Faec acusa Funceme de causar prejuízo aos pequenos produtores

Presidente da Federação da Agricultura, Amílcar Silveira, diz que agricultores deixaram de plantar mais porque prognóstico da Funceme era de seca para este ano. E choveu 20% acima da média.

Atenção! A Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) divulgará, nesta semana, uma nota pública posicionando-se diante do que seu presidente, Amílcar Silveira, considera um erro da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Em conversa com esta coluna, ele disse que muitos produtores rurais, de pequeno e grande portes, amargaram prejuízos neste ano porque, obedientes aos conselhos da Funceme, reduziram ao mínimo sua área plantada. Mas, em vez de pouco chuva, como previa a Funceme, o que houve no Ceará foram precipitações acima da média histórica.

O presidente da Funceme, Eduardo Martins, transmitiu a esta coluna uma nota, explicando que sua previsão – feita em novembro do ano passado e renovada em janeiro deste ano –  estava em linha com a dos centros mundiais de monitoramento do clima.

“A Funceme errou e tem de reconhecer o seu erro. A Faec vai posicionar-se sobre o assunto para que um erro assim não mais aconteça. Foram muitos os produtores rurais que deixaram de plantar porque acreditaram no relatório da Funceme divulgado em janeiro. Eu sou um dos prejudicados. Deixei de plantar porque acreditei no prognóstico da Funceme, segundo o qual haveria seca. Aconteceu o contrário, pois tivemos chuva 20% acima da média histórica”, disse à coluna o presidente da Faec.”

Um grande produtor de algodão, com fazenda de produção na geografia de Limoeiro do Norte, também confessou à coluna que, em vez de 2 mil hectares, como ele havia programado, cultivou apenas 800 hectares, utilizando água do subsolo para irrigar a área plantada pelo método de gotejamento.

“Eu estaria hoje colhendo uma grande safra de algodão, mas, infelizmente, não foi possível por um erro do órgão responsável pelo monitoramento do clima”, explicou o produtor, que pediu o anonimato.

Falando a esta coluna, Amílcar Silveira foi contundente na sua crítica:

“Houve um erro da Funceme. E o que eu lamento é o fato de a Funceme não admitir o seu erro. Nós vamos elaborar uma nota, posicionando a Faec diante desse fato. E tem mais: neste ano, nós promoveremos um encontro de institutos de meteorologia e monitoramento do clima, mas não chamaremos a Funceme enquanto ela não se organizar. Hoje, ela parece que esqueceu de suas tarefas primordiais, entre as quais a de monitorar o clima. A Funceme está cuidando de outros assuntos, de outros números. O Eduardo (Martins, presidente da Funceme) fica falando sobre outras coisas. Ele tem de admitir o erro para consertar. Você só conserta o erro quando admite o erro, e este não foi o caso da Funceme”, disse o presidente da Faec falando do seu jeito característico.

Segundo Amílcar Silveira, “hoje é incalculável o tamanho do prejuízo (dos produtores que deixaram de plantar). Quero dizer que, neste segundo semestre, existe a possibilidade de faltar volumoso (sorgo, capim, milho, palma forrageira, entre outros, ensilados para a alimentação dos animais neste período de estiagem, que se estenderá até dezembro), porque a Funceme disse, simplesmente, que haveria seca, e disse com contundência que haveria seca, e não houve. O que houve foi chuva mais de 20% acima da média histórica”.

O presidente da Faec reiterou:

“A Funceme deveria vir a público pera reconhecer o seu erro e pedir desculpas aos produtores do estado do Ceará, que foram, digamos assim, prejudicados fortemente pelo anúncio da Funceme. Reconheço que a Funceme acertou muitas vezes, mas neste ano ela cometeu um erro grosseiro que prejudicou os produtores rurais cearenses.”

E completou:

“Já advirto os produtores rurais do Ceará no sentido de que, para a estação das chuvas de 2025, não se orientem pelas previsões da Funceme.”

COM A PALAVRA A FUNCEME

O presidente da Funceme, Eduardo Martins, instado pela coluna, transmitiu a seguinte nota de posicionamento:

“A FUNCEME apontou o cenário mais provável de chuvas abaixo da média, cenário este que a esmagadora maioria dos centros de meteorologia do mundo também apontavam para o nosso estado. Outro ponto que foi levado em consideração, foi o fato de que, em anos de El Niño moderado a forte, sempre tivemos anos abaixo da média.

“Reforçamos ainda que nenhuma previsão climática é determinística, ela é de natureza probabilística e apontava as seguintes condições: 45% de chances de chuvas abaixo da média, 40% em torno da média e 15% acima da média. Ressalta-se ainda que a diferença de probabilidades entre as categorias abaixo da média e em torno da média não eram significativas, refletindo as incertezas inerentes ao prognóstico deste ano.”