Repercutiu no empresariado e, também, entre personalidades da política cearense a matéria que esta coluna publicou ontem a respeito da situação de penúria franciscana por que passa a cajucultura do Ceará e do Nordeste como um todo.
Com base em conversa com um grande agroindustrial do setor, aqui foi dito que cultivar caju hoje no solo semiárido nordestino é perder dinheiro.
Foi citada a opinião do empresário Carlos Prado, fundador da Itaueira Agropecuária e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), para quem a cajucultura enfrenta problemas, mas pode ser reanimada e tornar-se de novo um bom negócio.
Menos de um par de horas depois de divulgado ontem o texto da coluna, o próprio Carlos Prado encaminhou uma nota, na qual presta alguns esclarecimentos que, por sua oportunidade e importância, devem ser publicados. Prado começa dizendo o seguinte, dirigindo-se a este colunista:
“Você tem razão quando fala do caju em sua coluna de hoje. A conclusão a que você me atribui foi o resultado da Plataforma Regional do Agronegócio do Caju, realizada em 2002/2003 liderada pela Fiec e Faec, com participação direta da Embrapa Agroindústria Tropical, e que envolveu vários estados da região Nordeste.”
Carlos Prado prossegue:
“Conclusão simples da Plataforma: sem aumento da produtividade, a cajucultura estaria condenada ao fracasso. A solução passaria pelo plantio do cajueiro anão precoce e pela substituição de copas dos cajueiros comuns pelas do anão. Além disso, práticas agronômicas de correção do solo e fertilização.
“Hoje, a produção familiar sobrevive razoavelmente, com o caju anão, produzindo o caju de mesa in natura, o caju para produção de sucos, polpas e doces, tendo a castanha como subproduto, armazenada como poupança, para ser vendida sempre que necessário.”
O vice-presidente da Fiec conclui assim:
“Sempre que for possível irrigar e usando boas práticas agrícolas, é uma cultura rentável. A carne do caju, que o saudoso Jaime Aquino sempre difundiu como alimento de qualidade, ainda pode decolar, com as pesquisas em andamento e tentativas de torná-la um bom negócio.”
Bem, uma parte dos produtores cuidou de plantar cajueiro anão precoce, eliminando as árvores antigas, que foram transformadas em lenha para a indústria ceramista; outra parte simplesmente não teve e não tem dinheiro para essa providência, que é cara.
Por sua vez, o ex-deputado estadual e federal e ex-senador Luiz Pontes, autor do projeto-de-lei que, aprovado em 2008, criou o Fundo de Apoio à Cultura do Caju (Funcaju), pediu espaço aqui para reclamar da ação da bancada cearense na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, que nada fez até agora para a implementação dessa ferramenta de incentivo à cajucultura.
O Funcaju, disse Luiz Pontes, tem o objetivo de 1) desenvolver o financiamento e a modernização da agroindústria do caju e de seus produtos derivados, 2) incentivar o aumento da produtividade da cajucultura, 3) fortalecer a exportação de produtos relacionados e 4) promover a defesa do preço dos mercados interno e externo e das condições de vida do trabalhador rural.
Pontes recordou que, na época da discussão do projeto do Funcaju, o presidente do Senado era o baiano Antônio Carlos Magalhães, o ACM, que, com seu prestígio político, garantiu a aprovação da proposta.
“O que me deixa revoltado – neste momento de grave dificuldade por que passa a cajucultura nordestina, com destaque para a do Ceará – é a inércia da nossa bancada federal, que não se movimenta para garantir os recursos necessários à implementação do Funcaju, com o qual poderemos dar uma nova guinada a ela, garantindo os milhares de empregos que a atividade gera no campo e na indústria de beneficiamento. Até agora, a Lei que criou o Funcaju não teve consequência”.
Esta coluna retornará ao tema.