Na próxima segunda-feira, 14, Milton Ide, considerado o maior consultor em algodão do país, iniciará o trabalho para o qual foi contratado pela Federação da Agricultura e Pecuária (Faec): ele percorrerá a Chapada do Araripe, no Sul cearense, por onde será iniciado o projeto Algodão do Ceará, um empreendimento tripartite que mobiliza, também, a Federação das Indústrias (Fiec) e o governo do Estado, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE).
De acordo com o presidente da Faec, Amílcar Silveira, o projeto já estabeleceu sua primeira meta: em 2025, serão plantados de algodão 10 mil hectares, área que será distribuída nas regiões do Cariri, Chapada do Apodi e Sertão Central. Mas o que pretendem a Faec, a Fiec e a SDE é alcançar, nos próximos cinco anos, a meta de 100 mil hectares cultivados de algodão.
Quando – e se – essa meta for alcançada, a indústria têxtil cearense deixará de comprar matéria prima produzida na Bahia e em Mato Grosso, porque, então, o Ceará estará produzindo as 130 mil toneladas anuais consumidas pelas suas fábricas de fiação e tecelagem. (O Brasil produz 3,3 milhões de toneladas/ano, consome 700 mil toneladas/ano e exporta o excedente, sendo hoje o maior exportador e o terceiro maior produtor mundial de pluma).
Mas essa ousada meta cearense de produzir algodão em 100 mil hectares até 2029 é quase impossível de ser alcançada, como disse à coluna um especialista em cotonicultura, na opinião de quem entre o sonho de plantar e colher há um tempo que é longo.
“Para começar, o solo cearense precisará de ser bem tratado, ou seja, ele terá de, antes de receber sementes de algodão, produzir outras culturas, como a mandioca, que é o que farão Eloi Brunetta e seu filho Gianni, grandes cotonicultores de Mato Grosso, que há quase três anos compraram 3 mil hectares de boas terras no município de Araripe, na chapada caririense. Os Brunetta só começarão a plantar algodão quando o solo estiver bem tratado, e isto leva tempo”, informou o especialista.
O próprio Milton Ide disse o seguinte, na exposição que fez há um mês durante o lançamento do projeto Algodão do Ceará – como um aviso aos produtores cearenses:
“O algodão aprende-se em seis lições: uma por ano”, o que quer dizer que, para tornar-se uma realidade, o projeto da Faec, Fiec e Governo do Ceará demandará meia dúzia de anos em pesquisas e bons tratos do solo, até começar o plantio efetivo.
Mas a Faec vai tocando o Algodão do Ceará na medida do possível, buscando atalhos corretos, e a vinda do consultor Milton Ide pode ser vista como mais uma acertada providência.
Segundo Amílcar Silveira, não será difícil plantar algodão em 10 mil hectares ao longo do próximo ano de 2025. Para isso, as áreas onde a cotonicultura já se desenvolve, como na Chapada do Apodi, no Sertão Central e na região do Cariri, merecerão atenção especial com o objetivo de melhorar a qualidade do solo e aumentar a produtividade.
Na Chapada do Apodi, a Fazenda Nova Agro, do agroindustrial Raimundo Delfino, já obteve produtividade semelhante à de Mato Grosso – 1.800 quilos de pluma por hectare, mas isto é resultado de alto investimento em tecnologia feito pelo empresário, que, até começar a plantar e colher algodão, plantou e colheu outras culturas, entre as quais a soja, que segue sendo cultivada.
O recente Congresso Brasileiro do Algodão, realizado em Fortaleza na primeira semana do mês de setembro, foi, na opinião do presidente da Faec, “o que faltava para nos provar a viabilidade do projeto Algodão do Ceará, e tanto é verdade que aceleramos as providências para o início de sua execução, sendo a visita técnica do consultor Milton Ide à região do Cariri, na próxima semana, um fato importante, pois ele elaborará um relatório que norteará nosso empreendimento”.
Para os que pretendem investir no Projeto Algodão do Ceará, esta coluna transmite as seguintes informações:
A Bahia, que planta e colhe algodão na região Oeste do estado, já anunciou que, para a safra 2024/2025, expandirá sua área plantada em mais 10%, com o que chegará a 370 mil hectares, com previsão de produzir 730 mil toneladas de pluma, suficiente para abastecer todo o mercado interno brasileiro.
Por sua vez, Mato Grosso – que produz 70% de toda a produção nacional – também está anunciando que, na safra 2024/2025, acrescentará mais 6% à sua área plantada, que chegará a 1,55 milhão de hectares, com produção estimada de 2,83 milhões de toneladas de pluma.
Por que aumentar a área plantada, se faz 20 anos que o mercado mundial do algodão mantém sua produção anual estagnada em 26 milhões de toneladas de pluma? Resposta do mesmo especialista: porque o custo de produzir no Brasil é bem menor do que o custo dos demais países produtores.
Em detalhes: no Brasil, o custo para produzir 300 arrobas por hectare (uma arroba tem 15 quilos) é de US$ 0,58 a US$ 0,61 por libra/peso; na Austrália e nos EUA, esse custo sobe para US$ 0,72 por libra/peso; Na China, US$ 0,75; na Índia, US$ 0,80.
Por que não cresce o mercado mundial da pluma de algodão? – é a pergunta natural.
Resposta dos especialistas: porque o lobby do petróleo, liderado pela Arábia Saudita, pressiona a indústria têxtil a produzir fibras sintéticas. Mas, segundo as mesmas fontes, o aquecimento global, que está mobilizando a melhor inteligência mundial para novas tecnologias aplicadas às energias renováveis – o Hidrogênio Verde no meio – age com cada vez mais força no sentido de que a energia fóssil deixe de existir até 2050.
O crescimento econômico tem de ser sustentável, ou seja, respeitando o meio ambiente, preservando a natureza e salvando o planeta da destruição.
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