Ceará: Quem produz e quem não produz na seca

A criação de camarão, a fruticultura irrigada e a pecuária que dispõe de volumosos ensilados não deverão sofrer solução de continuidade durante o período de estiagem que o Nordeste -- o Ceará no meio -- já enfrenta.

Legenda: A criação de camarão em estuários deverá manter-se durante o período de estiagem deste 2024
Foto: Divulgação

Em um ano de estiagem prolongada, como este 2024, quais são os setores da economia primária do Ceará que poderão manter sua atividade na normalidade? 

A resposta que, imediatamente, surge aponta para a carcinicultura – a criação de camarão, desde que ela se faça nos estuários, que são áreas onde as águas doces dos rios têm encontro com as águas salgadas do mar. 

No Ceará, há carcinicultores que não deverão sentir os efeitos de uma seca, pois produzem camarão praticamente na beira da praia. 

Cristiano Maia, maior criador de camarão do país, tem fazendas de produção nas praias de Beberibe (no Leste) e de Coreaú (no Norte), um pouco além de cuja região está a fazenda de Livino Sales, localizada na praia de Acaraú. 

Cristiano e Livino aprenderam a usar a melhor tecnologia de manejo do fluxo e refluxo da maré, razão por que, com ou sem chuva, seguirão a produzir camarão em grandes quantidades, tirando proveito, inclusive, de seus laboratórios por meio dos quais controlam e melhoram, pela biotecnologia, a qualidade do seu produto. 

Mas há cearenses que fazem isso na geografia cearense e além das divisas estaduais. É o caso do jovem empresário Gentil Linhares, cuja empresa Bomar tem cinco fazendas de criação de camarão marinho e de tilápia no Ceará e no vizinho Piauí, além de uma unidade industrial de beneficiamento, em Fortaleza, que processa também lagosta e outros peixes, como a Pescada Amarela e o Salmão.

Outro setor que não deverá sofrer solução de continuidade por causa da seca é o da fruticultura irrigada, e aqui a atenção volta-se para a Agrícola Famosa, cujas áreas de produção localizam-se no município cearense de Icapuí, mas invadindo boa parte do município de Mossoró, no vizinho estado do Rio Grande do Norte. Lá, em área de quase 8 mil hectares, a Agrícola produz e exporta melão, melancia e outras frutas com a mão de obra de iguais 8 mil colaboradores (um emprego para cada hectare).

Nessa área, a Agrícola Famosa utiliza água extraída de até 400 metros de profundidade em quantidade suficiente para irrigar toda a área de produção, para o que utiliza o método do gotejamento, ou seja, usando o mínimo de água (o melão e a melancia, frutas características do clima tropical, detestam a chuva e adoram o sol). 

Na Chapada da Ibiapaba, a Itaueira Agropecuária, que produz sob estufas pimentões coloridos em São Benedito, e a Trebeschi, que produz algumas variedades de tomate em Ubajara, também usam pouca água para irrigar – aquela região tem, anualmente, mesmo em épocas de longo estio, uma boa pluviometria – deverão atravessar sem problemas este primeiro trimestre de seca. 

Mas sofrerá a pecuária, principalmente aquela que não dispuser de volumosos ensilados. Não é o caso da Fazenda Flor da Serra, na Chapada do Apodi, pertencente ao pecuarista Luiz Girão, que, como em secas anteriores, está pronta para romper o período agudo da falta de chuva, tirando proveito de seus silos – subterrâneos e de superfície – nos quais mantém estocados sorgo, palma forrageira e capim em quantidade suficiente para, ao longo de todo o ano, alimentar o seu rebanho bovino e ainda comercializar o excedente para fazendas do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

O que preocupa desde já é a situação dos açudes Castanhão e Orós, pois é deles que sai a água que garante a produção do Distrito Irrigado Jaguaribe-Apodi (Dirja), onde se produzem banana e outras frutas. 

Por enquanto, a Cogerh, que tem a gestão dos recursos hídricos do Ceará, mantém a oferta de água para o Dirja, mas, se a estiagem for agravada, esse fornecimento poderá ser reduzido. Tudo dependerá da intensidade da seca e do volume daqueles que são os dois maiores reservatórios do Ceará. 

O presidente da Federação da Agricultura do Ceará, Amílcar Silveira, sustenta o seu otimismo.

“Mesmo que tenhamos um ano de chuva abaixo da média histórica, sempre haverá a ocorrência de precipitações que nos garantirão o mínimo para a manutenção da atividade econômica”, como ele disse à coluna.

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