São animadoras as notícias que chegam sobre o interesse de produtores gaúchos e paranaenses – que há 40 anos cultivam algodão em Mato Grosso, Oeste da Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão – de participarem do projeto Algodão do Ceará, lançado na última quarta-feira pelo Governo do Estado, a Federação da Agricultura (Faec) e a Federação das Indústrias (Fiec). O Ceará pretende voltar ao protagonismo que teve na cotonicultura brasileira nos anos 60, 70 e 80 do século passado, quando surgiu a praga do bicudo, que dizimou os algodoais.
O bicudo segue sendo a principal praga a castigar a cotonicultura nacional. Por isto mesmo, o recente 14º Congresso Nacional do Algodão, realizado em Fortaleza, dedicou um painel inteiro ao debate técnico-científico sobre o tema, ao longo do qual seis especialistas expuseram suas opiniões. Eles convergiram: para combater o bicudo, é preciso antes conhecê-lo.
O consultor agroambiental Walter Jorge apresentou um panorama da praga no Brasil, que foi identificada há 40 anos em São Paulo, Paraíba e Pernambucos.
Desde então, o cerrado brasileiro começou a despontar na produção do algodão, sendo estimulado pela economia e por novos manejos, como rotação de culturas, uso de diferentes produtos e grupos de inseticidas, citando, entre os avanços, os métodos de monitoramento e aplicação de tecnologias para controle das soqueiras e tigueras.
“Vale ressaltar que o bicudo é uma praga crônica que veio para ficar e, portanto, há uma necessidade real de conscientização sobre a sucessão de culturas e o manejo integrado, considerando ainda as condições climáticas específicas de cada região”, disse ele.
Marcio Souza, coordenador de Projetos e Difusão de Tecnologias do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), o monitoramento é a ferramenta fundamental para controlar as pragas na agricultura, “mas é preciso ir além e controlar o transporte, colocando telas de proteção e realizando a fiscalização dos caminhões, porque os caroços (do algodão) saem das nossas algodoeiras e fazendas”.
O consultor Paulo Degrande disse que “o controle do bicudo envolve um protocolo de 18 atitudes que precisam ser seguidas pelo produtor como um check-list:
Priorizar microgotas oleosas; aplicar inseticidas a partir do primeiro botão floral; realizar monitoramento rigoroso; reaplicar inseticidas no talhão; reduzir a população de bicudo no final da safra; realizar uma colheita rápida e bem feita; eliminar soqueiras, rebrotas, tigueras e plantas voluntárias; cumprir o vazio sanitário; mapear com armadilhas na entressafra; seguir um calendário de semeadura, concentrando o plantio; tratar as bordaduras; aplicar inseticidas em B1; organizar grupos técnicos regionais para troca de experiências; tratar as soqueiras em soja e milho; encurtar o ciclo do algodão; evitar o plantio de milho após o algodão; e adotar boas práticas de manejo”.
Por sua vez, o pesquisador da Embrapa Territorial, Júlio Bogiani, apresentou as ferramentas digitais utilizadas no projeto Monitora Oeste — desenvolvido no cerrado baiano.
“A transformação digital já evoluiu e hoje vivenciamos uma realidade virtual. Podemos avançar para além de drones e tecnologia de precisão. Temos à nossa disposição softwares, GPS, sensoriamento remoto, robótica, Inteligência Artificial e gestão de dados, ou seja, uma infinidade de aplicações para melhorar a eficiência da produção”, ele lembrou.
Finalizando as discussões, Licio Pena, um dos fundadores e diretor executivo da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), explicou a dinâmica do Catolaccus Amipa, uma ferramenta biológica para o controle do bicudo, criada na biofábrica da instituição e o primeiro produto biológico registrado no Brasil contra o bicudo. O resultado inicial da ferramenta foi apresentado, demonstrando uma mortalidade de 94,5% do bicudo.
“O nosso agente biológico funciona como um verdadeiro míssil teleguiado para combater o bicudo”, sintetizou o especialista. Entre as principais características, ele destacou o Catolaccus, que injeta toxina no bicudo, ataca de seis a oito larvas do inseto por dia e tem capacidade de produzir entre 170 a 300 ovos em um ciclo de vida que é praticamente igual ao do bicudo.
“E tudo isso está em consonância com o Projeto Better Cotton, demonstrando nossa preocupação com a qualidade do algodão e a diminuição da resistência aos químicos nas lavouras.”
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