Duas informações que movimentam a indústria e a agropecuária do Ceará. A primeira é a seguinte: estão chegando os alemães da Renânia do Norte-Westfalia (RNW), que na segunda-feira, 6, terão, na Federação das Indústrias (Fiec), reunião com empresas do Ceará e de outros estados e, ainda, com autoridades do governo cearense para tratar do Hidrogênio Verde.
Virão empresários e executivos de empresas, além de técnicos e executivos do governo daquele estado alemão que deseja ser a primeira região da Europa a dispor de uma política efetiva de produção e importação do H2V.
Integram a geografia da Renânia do Norte-Westfalia as cidades de Colônia, Dusseldorf, Essen e Dortmund.
Para isso, eles apostam no Brasil como fonte de produção do Hidrogênio Verde, e a prova é a programação que cumprirão no Brasil – ela prevê apenas uma reunião em Fortaleza – com visita ao Complexo do Pecém – e outra no Rio de Janeiro, com visita ao Porto do Açu. No Rio, eles terão encontro na Federação das Indústrias – a Fierj.
Por que o Ceará está no roteiro da missão da Renânia do Norte-Wetsfalia? Por vários motivos, o primeiro dos quais é este: os alemães conhecem o potencial de geração de energias renováveis na geografia cearense, inclusive no seu litoral de 600 quilômetros de extensão. É com essas energias – solar fotovoltaica e eólica onshore e offshore – que se produzirá o Hidrogênio Verde.
Eles também sabem que a australiana Fortescue e a brasileira Casa dos Ventos estão prontas para começar a produzir Hidrogênio Verde por meio da eletrólise, tecnologia que a Alemanha – a RNH no meio – domina. Para isso, aguardam o Licenciamento Ambiental do Ibama.
E sabem, igualmente, que o Porto do Pecém será ampliado para permitir a exportação do H2V a ser produzido no seu entorno. E sabem que há projetos para a instalação de usinas de dessalinização na área do Pecém, as quais reforçarão a operação de indústrias de produção do Hidrogênio Verde.
Mas também sabem – e este é o gargalo – que o governo brasileiro, com o seu Legislativo incluído, ainda não se mexeu para regular a atividade de produção do H2V nem a geração da energia eólica dentro do mar.
Os alemães estão certos de que o governo do Brasil não passará pelo vexame mundial de perder bilionários investimentos em dólares por causa da irresponsabilidade do seu ministério das Minas e Energia e do seu Parlamento. Por isto mesmo, mantêm a programação que será cumprida, na próxima semana, no Ceará e no Rio de Janeiro.
Agora, a segunda informação, que interessa à carcinicultura do Ceará e do Nordeste. Esta coluna divulgou ontem que o governo do Equador pressiona o do Brasil no sentido de abrir o mercado brasileiro de camarão para a entrada do seu produto.
O que querem os equatorianos é algo que os Estados Unidos e o México já repeliram: a prática do dumping (venda de um produto por preço abaixo do custo de produzir).
O Equador tem, hoje, uma superprodução e, consequentemente, estoques excessivos de camarão, consequência da queda do consumo no pós-Covid.
Os equatorianos querem vender ao Brasil o seu camarão por um preço vil. Se o governo brasileiro sucumbir a essa pressão, cometerá um crime de lesa-pátria e, de quebra, condenará à falência uma atividade que, na região do Nordeste, maior produtora do país, emprega mais de 110 mil pessoas.
E o Ceará – estado líder na produção de camarão – será o mais prejudicado, pois responde hoje por mais de 50% -- na verdade, 54% -- da produção nacional de camarão.
Como concorrer com um produto que, importado do outro lado do continente sul-americano, chegará aqui com preço menor do que o custo de produção?
E o custo de produção dos carcinicultores do Equador é semelhante ao da Fazenda Potiporã, do Griupo Samasria, do cearense Cristiano Maia, maior produtor de camarão do Brasil.
Isto tem nome: dumping, algo inaceitável nas relações comerciais entre países.
O governo do Ceará e o do Rio Grande do Norte, maiores produtores brasileiros de camarão, devem dar-se as mãos para impedir junto ao Ministério da Agricultura que essa importação seja autorizada, pois será um tiro mortal no coração de milhares de cearenses e nordestinos que hoje se dedicam à carcinicultura.