Lula volta a criticar o BC. A Bolsa cai outra vez e o dólar sobe

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também crítica o Banco Central, pedindo juros mais baixos. E mais: 1) Ações do Hapvida caem mais. Grendene teve lucro de R$ 568 milhões em 2022

Foi mais um dia ruim para a Bolsa de Valores brasileira B3, que fechou ontem em nova queda de 1,01, aos 103.325 pontos. 

O dólar, por sua vez, encerrou o dia cotado a R$ 5,20, com alta de 0,24%. 

Os fatos internos, novamente ligados a declarações do presidente Lula contra o Banco Central e o seu presidente Roberto Campos Neto, causaram o recuo do índice Ibovespa, que roçou os 102 mil pontos.

As ações da Petrobras – ao contrário do que se previa – caíram no pregão de ontem. As ordinárias recuaram 2,75%, enquanto as preferenciais tiveram queda de 2,61%. 

Esse recuo foi provocado por uma entrevista coletiva à imprensa do novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que falou depois da apresentação ao mercado financeiro dos extraordinários resultados do balanço financeiros da empresa relativo a 2022, cujo lucro bateu a casa dos R$ 188 bilhões, reservando R$ 34 bilhões para o pagamento de dividendos aos seus acionistas.

Na sua conversa com os jornalistas, Jean Paul Prates mostrou dúvidas sobre como será a nova política de preços da Petrobras, mas foi claro ao dizer que a estatal investirá mais na transição energética, o que significa que ela usará parte do lucro para implementar projetos de geração de energias renováveis, principalmente a eólica e a solar. O próprio Prates já havia dito isto em janeiro.

Os analistas dos principais bancos apontaram em seus relatórios a respeito do balanço da Petrobras que persistem as dúvidas sobre as mudanças que fará a nova administração da empresa em relação à política de preços e de distribuição dos dividendos. 

Para complicar o cenário, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, meteu sua colher de pau na panela de pressão do governo contra o Banco Central, ao dizer que é necessário baixar a taxa de juros. Essa opinião desmanchou a impressão que os operadores do mercado tinham da ministra, que parecia uma aliada do Banco Central e do seu presidente, Roberto Campos Neto.

Houve uma boa notícia no meio do dia de ontem, a de que o ministério da Fazenda está concluindo a elaboração do novo arcabouço fiscal que será enviado na próxima para a análise do Congresso Nacional. 

Esse arcabouço, segundo o próprio ministro Fernando Haddad, substituirá a Lei do Teto de Gastos. Mas mesmo essa notícia não contribuiu para melhorar o desempenho da Bolsa.

Ontem, falando a uma emissora de rádio, o presidente Lula metralhou novamente o presidente do Banco Central, ao reclamar da taxa de juros Selic, que há mais de seis meses está no patamar de 13,75%. 

Lula disse que não há justificativa para uma taxa de juros tão alta em uma economia “que não está crescendo”. Mas o presidente esqueceu que a economia brasileira cresceu 2,9% no ano passado, e está caindo agora por causa, entre outras coisas, das incertezas sobre a política fiscal do seu governo. 

O orçamento da União para este ano tem um rombo de R$ 231 bilhões, que poderá ser reduzido, ou até transformado em superávit, se tiverem êxito as medidas que o novo arcabouço fiscal trará na próxima semana.

Referindo-se ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o presidente Lula disse: “Eu tenho de prestar contas ao Congresso Nacional, ao Tribunal de Contas da União, à sociedade e aos meios de comunicação. Ora, por que esse cidadão, que não foi eleito para nada, acha que tem o poder de decidir as coisas?”

As declarações de Lula repercutiram mal no mercado e por isto ajudaram a derrubar o pregão de ontem da Bolsa de Valores.
 
Dentro de três semanas, o Comitê de Política Monetária do Banco Central terá nova reunião para decidir sobre a taxa de juros Selic. Mas até lá o governo já terá enviado ao Congresso Nacional sua proposta de novo arcabouço fiscal.

Ontem, na Bolsa B3, as ações do grupo cearense de saúde Hapvida, que haviam desabado 33% na véspera, caíram novamente 3,31%, cotadas a R$ 2,92. 

Para o Banco Stanley Morgan, a queda das ações do Hapvida foi exagerada, razão pela qual previu, em relatório para os seus clientes, que os papeis da empresa recuperarão o valor, mas de forma mais demorada e gradual.

Por sua vez, os executivos do Hapvida, em teleconferência sobre o balanço de 2022 da empresa, anunciaram que neste ano de 2023 haverá reajuste de preços, o que melhorará a margem, e, também. melhorará a sinergia com as companhias que foram adquiridas nos últimos dois anos. 

E a Grendene, gigante brasileira do setor de calçados, com 10 fábricas no Ceará, registrou, no quarto trimestre do ano passado de 2022, um lucro líquido de R$ 202 milhões. 

O balanço da Grendene também mostrou que, em 2022, seu lucro líquido foi de R$ 568 milhões, uma queda de 5,5% em relação aos R$ 601 milhões do ano anterior de 2021. 

Para este primeiro semestre, a Grendene espera alguma dificuldade em razão da política interna brasileira e de sinais de recessão no exterior, para onde a empresa dos irmãos Pedro e Alexandre Grendene exporta boa parte de seus produtos. 

Como o governo Lula privilegia as classes de menor poder aquisitivo, a Grendene mantém seu otimismo.