Afinal, a quem interessa o dólar a R$ 5,65?

Os exportadores estão felizes, mas os importadores amargam prejuízos. O presidente Lula sabe, ou deveria saber, que o que ele faz e diz repercute no mercado financeiro, que vive da especulação

Legenda: A moeda norte-americana valorizou-se, neste ano, 16%. Do jeito que vai, poderá bater na casa de R$ 6.
Foto: Reuters

Uma pergunta que começa a circular nos meios empresariais: a quem interessa a subida do dólar? A moeda norte-americana vem, nos últimos dias, numa escalada que chega a assustar os que trabalham e produzem no Brasil.

 E a culpa dessa escalada é do presidente Lula, que tem dito e repetido, diariamente, em entrevistas a emissoras de rádio, críticas duras contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Para quem vive da especulação, e muita gente só vive disto, as declarações de Lula são um presente de Natal fora de época. Desde 2022, o dólar comercial, ou seja, o dólar oficial, não alcançava uma cotação tão elevada: ontem, ele fechou cotado a R$ 5,65 e, do jeito que vai, pode bater nos R$ 6 ainda neste mês de julho.

Havia um mês, no dia 4 de junho passado, o dólar valia R$ 4,59.

Festa na comunidade exportadora; prejuízo para os importadores. E dose de inflação na veia da economia.

O presidente Lula sabe, ou deveria saber, que o que ele faz e diz tem imediata repercussão na Bolsa de Valores e no câmbio. E o que ele vem dizendo nos últimos dias é gasolina que ele joga no incêndio que começa a tomar conta da economia. 

Quando o dólar sobe, também sobem os preços de tudo o que é importado. E aí a inflação vem junto, e o que vai acontecer aqui está escrito nas estrelas: daqui a alguns dias, o preço do pão carioquinha, da farinha de trigo, da bolacha e do biscoito, o preço dos remédios, dos telefones celulares, dos televisores e, também, da gasolina e do óleo diesel, enfim, o preço de todos os importados vai aumentar. 

A consequência disto já pode ser visto no Boletim Focus, do Banco Central, que ontem elevou para 4% a previsão de inflação para este ano. Havia um mês, essa previsão era de 3,80%.

No esforço de reconquistar popularidade, que continua em baixa, o presidente Lula decidiu trocar Brasília por viagens pelo país. Hoje, ele está em Recife, em Pernambuco, depois de haver estado ontem em Feira de Santana, na Bahia.

O mercado financeiro aguarda a próxima entrevista de Lula para continuar especulando com o dólar.

Ontem, Lula disse que não dá para o presidente do Banco Central ser mais importante do que o presidente da República. E disse também que o próximo presidente do Banco Central, que ele nomeará até o fim do ano em substituição a Roberto Campos Neto, olhará o Brasil como ele realmente é e não como o mercado financeiro quer. 

Segundo o presidente Lula, quem quer o Banco Central independente é o mercado, e por isto mesmo voltou a dizer que lutará para tirar a independência da Autoridade Monetária, o que, porém, só poderá ser feito com a aprovação do Congresso Nacional, onde o governo não tem maioria. 

O problema do dólar alto, além das falas do presidente Lula, é a política fiscal do seu governo, que segue gastando mais do que permite a arrecadação. O governo não acena com redução de gastos, e isto estimula a subida do dólar.

Os economistas estão preocupados com o que se passará com a Previdência Social em virtude da decisão já anunciada pelo presidente Lula de não mexer na valorização do salário-mínimo acima da inflação. Isto terá enorme impacto nas contas da Previdência, podendo anular todos os efeitos positivos da reforma previdenciária de 2019, de acordo com os economistas.

Ontem foi um dia agitado no mercado: a Bolsa de Valores fechou em alta de 0,65%, aos 124.718 pontos. Essa alta foi motivada pelas ações da Petrobras e da Vale, que se valorizaram na boleia do aumento do preço internacional do petróleo e do minério de ferro.

O que virá ao longo desta terça-feira, dia 2 de julho, só o saberemos ao longo do dia.

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