menor do que o do ano anterior de 2021. Essa extraordinária queda foi causada pelos juros altos, que elevaram as despesas financeiras da empresa em 140% no ano passado. Mas a receita líquida da empresa cresceu de forma exponencial, subindo 55,7%, alcançando o montante de R$ 2,7 bilhões.

E a EDP Brasil, dona da Usina Termelétrica Pecém I, no Ceará, fechará seu capital. Hoje, a empresa, controlada pela EDP Energias de Portugal, tem ações negociadas na Bolsa de valores brasileira. A decisão de fechamento do capital da EDP Brasil surpreendeu o mercado, pois se trata de uma empresa muito bem administrada. 

Mas, paralelamente ao noticiário econômico procedente de Brasília, há o registro de novas divergências separando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do grupo político do governo, representado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. 

Essas divergências acentuaram-se na semana passada, quando o presidente Lula acatou duas sugestões do ministro Haddad: a volta da cobrança dos impostos federais incidentes sobre a venda dos combustíveis, e a criação do Imposto de Exportação do petróleo brasileiro. 

As duas providências eram necessárias para a recuperação das receitas da União, cujo orçamento deste ano é deficitário em R$ 231 bilhões. Gleisi Hoffmann batalhou até o último minuto contra a aprovação dessas duas medidas, alegando que elas causariam a perda de popularidade do presidente da República.

No mercado e também nos corredores do Congresso Nacional corre a informação de que a ala política do governo, ou seja, o PT, não está satisfeita com a atuação de Fernando Haddad, que seria muito simpática ao mercado. 

Mas, ao decidir a favor das propostas de Haddad, o presidente Lula deu um sinal de que tem um compromisso com a austeridade fiscal, o que só o saberemos com o passar dos tempos.

Por enquanto, o que permanece é a dúvida sobre como o governo se comportará quando novas medidas de austeridade fiscal foram necessárias. Então, o melhor é deixar o tempo passar.