CNI critica Copom por manter "cultura do juro alto"

Em nota transmitida a esta coluna, o presidente da entidade, Ricardo Alban, afirma que o Copom só tem uma ferramenta de política monetária – a elevação dos juros.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 08:11)
Legenda: Com taxa de juros elevada, o crédito torna-se mais caro e comprar um televisor ou a casa própria fica mais difícil
Foto: Shutterstock

Para a indústria, a decisão do Copom de aumentar de 12,15% para 13,25 ao ano a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, “é mais um movimento da política monetária que ocorre em consequência da longa cultura de juros reais elevados que persiste no Brasil”. Em nota que transmitiu a esta coluna, o presidente da CNI, Ricardo Alban, afirma que, “com a decisão, o Banco Central mostra que persiste em uma única ferramenta de política monetária – a elevação dos juros – no enfrentamento de expectativas de inflação”, sem considerar os efeitos impactantes dos juros e da taxa de câmbio na própria inflação. Alban diz que “o comprometimento com o equilíbrio fiscal e com a racionalidade dos gastos públicos precisam ser exercidos e cobrados por todos”. 

De acordo com o presidente da CNI, a alta Selic é injustificada. “Com a decisão, o Banco Central mostra que continua ponderando equivocadamente os fatos econômicos mais relevantes do cenário atual, principalmente no que diz respeito ao quadro fiscal e à desaceleração da atividade do país”, acentua Alban. 

De acordo com Ricardo Alban, os setores econômicos defendem um pacto nacional que envolva todos os Poderes, empresários e trabalhadores, “pela criação de um consenso em torno de metas fiscais e de políticas econômicas estruturantes, garantindo estímulos seletivos que assegurem a continuidade dos investimentos, enquanto se busca o equilíbrio das contas públicas e o combate à inflação”.

O presidente da CNI acrescenta que a busca pela disciplina fiscal deve ser acompanhada de medidas de incentivo à inovação, à infraestrutura, à educação e à tecnologia, garantindo uma elevação do PIB no médio e longo prazos, gradual e sustentada.

“Com o novo aumento, a taxa de juros real do Brasil chega a 7,8% ao ano. Isto é 2,8 ponto percentual acima da taxa de juros neutra, de 5% ao ano, estimada pelo Banco Central, indicando que a política monetária está sendo restritiva. Vale lembrar que a política monetária do Brasil está em campo contracionista desde fevereiro de 2022”, como lembra Ricardo Alban, cuja nota acrescenta:

“A decisão não leva em conta os efeitos da aprovação do pacote fiscal, que ainda deve ser ampliado neste ano, segundo declarações do governo federal, e a forte desaceleração do impulso fiscal, observada desde o segundo semestre de 2024 e que seguirá em 2025. Afinal, as despesas federais devem apresentar um crescimento real de 2,3% neste ano, em comparação com um crescimento próximo a 4% em 2024, de acordo com as projeções da CNI. 

“O fato é que a meta de resultado primário será cumprida em 2024 - considerando sua banda inferior - e, de acordo com as estimativas da CNI, também deve ser cumprida em 2025, pois depende de um contingenciamento de R$ 4,2 bilhões, levando-se em conta o limite inferior da meta. 

“É importante destacar que a decisão do Banco Central não considera, com o peso correto, a desaceleração da atividade econômica, observada já no PIB do terceiro trimestre de 2024, e mantida nos dados parciais do último trimestre, até novembro. Em novembro de 2024, a produção industrial caiu 0,6% em relação ao mês anterior, sendo o segundo mês consecutivo de queda. Ainda, a queda no volume vendido no varejo foi de 1,8% em novembro de 2024, revertendo o crescimento que havia sido registrado em outubro. Já nos serviços, houve recuo de 0,9% em novembro, praticamente anulando a alta que tinha sido obtida em outubro.”

E finaliza assim: 

“Diante disso, fica evidente que o novo aumento da taxa Selic representa mais custos financeiros para as empresas e os consumidores, e perda adicional e desnecessária de emprego e renda.”

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