Agro cearense fica mais forte com a carcinicultura

Famílias tradicionalmente dedicadas à agricultura agora são carcinicultores – o nome é bonito, o trabalho é duro, os cuidados são maiores, mas o retorno é três vezes melhor e mais rápido.

Legenda: No Polo Carcinicultor de Morada Nova-Limoeiro do Norte agricultores tornam-se carcinicultores e melhoram sua renda
Foto: Divulgação

Toma corpo, ganha músculo e torna-se politicamente forte todo o setor da agropecuária do Ceará. Agora, são os carcinicultores do polo Morada Nova-Limoeiro do Norte que – organizados sob o pálio de uma associação legalmente constituída, de cuja diretoria fazem parte professores da UFC e do IFCE, que são também criadores de camarão – se sentam à meda com líderes do Poder Público na esfera federal para encaminhar suas demandas. 

Estamos a falar de um novo setor da economia primária cearense que se expande em alta velocidade. Há um fenômeno econômico e social desenvolvendo-se no estado, a respeito do qual a pesquisa acadêmica ainda não se manifestou. 

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Famílias tradicionalmente dedicadas à agricultura abandonaram a enxada e o roçado e agora são carcinicultores – o nome é bonito, o trabalho é duro, os cuidados são maiores, mas o retorno é três vezes melhor e mais rápido.

Criar camarão no sertão – usando a água salobra do subsolo, sem serventia para a dessedentação animal, ou a água doce das médias e pequenas barragens – virou moda, e a sua principal causa é mesmo o bom lucro obtido. 

A produção é toda consumida pelos bares, restaurantes e hotéis das cidades jaguaribanas. Os que produzem mais têm Fortaleza e as cidades do Cariri como destino do seu camarão. 

Detalhe: 90% de toda essa massa de novos criadores de camarão são de pequeno porte, pessoas de pouca instrução, mas dotadas de um extraordinário senso de oportunidade para os negócios.

No Polo Carcinicultor de Morada Nova-Limoeiro do Norte, alguns produtores são professores da UFC e do IFCE e, também, diretores da Associação dos Produtores de Camarão do Ceará (APCC). Eles sabem como encaminhar junto ao Poder Público as demandas dos seus colegas criadores de camarão, e isto não é pouca coisa.

O que se passa neste instante com a carcinicultura – que, do ponto de vista político, se fortalece – passa-se também com os demais setores da agropecuária cearense. 

Há menos de um mês, em Quixeramobim, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) reuniu dois mil pequenos produtores rurais do Sertão Central, num evento testemunhado por autoridades do governo e pelas lideranças da indústria do estado. 

Há mais: desde a manhã da última segunda-feira, 22, uma missão empresarial da Faec, integrada também por representantes do governo e da agroindústria cearenses, está no Paraná, visitando e conhecendo a operação das principais cooperativas de produção e de crédito daquele estado.

O objetivo dessa missão, liderada pelo presidente da Faec, Amílcar Silveira, é atrair o interesse das cooperativas paranaenses para algumas áreas da agricultura e da pecuária do Ceará. O modelo cooperativista do Paraná, que é o mesmo de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, é o declarado sonho de consumo da liderança do agronegócio cearense.

Havia 20 anos, a agropecuária do Ceará tinha nenhuma importância política, econômica e social. De lá até aqui, o esforço pessoal de meia dúzia de empreendedores e a indispensável ajuda do governo do estado – que começou criando a Secretaria de Agricultura Irrigada e depois criou a Adece com uma diretoria de apoio à agropecuária – tornaram o setor o ente que é hoje: robusto, vibrante, presente em todas as frentes, produzindo na ponta tecnológica, atendendo o mercado interno brasileiro e exportando seus diferentes produtos – até plantas ornamentais – para vários países.   

A iniciativa da APCC de buscar a ajuda do Poder Público federal para instalar em Morada Nova ou em Limoeiro do Norte um Centro de Diagnóstico de Enfermidades de Camarões, algo que agregará valor e segurança, revela o compromisso dos novos criadores de camarão com a qualidade do seu produto.

É, o mesmo compromisso que o também cearense Cristiano Maia – maior carcinicultor do país – teve ao instalar em Pendência, no vizinho Rio Grande do Norte, o maior laboratório do Brasil, do qual saem, diariamente, milhões de alevinos para pequenos, médios e grandes criadores da região Nordeste, principalmente do Ceará.

E por trás de todo esse esforço há, agora, o Centro de Inteligência do Agronegócio do Ceará, instalado pela Faec e em operação em seu edifício-sede no bairro do Jardim América. Esse centro dispõe, para quem quiser investir no universo do setor, de um infinito banco de dados que orienta os investidores e seus investimentos.

É um novo Ceará surgindo.