Agro teme seca em 2024, mas alegra-se com financiamento do BNDES ao Ceará

Técnico da SRH diz que açudes metropolitanos têm água para abastecer Fortaleza ao longo de 2024, ano em que o Governo do Estado investirá R$ 1,2 bilhão para duplicar o Eixão das Águas

Legenda: A vazão do Eixão das Águas (foto) será duplicada, em 2024, pelo governo do Ceará, com financiamento do BNDES
Foto: Diário do Nordeste

As águas do rio São Francisco estão sendo bombeadas para o Ceará e continuam chegando normalmente à barragem de Jati, no Sul do estado, mas, em vez de tomarem a direção do açude Castanhão, são desviadas para outro trecho do Canal Norte, através do qual seguem no rumo do Oeste da Paraíba. 

Surge a pergunta: por que não rumam, também, para o grande reservatório cearense? 

Os técnicos respondem: porque, neste momento de forte estiagem e altas temperaturas, está seco o leito dos riachos e dos rios que desembocam no açude Castanhão. 

“Haveria uma perda gigantesca de água pela infiltração e pela evaporação, inviabilizando a transferência” – como explicou um engenheiro integrante da equipe de técnicos da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).

Esta coluna volta ao tema que trata da expectativa de quem produz e trabalha na agropecuária e na indústria do Ceará em relação à possibilidade de uma estiagem prolongada causada pelo El Niño, que está em plena atividade no Brasil – há severa seca no Norte, e a prova são os rios da Amazônia que seguem secando, e as inundações no Sul e Sudeste. 

A perspectiva – segundo os institutos que monitoram o clima no planeta – é de que o El Niño se estenderá para além do primeiro trimestre de 2024, causando prejuízos graves no Ceará e em todo a região Nordeste. 

O mesmo técnico da SRH tenta passar tranquilidade à população e, principalmente, aos empresários do agro e da indústria:

“Os açudes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) – Pacajus, Pacoti, Riachão, Gavião, Acarape do Meio e Aracoiaba – têm hoje volume de água suficiente para garantir, pelo próximo ano, o abastecimento desta capital e das sedes municipais de sua vizinhança – Maracanaú, Caucaia, Maranguape, Itaitinga, Pacajus, Eusébio e Horizonte”, diz ele.  

A RMF consome de 8 m³ a 10 m³ de água por segundo, adianta a fonte.

A mesma fonte acrescenta, ainda, que as barragens do Castanhão, Orós e Banabuiú têm, igualmente, volume capaz de assegurar o abastecimento humano, a dessedentação animal e as atividades econômicas no Baixo Jaguaribe ao longo de 2024.
 
É uma perspectiva otimista, mas desenhada por quem entende do assunto, e esta coluna não ousa pôr em dúvida a opinião de um técnico do organismo responsável pela administração das águas dos açudes públicos do Ceará. Porém, na cabeça de um leigo é natural que, diante das atuais circunstâncias, prospere o vírus da desconfiança.

Diante da incerteza do que o clima reserva para a estação chuvosa de 2024 – cuja pré-temporada sempre começa em janeiro e fevereiro – o que deve fazer um empresário da pecuária ou da agricultura ou da agroindústria? Adia o investimento que pretende fazer para ampliar os seus negócios ou investe no projeto, apostando na sorte e acreditando em que a chuva virá? 

Um empreendedor experiente não arriscará. Se for pecuarista – e se tiver, previdentemente, ensilado o capim, o sorgo e a palma para alimentar o seu rebanho – terá garantido a manutenção de sua produção leiteira. Do contrário, deve preparar-se para um ano de baixa renda.

Se for agricultor – e se as chuvas não vierem no mínimo volume necessário à sua atividade – terá ele o cuidado de reduzir a área cultivada, de fazer a manutenção dos seus poços profundos para garantir água em tempo de seca e de otimizar o uso da água (otimizar significa produzir mais com menos água em menos área de terra).

É melhor prevenir do que remediar, ensina o bom senso. Assim, prevenir, em português claro, quer dizer preocupar-se, ou seja, antecipar a preocupação, trazê-la para agora, para bem antes do que vier a acontecer. 

E o que está para vir – do ponto de vista de outubro de 2023 – é um horizonte azul, isto é, sem nuvens de chuva. 

Unidos somos mais e somos fortes. Por que, então, aqui no Ceará, o governo e a iniciativa privada não somam logo seus esforços para a adoção de providências preventivas diante dos repetitivos sinais da natureza segundo os quais 2024 será, do ponto de vista da meteorologia, um ano muito difícil?

EIXÃO DAS ÁGUAS SERÁ DUPLICADO

O texto acima estava pronto, quando o governo do Ceará e o BNDES anunciaram, ontem, um contrato de financiamento de R$ 2,3 bilhões para, ao longo dos próximos dois anos, a execução de obras hídricos importantes, a primeira das quais será a duplicação dos sifões do Eixão das Águas -- o canal a céu aberto que traz água do Castanhão para a Região Metropolitana de Fortaleza. 

Só nesse empreendimento, será aplicados R$ 1,2 bilhão

O mesmo contrato financiará, também, com R$ 500 milhões obras de saneamento, enquanto outros R$ 600 milhões irão para o projeto de duplicação da BR-116, 

São boas notícias que chegam em época de incerteza quanto aos recursos hídricos diante da possibilidade de um El Niño prolongado.

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