Com as riquezas que a natureza divina lhe prodigalizou, com o povo trabalhador de que dispõe, com uma elite empresarial capaz de grandes feitos – é só mirar, por exemplo, a indústria aeronáutica e a de papel e celulose e sua agropecuária líder mundial – com 8.500 quilômetros de litoral e com fontes renováveis hidráulica, eólica e solar que lhe garantem 90% da geração de sua energia elétrica, o Brasil – belo e impávido colosso, florão da América, gigante pela própria natureza – já deveria ser poderoso e desenvolvido como a China e os Estados Unidos. Não o é porque o atrapalha, desde a construção de Brasília, a sua elite política.
Foi a transferência da Capital Federal do Rio de Janeiro – onde senadores e deputados iam para as sessões da Câmara e do Senado guiando seus próprios automóveis – para o Centro Oeste do país que plantou todas as ervas daninhas responsáveis pela quase total destruição das boas sementes da política e dos políticos brasileiros.
Uma volta ao passado recente, ao ano de 1995, leva-nos ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o queridinho da mídia, que o nomeou usando apenas suas iniciais FHC. Ele teve na mão e no Parlamento a chance de fazer todas as reformas de que, na época, o país precisava para dar o salto chinês. Em vez das reformas, FHC, para quem o espelho é seu maior aliado, optou pela reeleição, e gastou tempo e dinheiro (público) para garantir o segundo mandato.
Não obstante, FHC avançou – privatizou a Telebras e a Vale, por exemplo – mas não o suficiente para alcançar os padrões chineses de progresso, que naquele tempo já apontavam para seu geométrico crescimento. E tirou bom proveito do Plano Real, criação de um time de economistas que o próprio FHC juntou quando era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, que virou herói nacional, pois foi no seu governo que a hiperinflação foi extinta para alegria de todos.
Depois de FHC, veio Lula, que teve a mesma chance de colocar o trem brasileiro nos trilhos da China: gigantesco apoio popular, simpatia dos agentes econômicos e parlamentares à sua disposição para propor e aprovar as reformas. Todavia, o vírus da popularidade – o mesmo que picara o antecessor – mudou o rumo de Lula, e seu segundo governo desembocou na escolha de Dilma Rousseff, que o sucedeu. Resultado: a política econômica da primeira mulher presidente da República foi um desastre sob todos os aspectos, razão pela qual ela sofreu o impeachment.
De onde menos se esperava – do comando de Michel Temer, o vice que virou presidente – saiu a Reforma da Previdência, alcançada aos trancos e barrancos, que está hoje de novo a pedir novo remendo, desta vez mais radical. E saiu, também, a Reforma Trabalhista. Ambas tiveram efeito rápido e positivo na economia.
Se fosse melhor a elite política que o governa há um século, o Brasil já teria – como tem a China – uma malha ferroviária com trens de passageiros e de cargas – modernos e de alta velocidade – ligando todas as capitais e grandes cidades do país, incluindo Belém, Manaus, Campinas e Fortaleza. E com linhas duplas – uma indo, outra voltando – devidamente eletrificadas.
E já as teria saneado com redes de esgoto e água potável. E teria, como fez a Coreia do Sul, por decisão política, implantado um sistema de educação digno do nome – nossas crianças seguem mal-educadas por culpa dessa elite, que, nas periódicas eleições, só muda de nome, mas não de objetivo, que segue sendo o de apropriar-se dos recursos públicos para usufruto próprio ou de grupos de influência.
Os chineses, hoje, estão explorando o lado oculto da Lua. Eles já dominam o mercado mundial de automóveis elétricos, uma novidade criada ontem no Ocidente, da qual eles se apropriaram. São líderes na produção e comercialização de veículos eletrificados.
No mundo todo, ninguém consegue produzir roupas e bugigangas eletroeletrônicas com o baixo custo chinês, e é aqui que entra o lado ruim da história: o trabalhador de lá é mal pago, não tem 13º salário, nem FGTS. A China é uma ditadura de partido único, e por isto mesmo sua indústria oferece ao consumidor brasileiro e do resto do mundo, incluindo os EUA, um vestido ou um jogo de xícaras que, mesmo depois de tributado, tem custo menor do que o similar fabricado no Brasil.
Como competir? Fechando o mercado? Esta não é nem será a saída. A indústria brasileira, hipertributada, mas muito incentivada, precisa, mesmo assim, melhorar sua produtividade.
Trocar a atual elite política brasileira por uma nova, competente e imunizada contra a corrupção, é o caminho que só será possível por intervenção miraculosa dos céus.
Muito recentemente, quando surgiu o mensalão, quem dava as cartas no Parlamento era o deputado pernambucano Severino Cavalcante, que exigiu do primeiro governo Lula “aquela diretoria da Petrobras que fura poço”.
Depois dele, e por causa dele, chegou Eduardo Cunha, que foi condenado por corrupção, preso e solto e já se prepara para voltar à atividade política, tudo por decisão da Justiça.
Hoje, esse comando é do alagoano Artur Lira, que lidera e manobra o Centrão, um conglomerado de legendas partidárias que faz e desfaz no Congresso Nacional.
Resumindo: o Brasil e os brasileiros merecemos liderança política melhor. Mas dependemos 100% de nossas próprias escolhas. Então, a culpa é nossa.
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